BRIX: como podemos construir um mercado de Bitcoin mais transparente?
Por Eloi Pattaro*
Depois de meses de trabalho e profundas discussões, foi com bastante entusiasmo que lançamos, no início de fevereiro, o Bitcoin Real Index (BRIX).
O BRIX tem dois principais objetivos:
- Oferecer, em tempo real, um valor representativo para o Bitcoin no Brasil;
- Iniciar um diálogo aberto com a comunidade sobre dados e transparência de mercado.
Neste artigo, tentarei explicar ambos propósitos da maneira mais clara possível.
Comecemos pelas seguintes perguntas: por que precisamos de mais um índice de preço do Bitcoin no Brasil? Por que o BRIX se torna necessário para lhe dizer quanto vale o seu, o meu, o nosso Bitcoin?
Para responder a essas questões, precisamos entender basicamente como funciona a metodologia de cálculo de índice mais comumente utilizada pelo mercado, que é, inclusive, o ponto de partida da própria metodologia do BRIX.
A metodologia padrão
Tanto nos mercados nacional e internacional, os principais índices seguem, de maneira geral, a seguinte metodologia de captura e processamento de dados de mercado:
- Obtém-se o valor do último negócio realizado nas exchanges;
- Pondera-se este valor em relação ao volume negociado por cada plataforma nas últimas 24 horas;
- Calcula-se a média ponderada entre as diversas exchanges que compõem determinado índice.
É preciso salientar e frisar que os dados utilizados para o cálculo supramencionado são obtidos a partir dos tickers de 24 horas que são declarados pelas próprias exchanges.
E qual o problema disso?
Entendemos que essa metodologia apresenta dois grandes problemas:
- Não é possível validar a legitimidade dos dados declarados nos tickers pelas exchanges.
- Devido ao histórico de alta volatilidade do preço do Bitcoin e a demora na propagação das oscilações de preço entre as exchanges, entendemos que o período de 24 horas utilizado como base para ponderação do cálculo diminui de maneira significativa a sensibilidade de um índice.
Qual a solução?
Atacamos os problemas apresentados de duas formas:
- Ao invés de confiarmos nos tickers declarados pelas exchanges, trabalhamos diretamente com o histórico das operações das plataformas, que não somente é difícil de ser manipulado, mas que também deixa evidências claras quando alguma ação maliciosa é realizada.
- Ao trabalharmos com dados brutos, podemos utilizar intervalos de tempo para o cálculo da ponderação significativamente menores, capturando de forma mais fiel as movimentações de mercado.
Resultados
Com base nestas breves explicações, esperamos dar à comunidade brasileira de Bitcoin um índice de preço mais fidedigno e confiável.
Já contemplamos para uma segunda versão do BRIX criar outros índices, que representem, por exemplo, a liquidez nos livros de ofertas das exchanges, assim como outros indicadores de interesse do mercado.
Contudo, este artigo também serve como um convite para a comunidade para iniciarmos um diálogo aberto. Gostaríamos de ouvir dos usuários e participantes do mercado o que gostariam de ver no BRIX e quais são as demandas que não estão sendo atendidas no momento.
Em segundo plano, mas tão importante quanto, por trabalharmos apenas com exchanges que fornecem o histórico de dados, esperamos iniciar um relacionamento com as plataformas que não disponibilizam essa métrica para caminharmos juntos em direção a um novo padrão de fornecimento de dados e transparência no mercado brasileiro.
O mercado de Bitcoin movimenta bilhões de dólares diariamente pelo mundo por meio das exchanges e outros tantos bilhões se considerarmos as negociações bilaterais peer-to-peer e nos mercados de balcão pelo mundo. Contudo, não existe um único padrão, nacional ou internacional, em relação à maneira de fornecimento e formato dos dados oferecidos pelas exchanges.
Podemos criar no Brasil o primeiro padrão nacional, com o qual todas as exchanges forneceriam o mesmo conjunto de dados sob um mesmo formato, possibilitando que a comunidade possa auditar de forma amigável e descentralizada a veracidade destes dados.
Além disso, uma boa política de transparência de dados pode ajudar a evitar situações indesejadas, como exchanges que fabricam volume ou ainda eventuais atos de irresponsabilidade com o dinheiro do cliente, situações que prejudicariam o mercado e a comunidade como um todo.
Não buscamos de maneira alguma ditar regras de como ou quais dados cada exchange deve fornecer. Queremos, contudo, iniciar um diálogo aberto e transparente com a comunidade para juntos construirmos algo melhor.
Não deixe de ler também nossa proposta de discussão sobre uma cartilha de boas práticas para as APIs públicas das exchanges e também nosso artigo completo sobre a metodologia utilizada pelo BRIX.
* Eloi Pattaro é bacharel em física pela Universidade de São Paulo. Estuda e está envolvido com crypto desde 2016. Atuou no mercado com ciência de dados em diversas startups, entre elas Nubank, Mira Educação e Foxbit. Hoje, atua como consultor em ciência de dados e como Senior Data Scientist na Nexa Digital.