cultura livre

Bianca Nascimento
4 min readSep 7, 2019

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O livro “Cultura Livre” de Lawrence Lessig busca explanar com a cultura e os meios de comunicação se utilizam da tecnologia e da criatividade. Lessig é escritor e professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Em seu primeiro capítulo ele fala sobre os criadores de conteúdo, iniciando com uma contextualização e exemplificação com as histórias eternizadas pela Disney. Os contos de fadas utilizado nos musicais infantis são retratações das narrativas criadas pelos Irmãos Grimm. Essas histórias, em sua essência, eram pesadas demais para o público infantil, mas ao serem reproduzidas pela empresa, foram contadas de uma maneira diferente, mais branda, e que agradou todos os públicos, principalmente por trabalhar com tecnologias novas para a época.

“Mas basta refletir um pouco mais para entender que existe muito valor aonde a “propriedade” não pode ser definida. Eu não quero dizer que “dinheiro não traz felicidade”, mas o valor é claramente parte de um processo de produção, seja ele comercial ou não. Se os animadores da Disney tivessem roubado um conjunto de lápis para desenhar Steamboat Willie, nós poderíamos dizer sem hesitar que isso é errado, mesmo sendo isso trivial e mesmo que passasse despercebido. Mas não há nada de errado, ao menos nos tempos atuais, no fato de Disney ter pegado idéias de Buster Keaton ou dos irmãos Grimm. Não há nada errado em pegar idéias de Keaton pois o uso que Disney fez de suas idéias pode ser considerado “justo”. E não há nada de errado quanto a pegar idéias das obras os irmãos Grimm já que as mesmas estavam no domínio público.”

Com esse exemplo, Lessing começa a trabalhar questões de propriedade e domínio público sobre uso de tecnologias e sobre narrativas, levando futuramente a outras questões que envolvem o tema, como a pirataria.

“Os criadores aqui e em todo lugar estão sempre e o tempo todo construindo em cima da criatividade daqueles que vieram antes e que os cerca atualmente. Essa construção é sempre e em todo lugar parcialmente feita sem compensação ou autorização do criador original. Nenhuma sociedade, livre ou controlada, jamais obrigou qualquer forma de pagamento ou exigiu permissão para todos os usos de criatividade Waltdisneyana que aconteceu. De fato, todas as sociedades tem uma certa parcela de sua cultura livre para ser usada — sociedades livres mais que outras menos livres, talvez, mas todas as sociedades possuem essa liberdade em algum grau.”

“Culturas livres são culturas que deixam uma grande parcela de si aberta para outros poderem trabalhar em cima; conteúdo controlado, ou que exige permissão, representa muito menos da cultura. A nossa cultura era uma cultura livre, mas está ficando cada vez menos livre.”

O segundo capítulo, “Meros copiadores”, introduz de fato como a criatividade pode ser de fato um recorde copiado de outra realidade. Para exemplificar, Lesseg fala sobre a popularização da fotografia e como ela levantou debates sobre a copia do que é real e do que não é público — já que a fotografia é o recorte de uma cena real feita em alguns segundos e que retrata a realidade exposta.

“No começo da história da fotografia, houve uma série de decisões judiciais que poderiam muito bem ter alterado a história da fotografia totalmente. As Cortes foram questionadas se o fotógrafo, amador ou profissional, deveria pedir permissão antes de tirar e revelar qualquer imagem que ele desejasse. A sua resposta foi não. Os argumentos em favor do requerimento de permissão irão soar incrivelmente familiares. O fotógrafo estava “tomando” alguma coisa da pessoa ou construção que ele estava fotografando — pirateando algo de valor. Alguns acreditavam que ele estava tomando a própria alma do alvo. Da mesma forma que Disney não está livre para pegar os lápis que seus animadores usaram para desenhar Mickey, também esses fotógrafos não poderiam serem livres para pegarem imagens de algo que eles imaginavam ter valor.”

“Felizmente para o Sr. Eastman, e para a fotografia como um todo, essas primeiras decisões foram favoráveis aos piratas. Em geral, nenhuma permissão deveria ser requerida antes que uma foto fosse tirada e compartilhada com outros. Na prática, a permissão é presumida, e liberdade é o padrão.”

Em seguida, ele utiliza a internet e os blogs como um meio de recorte pirateado para propagar o que é real. Isso vem se popularizando desde a real democrastização da web, na decada de 90.

“Mas diferentemente de qualquer tecnologia que apenas capture imagens, a Internet permite que tais criações sejam compartilhadas com um incrível número de pessoas, de forma praticamente instantânea. Isso é algo novo em nossa tradição — não apenas o fato de que a cultura possa ser capturada mecanicamente, e obviamente não que ela possa ser criticada e comentada, mas que essa mistura de imagens, sons e comentários possam ser rapidamente distribuída de forma praticamente instantânea.”

No terceiro capítulo, Lesseg fala sobre os catálogos.

“Sistemas de busca são uma medida da acessibilidade de uma rede. O Google trouxe a Internet mais para perto de nós pois melhorou de maneira fantástica a qualidade da pesquisa na rede. Sistemas de busca especializados podem fazer isso ainda melhor. A idéia dos sistemas de busca para “intranets”, sistemas de busca que pesquisam dentro da rede de uma instituição específica, é oferecer aos usuários um acesso facilitado ao material disponível na instituição. Empresas fazem isso o tempo todo, permitindo que os funcionários tenham acesso a materiais que pessoas de fora não podem acessar.”

Logo em seguida ele utiliza a história de Jess para introduzir a real questão da pirataria.

“Se podemos entender “pirataria” como o uso de propriedade intelectual dos outros sem permissão — ainda mais se o princípio “se tem valor, tem direito” estiver correto — então a história da indústria cultural é uma história de pirataria. Todos os setores importantes da “grande mídia” da atualidade — filmes, música, rádio e TV à cabo — nasceram de um tipo de pirataria bem definida. A história recorrente é como os piratas da geração passada se uniram ao country club dessa geração — até agora.”

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