Quem não chora não mama
— O povo, e o nosso corpo…
Em algum momento, ou muitos, da nossa vida confrontamo-nos com a nossa carência. Existem alguns momentos em que essa carência aparece com mais força. Seja o fim de um relacionamento, o início, ou mesmo o relacionamento que não chega, na forma, ou no tempo que desejamos. Tudo situações em que nos sentimos impotentes. É mais fácil ver essa impotência na relação com o outro. Connosco próprios dá sempre para negociar… Se não é agora é mais tarde. Há uma ilusão de que estamos em controlo — e esse “estar em controlo” permite-nos não olhar para a impotência. Manipulamos o tempo de forma a encontrar um “conforto”. Por vezes, sentimos culpa, e mesmo sabendo que ela não é real, agarramo-nos a ela como des(culpa) para escusar esse confronto, essa entrega.
No meu caso, a carência sempre foi vista e sentida como algo de que é prioritário fazer dieta. Algo que é negativo, que é prejudicial para a minha felicidade. A verdade é que quanto mais eu a rejeito, quanto mais eu a nego, mais ela insiste em me morder os calcanhares. Vejo que vem muito de um lado eu que eu não me sinto merecedor, mas tem mais… Com a morte do meu irmão vi-me obrigado mudar e a rever todas as minhas estruturas. E daí, venho percebendo que ela, a carência, tem um lado bastante importante na minha vida. Claro que não falo da carência inconsciente que me manipula sem eu sequer notar, fazendo-me regredir para um espaço infantil da minha criança que não foi vista, nutrida e amada.
A minha carência mostra-me quais são as áreas da minha vida que precisam da minha atenção. Se eu estou carente de comida, eu vou comer, se estou carente de dinheiro eu vou criar formas de suprir essa necessidade, mas se eu estou carente de contacto, eu não assumo e procuro esse contacto. Se eu estou carente de prazer, parece-me errado procurar esse prazer. Nessas áreas da minha vida, eu prefiro deprimir, refreando e desligando-me a minha necessidade, do que buscar e criar para mim. Por outro lado, estar disponível e com energia sempre foi uma necessidade para mim, Acho que desse conflicto nasceu a minha rigidez. Uma luta constante para me manter em cima do fio da navalha. De um lado, a ameaça da depressão, do outro, a ameaça da depressão dos outros, de quem “dependo”. Um equilibrio dinâmico-estático onde não existe lugar para um prazer e um amor maiores.
Cada dia, a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome
— Mahatma Ghandi
No outro dia decidi que me ia olhar ao espelho e confrontar-me com a minha carência, o desafio era aparentemente simples, olhar-me no espelho e dizer eu estou carente, essa é uma necessidade minha que eu posso cuidar. E… não fui capaz. Foram muitas as desculpas que apareceream, mas a sensação dominante era uma dificuldade em confiar que alguém ía estar lá. De repente senti um medo enorme de me vulnerabilizar. E não era com ninguém, era comigo mesmo. Como se eu não confiasse em mim. Porquê?
Se eu olhar para a minha história, existe um conflito forte entre negar as minhas necessidades em prol das necessidades dos outros, e, ao mesmo tempo, a necessidade de controlar esse cuidar das necessidades dos outros. Se por um lado não corresponder às expectativas dos outros — na minha infância os meus pais — me trazia uma rejeição, culpa, e uma sensação de forte de ser errado, estar 100% disponível para eles criava-me um pânico de que eu iria morrer, desaparecer, ser engolido. Hoje eu sou adulto, eu já não dependo dos outros para cuidar das minhas necessidades. Eu posso prover para mim, quer seja ao nível da sobrevivência quer seja ao nível da minha própria expansão. Mas esse lugar continua-me a parecer assustador. Sim, eu já dei muitos passos nessa direcção e hoje estou num lugar diferente, e ainda me assusto!
Nos entretantos, comecei a fazer um ciclo de Mandala, o que começou a mexer com o meu poder. Ao longo dos dias comecei a sentir nas minhas pernas essa capacidade de prover para mim, que antes só estava na minha cabeça. Olhando para trás, eu começo a perceber de onde vem a minha classificação negativa em relação à minha carência. Não tem a ver com a carência em si, mas com a forma como vi e vejo as pessoas lidarem com a sua carência. Eu não tenho referências de ver pessoas a lidarem com a sua carência de forma empoderada. Mas, antes, sugando os outros, fazendo-se de vítimas e descarregando as suas frustrações. Nunca era criativo.
E assim, mais uma vez, chego a um lugar em que me sinto grato pelas minhas escolhas, por viver com quem e como vivo. E não digo isto para vos vender nada. Eu não preciso de vos vender nada, e, na verdade, nem posso. Pois só nós podemos abrir as nossas portas… E isso não está dependente de ninguém… E rodear-me de pessoas que buscam o mesmo é uma grande ajuda!
E, no final das contas, o que é a carência afinal?
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“Carência significa falta. Se a gente sente falta de algo, naturalmente deveria ir em busca. Se eu tenho fome, busco alimento; se sinto falta de carinho, posso buscar carinho; se eu não me sinto reconhecido, busco validação. Portanto, ter alguma carência não é um problema em si, se a gente consegue ir em busca do que precisa. Eis a questão.” — Site Namastê
“E, por tudo isto, sofres, e te sentes como um barco sozinho num mar imenso e agitado. E não ignoro que, muitas vezes, sentes uma profunda carência de amor.” — Era Dourada, Osho
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Facilitamos um processo completo em que a terapia Bioenergética Individual é o trabalho central, assistida pela prática de Meditações Ativas de Osho e complementado por trabalho em Grupo de Bioenergética, estruturas de Meditação Social (AUM e todas as estruturas da Humaniversity, Energy Trance). Temos tambem uma área Corporate dedicada ao trabalho com empresas em desenvolvimento. O nosso centro em Lisboa oferece Experiência de vida Comunitária e Programas Residenciais intensivos, individuais e em grupo, assim como Workshops, recebendo gente de todo o mundo.