Resenha do filme “A Montanha dos Sete Abutres”

Direção de Billy Wilder, 1951

Bianca Martim
3 min readOct 8, 2017

Os veículos de comunicação são conhecidos por relatar acontecimentos e divulgar informações de interesse público. Todavia, algumas vezes as pessoas se deparam com situações duvidosas e comprometedoras no que se refere ao trabalho investigativo e vazamento de dados por parte da imprensa, o que pode ser antiético. “A Montanha dos Sete Abutres”, filme lançado em 1951, dirigido por Billly Wilder, ganhou o Oscar de Melhor Roteiro por retratar as consequências de uma postura desonesta da imprensa.

A história se passa em Albuquerque, Novo México. O jornalista Charles Talum (Chuck), interpretado por Kirk Douglas, fora demitido de vários jornais por diversos motivos. Agora, ele busca por um emprego em uma pequena empresa de jornal e é contratado por Sr. Boot, chefe do Jornal de Albuquerque. Após um ano trabalhando, Chuck começa a se sentir desanimado por não ter escrito uma grande reportagem porque, para ele, nada de muito interessante acontecera nos últimos meses. Ao ser mandado para cobrir uma entediante corrida de cascavéis, Chuck faz uma parada em um posto de gasolina com seu assistente. Nesse momento, o jornalista é informado que Leo Minosa, personagem de Richard Benedict, está preso em uma mina conhecida por suas “maldições indígenas”. Dessa forma, o repórter acredita ter encontrado um acontecimento que renderia uma ótima e enorme matéria e, consequentemente, grande repercussão.

No entanto, a falta de ética do profissional transforma o trágico acontecimento em um verdadeiro “carnaval”, cujo objetivo é atrair curiosos e outros veículos de comunicação, esperando vender cada vez mais exemplares do Jornal de Albuquerque. Como se não bastasse, Cherles Talum faz de tudo para retardar o processo de resgate de Minosa, para que a notícia permanecesse na mídia diária por mais tempo. O resgate, que poderia ser feito em horas, demora uma semana para se iniciar, possibilitando maior oportunidade para Chuck relatar o caso e rendendo grande quantidade de fotografias. Além disso, a esposa de Leo Minosa é vista como uma mulher arrasada com a situação, quando, na verdade, se mostra indiferente, já que tinha intenção de abandonar o marido. O desfecho se dá quando Chuck começa a parecer arrependido por ter prolongado o resgate e tratar Leo Minosa como uma atração para a população. Porém, Minosa morre justamento no dia de seu aniversário de casamento.

Corroborando a ideia de Vitoria Pessatto, autora do site Grupo Virtua, “o filme é um retrato distante do que vemos até hoje na imprensa sensacionalista”. Isso porque, embora o filme seja considerado antigo, o tema abordado é bastante atual, uma vez que a comercialização da notícia pode se sobressair e a honestidade pode ser deixada em segundo plano. O resgate de Leo Minosa foi tratado como mera distração e entretenimento, visando cumprir interesses do jornalista e colocando a vida de Minosa em risco. A população, por sua vez, foi manipulada, já que consumiu uma mercadoria de origem antiética. Ao longo do filme, é possível analisar o comportamento de todos os envolvidos e trazê-los para os dias de hoje. Em um dado momento, Chuck declara que: “notícias ruins vendem mais”, o que confirma a ideia de como a notícia é comercializada.

“A Montanha dos Sete Abutres” é, certamente, um clássico que deve ser assistido não só por estudantes de jornalismo, como também pela população em geral, que é controlada constantemente pela mídia sem se dar conta. A falta de ética do profissional culminou na morte de Minosa, o que contrariou a afirmação do próprio Talum: “não faço as coisas acontecerem, apenas escrevo sobre elas”.

Resenha acadêmica feita por Bianca Martim para a Unimep.

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