Como melhorar a qualidade de vida de pequenos fazendeiros com alta tecnologia?

Bruno AZEVEDO
7 min readOct 8, 2017

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O projeto

Thinkmilk é uma startup suíço-brasileira desenvolvendo dispositivos eletrônicos de baixo custo para análise de substâncias, traços de antibióticos e doenças no leite durante a ordenha, em tempo real, prevenindo epidemias e oferecendo ferramentas para que pequenos produtores consigam atingir padrões internacionais de qualidade.

Participamos de uma incubação em Genebra e vencemos o Social Impact Award, uma competição internacional de empresas com soluções de alto impacto social, recebendo um prêmio em dinheiro para ser investido integralmente no projeto. Porém, para recebê-lo, devemos estar presentes na cerimônia de encerramento, a SIA Summit 2017, de 31 de outubro a 4 de novembro em Belgrado (Sérvia), representando a Suíça (e, claro, o Brasil!) entre os vencedores de 18 países.

Nossa viagem de Genebra para Belgrado, bem como a estadia, será paga pela organização do evento. Porém, precisaremos pagar o trecho entre Brasil e Genebra e, infelizmente, não temos recursos suficientes, o que nos levaria a abdicar do prêmio não fosse o apoio de amigos que acreditam na iniciativa e nos convenceram a divulgar essa campanha massivamente. Gostaríamos do seu apoio para tornar esse sonho possível e contribuir para o cenário de startups de inovação tecnológica nascidas nos laboratórios de universidades (as chamadas “spin-offs”).

Com o valor arrecadado, vamos pagar a passagem aérea para a Sérvia. As metas subsequentes serão utilizadas para acelerar o desenvolvimento do protótipo, que será apresentado a um grupo de investimentos suíço em abril de 2018.

Recompensas serão oferecidas aos colaboradores e um material exclusivo (e em português) será desenvolvido por nossa equipe para divulgar o andamento do projeto e auxiliar outras startups brasileiras que querem explorar o ecossistema europeu de empreendedorismo — quando muito se fala em Vale do Silício e pouco ouvimos sobre as inovações no Velho Mundo.

O link para nosso crowdfunding (“vaquinha”) é logo aí embaixo:

Link: https://benfeitoria.com/thinkmilk

Como tudo começou

Meu pai é veterinário autônomo e o sustento da família vem do seu trabalho em fazendas produtoras de leite, acordando todas as madrugadas para ir à propriedade. Seu salário depende da quantidade de leite que conseguem produzir e vender, o que, quase sempre, não é suficiente para pagar as contas.

Foi em uma conversa com ele que eu descobri o quão difícil é a vida dos pequenos produtores no Brasil. Desde 2002, quando publicou a Instrução Normativa Nº 51 (e, anos depois, a Nº 62), o Governo Federal tenta definir critérios mínimos de qualidade do leite relativos à saúde das vacas, à higiene, à refrigeração e a resíduos de antibióticos. Esses limites fariam o leite brasileiro se tornar competitivo no exterior, aumentando as exportações de um país que é o 5º maior produtor de leite do mundo, com 23 milhões de vacas leiteiras, mas que exporta menos que países pequenos como a Malásia e a República Checa, importando 1 bilhão de litros por ano para suprir a demanda interna.

A fiscalização e o pagamento relativo à qualidade do leite levam fazendeiros a jogar fora milhões de litros de leite devido à mastite, uma doença que reduz a produtividade das vacas e torna o leite impróprio para consumo. Devido à falta de instrução e de tecnologia, os pequenos produtores não conseguem detectar o problema a tempo de isolar a vaca doente. Se o leite de uma vaca contaminar o caminhão da cooperativa que visita a fazenda diariamente para comprar o produto, o fazendeiro deve pagar o prejuízo e é interditado até que encontre a vaca doente e realize o tratamento com antibióticos.

Eu queria muito ajudar essas pessoas. Sei do esforço diário do meu pai como veterinário e imagino a vida que pequenos fazendeiros levam para, independentemente do tempo e da safra, alimentar seus filhos. Pesquisando soluções existentes para o problema, descobri que eram caras, importadas e, portanto, inacessíveis a esses produtores, que não conseguem se adaptar à Instrução Normativa e são os que mais sofrem com a falta de qualidade.

Investindo em inovação tecnológica

Thinkmilk nasceu nesse contexto. Somos uma startup composta por estudantes e pesquisadores de universidades renomadas no Brasil e na Suíça, desenvolvendo um dispositivo de baixo custo, que pode ser usado manualmente ou conectado à máquina de ordenha, para aumentar a produtividade, detectar doenças e reduzir custos e o desperdício de leite por pequenos fazendeiros. Custando até 25 vezes menos que as soluções existentes no mercado, o aparelho coleta informações (teor de substâncias, células somáticas e rastros de antibióticos) de vacas individualmente, oferecendo vídeos educativos e suporte online ao produtor para que ele saiba como proceder. Além da economia nas fazendas, o sistema reduz custos de logística, transporte e análises laboratoriais nas cooperativas, permitindo que elas saibam a qualidade e a quantidade de leite produzido pelas fazendas cooperadas antes de comprá-lo.

Com isso, nós invertemos a maneira como a primeira etapa da cadeia produtiva é realizada, trazendo as análises para dentro das fazendas, empoderando produtores com informação e garantindo a qualidade do leite comprado pelas cooperativas por meio de algoritmos antifraude. A análise eletrônica ainda reduz lixo laboratorial produzido em análises químicas tradicionais e permite o processamento de dados de maneira muito mais rápida que as existentes, garantindo ao fazendeiro o acesso remoto a informações relevantes por meio de um celular ou computador.

Funcionamento do dispositivo

Em 2016, iniciamos a prototipagem com o apoio de professores e funcionários da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos) e da Agência USP de Inovação. Porém, percebemos que precisaríamos de mais tração para fazer o que uma startup deve fazer: crescer rapidamente e gerar grandes lucros em um curto espaço de tempo. Consumíamos conteúdo sobre ecossistemas de startups no exterior e ouvíamos falar sobre parcerias entre a iniciativa privada e a universidade, sobre alunos de doutorado que transformavam suas pesquisas e teses em terapias, medicamentos e aplicações que recebiam investimentos milionários de grupos de capital de risco para sair do campo das ideias e se tornarem produtos úteis para a população.

Uma oportunidade de crescimento

Foi assim que, quando apareceu a oportunidade de ir para o país mais inovador do mundo, a Suíça, não pensamos duas vezes e, durante um ano, estabelecemos contato com colaboradores extremamente competentes e interessados no potencial do Brasil como mercado para soluções de impacto social por meio de alta tecnologia. Conhecemos o ecossistema de startups suíço por dentro, participando de workshops, de programas de aprimoramento, de competições e de uma incubação em Genebra.

Em um ano, fomos Top 25 Business Ideas em uma das maiores competições de startups da Suíça, a >>venture>>. Conquistamos 3º lugar no hackathon do maior evento de internet das coisas do mundo, o IoT Week, e participamos da International Create Challenge 2017, uma aceleração de 20 dias no coração dos Alpes. Fomos vencedores da competição de pitch do European Venture Programme, um programa de duas semanas que nos levou a quatro países (Alemanha, Suíça, Holanda e Dinamarca) para uma série de workshops e visitas a outras startups de um ambiente efervescente, o que nos ajudou a validar ideias, fechar parcerias, realizar projeções financeiras e concluir um plano de negócios. Agora, estamos nos preparando para conhecer o ecossistema de startups da Índia.

E foi com o plano de negócios, desenvolvido durante três meses no Impact Hub Geneva em uma incubação para projetos que usam tecnologia para atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que encerramos nossa aventura nesse “Vale do Silício europeu”, vencendo o Social Impact Award Switzerland.

O prêmio em dinheiro, de 4000 francos suíços (em torno de R$ 13.000,00) deve ser usado integralmente para custear o projeto, e já temos planos para essa quantia: finalizar o protótipo e levá-lo para apresentar a um grupo de investidores na Suíça em abril de 2018.

O pitch teve que ser por Skype… mas fomos bem representados em Genebra :)

Gostaríamos, então, de pedir sua ajuda! Falamos muito em empreendedorismo, em tirar ideias do papel, em fazer a Universidade de São Paulo se tornar realmente útil para o povo que a sustenta com impostos. Isso é possível, mas precisamos de um ambiente favorável para que estudantes se motivem a trazer boas ideias de laboratórios para o mundo real, onde elas se tornem uma terapia de realidade virtual para pessoas que sofreram AVC, uma análise inovadora de tumores em tecidos, um exoesqueleto para paraplégicos ou um sensor de pressão sanguínea para smartphones.

É por isso que assumimos o compromisso de não apenas melhorar a qualidade de vida de pequenos fazendeiros brasileiros, mas de participar ativamente da aproximação entre os ecossistemas europeu e brasileiro de startups e trabalhar para que a palavra “spin-off” faça parte do nosso vocabulário na universidade e a criatividade brasileira produza projetos escaláveis, sustentáveis, de alto impacto tecnológico e, principalmente, acessíveis à população, que busca novas soluções para antigos problemas.

Nosso trabalho para colocar mais um bloquinho no ecossistema brasileiro de startups de inovação está só começando :) Quer participar desse sonho?

Um abraço!

Bruno

Milk smarter.

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