Álvaro José e Galvão Bueno são os maiores narradores de medalhas olímpicas brasileiras em todos os tempos

Bolha Olímpica
8 min readAug 21, 2021

Levantamento exclusivo e inédito do Bolha Olímpica identifica 110 locutores de medalhas brasileiras nos Jogos, em um total de 608 narrações na TV e na internet desde Roma, em 1960

Álvaro e Galvão viralizaram com vídeos mostrando os bastidores de suas narrações de medalhas brasileiras durante os Jogos de Tóquio (Fotos: reprodução)

“Medalhas olímpicas são eternas”, disse o narrador Galvão Bueno, em uma de suas frases marcantes durante a cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 na TV Globo. O sucesso dos vídeos mostrando a reação dos locutores brasileiros durante as conquistas dos atletas brasileiros no Japão prova que as narrações desses momentos também ficam para sempre. O próprio Galvão viralizou transmitindo o ouro e a prata de Rebeca Andrade na ginástica, o bicampeonato olímpico do futebol e o bronze de Daniel Cargnin no judô. Assim como Álvaro José fez sucesso na internet irradiando o bronze de Alison dos Santos no atletismo pelo Bandsports.

E são justamente os dois — Álvaro e Galvão — os maiores locutores de medalhas brasileiras em Olimpíadas em todos os tempos. Em levantamento histórico inédito, o Bolha Olímpica tentou catalogar todos os narradores das conquistas olímpicas nacionais desde os Jogos de Roma, em 1960 (confira ao fim desta matéria, a metodologia que usamos para viabilizar essa pesquisa).

De lá para cá, são 16 Jogos Olímpicos transmitidos ininterruptamente pela TV e, desde 2008, também pela internet brasileira, sendo os três primeiros em videoteipes e melhores momentos exibidos com 1 ou 2 dias de atraso, e os demais, a partir de Munique 1972, ao vivo. Nesse intervalo, o Brasil já ganhou 142 medalhas, as quais podem ter gerado potencialmente 693* narrações diferentes, considerando que já houve Olimpíadas transmitidas por apenas uma emissora (casos de Roma 60, Cidade do México 68 e Munique 72) e até oito canais (recorde da Rio 2016).

Desse total potencial, conseguimos identificar os autores de 608 dessas narrações até o momento. Infelizmente, uma parte dessa história não está documentada na internet. Além disso, nada garante que as emissoras transmitiram todas as medalhas brasileiras nos Jogos dos quais detinham os direitos de transmissão — pelo contrário, a maior probabilidade é de que algumas, de fato, não tenham sido transmitidas, seja por falta de geração de imagens pelo comitê organizador dos eventos ou por desinteresse do próprio canal.

Álvaro esteve nas últimas 11 Olimpíadas de forma ininterrupta na TV brasileira (Foto: divulgação Band)

Os narradores

Por meio do levantamento, é possível afirmar que, no mínimo, 110 profissionais de Comunicação narraram medalhas olímpicas de atletas brasileiros na TV ou na internet. A maior quantidade de ouros foi reportada por aquele que ganhou não à toa o apelido de “Sr. Olimpíada”: Álvaro José já narrou nada menos que 12 desses títulos desde que estreou como narrador em Los Angeles 1984, pela Band (esteve em Moscou 80 como repórter). De lá para cá, transmitiu todas, sendo Londres 2012 pela Record e Tóquio 2020 pelo Bandsports. Estão documentadas na voz dele as conquistas de Joaquim Cruz em 84; Aurélio Miguel em 88; Rogério Sampaio em 92, Robert Scheidt e Torben Grael/Marcelo Ferreira em 96 e 2004; Rodrigo Pessoa em 2004 (narrada como prata, mas que virou ouro no ano seguinte devido à desclassificação do cavaleiro irlandês Cian O’Connor por doping de seu cavalo); César Cielo e Maurren Maggi em 2008; Arthur Zanetti em 2012; e Thiago Braz, quatro anos depois. Além disso, conseguimos identificar 11 pratas e 24 bronzes narrados por “Alvinho”, totalizando 47 locuções de medalhas olímpicas.

Já Galvão Bueno narrou 9 ouros e um total de 32 pódios nas oito edições em que atuou na função desde que estreou no evento, também em Los Angeles — só ficou de fora em Barcelona 1992, quando trabalhava na extinta Rede OM, e passou em branco em Londres, pois atuou apenas como apresentador do Sportv –. Estão documentadas na voz do titular da Globo as conquistas de Jaqueline e Sandra em 96; do vôlei masculino e de Ricardo/Emanuel em 2004; de Cielo e do vôlei feminino em 2008; de Robson Conceição e do futebol masculino em 2016; e de Rebeca Andrade e o bi do futebol, em 2021.

O top 10 de maiores narradores de ouros olímpicos brasileiros é completado, respectivamente, por Milton Leite (ex-ESPN e narrando Olimpíada no Sportv desde Pequim 2008), Carlos Fernando (ex-ESPN e no Bandsports desde 2004), Cléber Machado (Globo), Luiz Carlos Jr (Sportv), João Palomino (ex-ESPN), Sérgio Maurício (narrações pelo Sportv, mas hoje na Band), Luís Roberto (ex-ESPN e na Globo desde Sydney 2000) e Ruy Balla (ex-Record News). Mais uma vez, ressalta-se que essa ordem pode mudar à medida que identificarmos as narrações pendentes de inclusão no levantamento.

Veja ao lado o “quadro de medalhas” com todos os 110 narradores de conquistas olímpicas já identificados em nossa pesquisa.

Vale explicar que a lista inclui a atuação de profissionais que não eram locutores profissionais, mas transmitiram medalhas brasileiras, como o repórter global Ricardo Menezes, que documentou a prata de Douglas Vieira no judô em 1984.

A apresentadora Fernanda Gentil invadiu o “Encontro” com Fátima Bernardes, também na Globo em 2016, para anunciar que Poliana Okimoto havia herdado o bronze na maratona aquática após a desclassificação da nadadora francesa Aurélie Muller — neste caso, contamos a “medalha” tanto para ela quanto para Alex Escobar, que narrou a prova inteira, mas encerrou a transmissão antes de o 4º lugar da brasileira virar 3º.

Outro exemplo inusitado é o do nadador Fernando Scherer, o “Xuxa”, que, então comentarista da cobertura ao vivo do Terra em 2008 — a primeira Olimpíada exibida em vídeo por um portal de internet brasileiro —, acabou por narrar as medalhas de César Cielo nos 50m e nos 100m livre.

Clique aqui para ver a lista de medalhas narradas por cada locutor e aqui para conferir quais conquistas olímpicas brasileiras estão pendentes de identificação do narrador.

(Matéria atualizada em 19/06/2024, às 4h07)

Metodologia e agradecimentos

Para montar o quadro de medalhas adotamos os seguintes passos:

1) Busca por vídeos com as transmissões das medalhas olímpicas brasileiras nos sites e plataformas digitais das emissoras detentoras dos direitos de transmissão de cada Olimpíada. Atualmente, só a Globo e o Sportv têm direitos de manter esse tipo de conteúdo referente aos Jogos que transmitiram (sobretudo, na Globo Play, no Globosat Play e pelo projeto Memória Globo), bem como o portal R7, que mantém os VTs das transmissões feitas pela Record e pela Record News em Londres;

2) Reprises de medalhas olímpicas brasileiras exibidas pelas respectivas emissoras na TV. São exemplos disso a série “20 anos de pódio”, veiculada pela ESPN antes da Rio 2016, e os vários VTs exibidos por Sportv e Bandsports desde 2020 como aquecimento para os Jogos de Tóquio.

3) Escalas de transmissão de Globo, Sportv e Bandsports nos Jogos de Tóquio 2020, divulgadas em tempo real pelo Bolha Olímpica no Twitter;

4) Busca por vídeos com as transmissões das medalhas olímpicas brasileiras no YouTube, no Facebook e no Twitter — canais, páginas e perfis variados hospedam esse tipo de conteúdo;

5) Consulta a sites especializados na memória das transmissões esportivas brasileiras e aqui vão dois agradecimentos especiais: primeiro, ao jornalista Felipe dos Santos, autor da série de reportagens sensacional “Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira”, publicada no Surto Olímpico, referência em esportes olímpicos. Graças ao trabalho dele, conseguimos identificar os narradores de várias medalhas cujos vídeos não estão disponíveis na internet, bem como catalogar quais emissoras transmitiram cada edição dos Jogos desde Roma; o segundo agradecimento vai ao jornalista Edu César, editor do site Papo de Bola e sua seção Papo de Mídia, na qual estão catalogados os narradores de todas as medalhas de ouro do Brasil na Rio 2016, além de outros momentos anteriores postados na ótima seção “Raridade Rara”;

6) Colaboração de Álvaro José, Carlos Borges, Carlos Fernando, Cláudio Uchôa, Clayton Carvalho, Cléber Machado, Daniel Pereira, Eduardo Monsanto, Eusébio Resende, Fábio Salomão, Fernando Scherer, Guilherme Costa, Hamilton Rodrigues, Ivan Zinmermman, Luiz Alfredo, Marcelo do Ó, Marcelo Romano, Márcio Bernardes, Márcio de Castro, Márcio Pereira, Márcio Martins, Maurício Bonato, Milton Leite, Napoleão de Almeida, Octávio Muniz, Paulino Lamenha, Pedro Melo, Rafael Spinelli, Ruy Balla, Sílvio Lancellotti, Sílvio Luiz, Téo José e Wagner Lima, que nos informaram quem foram os narradores de várias transmissões então pendentes de identificação da Band, do Bandsports, da ESPN, da Globo, da Manchete, da Record, da Record News, do Sportv e do Terra. A eles, nossos sinceros agradecimentos.

7) Colaboração das assessorias de Imprensa da Band, do SBT e da ESPN, e dos Centros de Documentação da ESPN e da TV Cultura, que nos informaram quem foram os narradores de várias transmissões então pendentes de identificação das respectivas emissoras. A eles, também, nossos agradecimentos.

8) As redes sociais dos locutores que transmitiram as Olimpíadas em cada um dos veículos detentores dos direitos de transmissão, o que nos possibilitou descobrir narradores de várias medalhas brasileiras em Londres 2012 e na Rio 2016.

9) Busca por palavras-chave no X/Twitter, o que viabilizou identificar mais alguns registros de narradores de medalhas olímpicas – por exemplo, que Jota Júnior narrou a prata do futebol masculino em Los Angeles por meio de tweet do então comentarista da Band Eduardo Savóia.

10) Jornais de cada período olímpico, sobretudo as colunas de análise da TV esportiva — por exemplo, a “Canal Olímpico”, publicada pelo jornal O Globo diariamente em Atenas 2004 e disponível no Acervo O Globo.

*A conta de 693 potenciais narrações de medalhas olímpicas considera:

- a não transmissão pela Band dos bronzes da vela em Seul 1988 (também não exibidos por SBT e Manchete) e Atlanta 1996; e pela Globo das medalhas da vela de Montreal 76 (também não exibida pela Cultura), Los Angeles 84 e Seul 88, e do hipismo de Atlanta 1996.

- a não transmissão pela ESPN dos bronzes do hipismo em Atlanta 1996 e da vela em Sydney 2000. O Centro de Documentação do canal só encontrou registros desses eventos em sonorizações gravadas por repórteres, o que indica, segundo eles, que o evento não foi transmitido ao vivo nem teve narração em VT.

- a transmissão única por Band e Bandsports dos ouros da vela, do vôlei, do vôlei de praia e do hipismo, da prata do futebol feminino e do bronze do judô/Leandro Guilheiro em Atenas 2004; das pratas da vela e do vôlei de praia, e dos bronzes da vela, do vôlei de praia e do futebol em Pequim 2008; e dos títulos da vela e do vôlei de praia, da prata de Diego Hypólito e do vôlei de praia, e do bronze de Arthur Nory na ginástica na Rio 2016.

- a transmissão por dois profissionais diferentes: do ouro do atletismo de 2016 pelo Sportv; da prata do atletismo em 2000 na ESPN; e dos bronzes da maratona aquática em 2016 pela Globo e do atletismo em 2004 pela Band.

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Blog especializado em projeções e informações sobre o desempenho dos atletas brasileiros no ciclo olímpico e paralímpico de Paris 2024. Editor: Ícaro Joathan