Não confio bem na minha escrita técnica

#Bibliotequices
2 min readMar 15, 2019

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Não confio bem na minha escrita técnica.

Porque esse trem encapado e castrado não me dá prazer em deslizar dígitos no teclado por horas a fio e conseguir facim uns 10k de palavras para serem revisadas com aquela felicidade subindo de entre os pulmões, pela garganta e sair pelas ventoinhas das narinas (Ou oreia, se preferir).

Escrita técnica me engasga duma maneira que preciso estar em absoluto silêncio (Coisa que detesto também) para me concentrar naquilo que tou escrevendo. Quanto mais academicices, mais frustração sinto com essas redondices abstratas que não se transformam em formas admiráveis de se apalpar.

Escrita pra mim tem que ser sensorial. Ligar todos os sentidos em um estado de constante ritmo de tambores fluindo da corrente sanguínea e perturbando cada poro do corpo e avivando cada cantinho esquecido da mente. Escrita pra mim é fazer com quem tá lendo viajar na maionese, pirar no cabeçote, virar a página com um sonoro “Caraaaaaaaaaai o que foi isso?!”. Escrita pra mim é te fazer lembrar o porquê cê tá vivo e ter sorte de estar vivo de ler aquilo que te fez lembrar que está vivo.

Já a escrita técnica mata aos poucos aquilo que a gente busca na imaginação. É seco, é fino, é guiado, é como água sanitária espirrada de forma errada. Às vezes esse produto de higienização machuca as narinas, o paladar, nos faz chorar pelo odor forte. Confunde, dá alergia, descasca. É como sentenciar essa nobre Arte a uma execução rápida, de um machado afiadíssimo caindo aos poucos, nos momentos de pânico e antes de desmembrar cabeça do corpo, te lembra várias vezes o quanto você é incapaz de adentrar nesse padrão rígido e pré-estabelecido da educação formal .

Enquanto a escrita técnica não me mata na falta de criatividade (mas sim no ranger de dentes como se estivesse comendo serragem e ouvindo alguém passar as unhas em um quadro), me esforço. Se será satisfatório nem mais é a missão, mas o esforço de seguir o padrão, as normas, as formalidades e cumprir mais outra legislatura.

Afinal de contas: o canudo não vem sem sofrimento pelo que entendi. Nem que seja o de envenenar aos poucos o meu ofício, minha terapia (in)convencional, meu modo de viver favorito.

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Morgado, B., escrivinhando/divagando sobre as #Bibliotequices da vida de biblioteconomista/biblioteconômica. Facebook: https://www.facebook.com/bibliotequices/