Ode às escolhas ruins

Isabella Brando
3 min readMay 23, 2018

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Um título desses só pode ser um sinal de insatisfação crônica mal resolvida, né?

Bom, é isso mesmo.

Mas é isso mesmo segundo a lógica da nova eu, que, com muito ou pouco esforço, acaba tentando tirar lições (e um pouco de sarro, por que não?) de situações embaraçosas, tensas e aparentemente intoleráveis.

Depois de um relativo tempo vivendo na zona de conforto (zonas de conforto desconfortáveis também são zonas de conforto, que fique o registro), sair dela e me prestar à flutuação no multiambiente que é o mundo e o mercado e suas infinitas possibilidades exigiu de mim um certo (re)aprendizado na arte de desejar coisas e investir tempo e energia na aquisição delas.

Contatos estratégicos, informações bem formuladas, muitas ondas energéticas e vibrações positivas enviadas ao universo me fizeram alcançar uma ou outra coisa que figurava na minha lista de desejos e experiências que eu ansiava viver.

E, por incrível que pareça, algumas delas não passaram de escolhas ruins.

É claro que ver seus sonhos e visualizações se desfazendo como areia entre os dedos e te jogando na cara que toda aquela expectativa e sensação de enfim, começar a corrida rumo à felicidade-propósito-leveza-evolução não funcionam bem assim não é lá uma situação muito agradável. Mas o grande pulo do gato, para mim, foi aprender a entender qual é a minha parte em cada uma dessas desventuras.

Isso, via de regra, me levou à conclusão de que escolhas ruins são decisões tomadas em momentos não-tão-bons. E só isso.

Pensar de maneira simplificada me fez potencializar as sensações de resignação e autoperdão. De resiliência e paciência. Entender que erros de percurso podem ser apenas um desajuste no timing das coisas faz com que adquiramos uma nova consciência sobre a imensidão do tempo e de tudo o que ele pode nos oferecer — a seu tempo.

Para coroar os aprendizados que permeiam a temática, uma conversa recente me relembrou de um outro item, tão fundamental quanto os demais, mas com um valor agregado ainda mais impactante: muito mais do que reconhecer uma decisão equivocada, é preciso ter nobreza e humildade para deixa-la ir com a certeza de que, mesmo de forma torta e obtusa, havia ali uma importante lição e que, no momento em que se vai, o momento angustiante deixa impregnado em você um legado que, invariavelmente, vai provocar algum tipo de impacto na construção e evolução do seu ser daí em diante.

É claro que chegar a essa conclusão e manter em mente a necessidade de incorporar esse pensamento às conturbadas linhas de raciocínio que movem a vida não é uma tarefa tão fácil.

É claro, também, que, antes de chegar à iluminação, muita treva fez meus dias virarem noites e vice-versa.

No fim das contas, como uma outra ode, dessa vez ao pragmatismo, eis aqui meu cronograma de ações bem no momento em que eu concluí que havia investido meu tempo, estratégia e mentalização numa escolha inadequada para o meu novo self:

1. Autoironia;

2. Choros descontrolados;

3. Ímpetos fortíssimos de autossabotagem;

4. Doses de desequilíbrio emocional e algumas raivas descontadas em pessoas inocentes;

5. Cérebro em constante shrug; ¯\_(ツ)_/¯

6. Confusão mental (afinal, explica para você mesma que aquilo que você desejou loucamente por meses era, na verdade, uma cilada?);

7. Ansiedade pelo momento em que, assim como tudo na vida, o desconforto passa;

8. Desculpas para si mesmo (e algumas para a sociedade, em geral).

Agora junte à balança o que veio depois. Depois de conversas, escutas, momentos de exílio, noites mal dormidas e tentativas insanas de solucionar problemas com situações que poderiam ser ainda mais problemáticas:

1. Noção consciente de que o tempo habita o infinito;

2. Tentativas leais de confiar no processo;

3. Ensaios de momentos de compreensão e muita esperança;

4. Uma sensação renovadora de que algo de bom vai acontecer em decorrência dessa grande e intensa experiência;

5. Fim do peso nas costas.

Que bicho deu essa mistura, no fim das contas? Oh, sim. Eu ainda faço escolhas ruins. O que vem mudando a cada dia é minha capacidade de entender, absorver e deixar ir o que não me serve mais.

O que me permite até celebrar, vez ou outra, uma topada de dedão numa pedra que, sem querer, me joga um bocado mais longe do que meus pés cuidadosos sequer planejariam chegar.

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Isabella Brando

caminhando devagarinho rumo à pessoa que eu mais quero ser.