O poeta infinito

Bianca Pontes
2 min readAug 2, 2022

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Eu sou poeta e talvez você me encontre em alguma praça, confuso demais para te reconhecer ou para explicar como fui parar ali. Meus versos parecem sem nexo às vezes até para mim, imagina para quem me lê.

Eu sou poeta e é muito provável que você não me leve a sério, o que eu sinto é o que eu escrevo e o que eu escrevo é exagero, puro drama disfarçado de beleza. Entretenimento pseudo-culto às custas do purgatório do mensageiro.

Eu sou poeta e entendo um pouco todos os que me abandonaram. Às vezes, eu também quero poder fazer isso. Mas a realidade, afinal, é bem simples: não consigo fugir de mim.

Eu sou poeta e costumo dizer/escrever coisas sem nexo, coisas óbvias, coisas tristes. Bebo minhas lágrimas e procuro significados semelhantes em palavras aleatórias. Despejo qualquer coisa, todas as coisas, em um teclado mecânico para desafogar o piloto automático.

Eu sou poeta e queria fugir. Não para viver, mas para morrer, para ter paz sem ter que explicar minha necessidade de solidão. O meu grito às vezes só ecoa no silêncio e o meu silêncio não é quieto aqui dentro.

Eu sou poeta e coleciono sorrisos, drinques, lirismos. À meia luz todo gato é pardo só para alguns. Minha espécie enxerga cores vibrantes em manhãs cinzas e aproveita a escuridão para traduzir aos cegos funcionais o que costumamos chamar de “mundo”.

Eu sou poeta e me deleito no caos. Tranquilidade é tédio e tédio não cria rima. Até para escrever noites calmas usamos as explosões de gases distantes que geram luz. Tudo o que é belo, percebemos, um dia foi confuso.

Eu sou poeta e visto eu-lírico. Um diferente a cada dia e os recém-descobertos, frequentemente; os mais desgastados só em casa. Meu armário tem tantas vozes que às vezes me pergunto se eu realmente preciso.

Não, é claro que eu não preciso. Mas eu sou poeta e o que eu escrevo é o que eu sinto e o que eu sinto é infinito.

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Bianca Pontes

Cancelei o diploma de direito pra viver de escrever. Escritora e leitora crítica.