+Memória: O Papel do Passado na Construção do Futuro | Brazil Conference 2019

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Créditos imagem: Natalie Carroll | Brazil Conference at Harvard & MIT 2019

Por Louise Cardoso de Mello*

Um tema inédito na Brazil Conference, o papel da Memória foi trazido ao debate nesta última edição como uma questão mais pertinente do que nunca, diante das últimas tragédias e dos acontecimentos recentes vividos no país. O painel +Memória: o papel do passado na construção do futuro teve o formato de uma entrevista coletiva moderada pela jornalista Cristina Serra, autora do livro Tragédia em Mariana, em conversa com o curador do Museu Nacional, João Pacheco de Oliveira, a liderança indígena, Sônia Guajajara, e o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais em Brumadinho, Pedro Aihara.

O painel pôs em questão as práticas governamentais de preservação do patrimônio histórico, sociocultural e natural do Brasil, partindo da avaliação dos impactos causados pelo devastador incêndio do Museu Nacional, ocorrido em setembro de 2018, bem como pelos trágicos rompimentos da barragem em Mariana em novembro de 2015, e em Brumadinho em janeiro deste ano. Essa reflexão incidiu no debate mais amplo sobre as repercussões da falta de memória histórica ou coletiva e da prevalência de uma política de esquecimento.

Dentre as principais questões levantadas, foram discutidos alguns dos fatores compartilhados por essas tragédias, como a negligência, a impunidade, as responsabilidades e as políticas de prioridades do Governo, assim como o impacto direto para a sociedade e as comunidades atingidas, com especial destaque para as populações indígenas, que foram afetadas não só pelos desastres ambientais, mas também pela catástrofe cultural da perda de importante parte de seu patrimônio material e sua memória. O painel também tratou sobre as perspectivas de revitalização, as reinvindicações sociais e os principais desafios atuais num contexto político marcado pela crise econômica, recortes de verba, revisão de leis de fiscalização ambiental e revogação de veículos institucionais de participação e representação social.

Nesse sentido, em relação aos crimes de rompimento das barragens de Mariana e agora Brumadinho, o licenciamento irresponsável e a autofiscalização foram apontados como principais problemas para a prevenção de novos desastres. Ao mesmo tempo, fez-se um apelo à celeridade dos processos judiciais para a indenização das vítimas e identificação de responsabilidades, divididas entre o poder público e as empresas privadas. No que diz respeito ao incêndio do Museu Nacional, por um lado, denunciou-se a intenção de criminalizar a administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro por uma negligência causada pelo seu estrangulamento orçamentário por parte do Governo Federal e pela precariedade de infraestrutura da Prefeitura do Rio de Janeiro, que nem sequer dispunha de água para apagar o fogo. Por outro lado, esse mesmo fogo simboliza um momento para renascer e recontar a História do Brasil a partir da memória e resistência dos povos indígenas, que deixam de figurar em vitrines de museus para atuar como protagonistas do nosso passado e do seu próprio futuro.

Assista ao painel completo aqui: https://youtu.be/q060pg5oQEI

*Louise Cardoso de Mello é historiadora e antropóloga, e atualmente, é pesquisadora visitante no Departamento de História da Universidade de Harvard. Possui mestrado em História Indígena da América Latina (Universidad Pablo de Olavide, Espanha) e é candidata a doutora em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi coordenadora do painel +Memória: o papel do passado na construção do futuro, na Brazil Conference 2019.

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Brazil Conference at Harvard & MIT

Conferência realizada pela comunidade brasileira de estudantes em Boston para promover o encontro com líderes e representantes da diversidade do Brasil.