Tezos, a blockchain com evolução programável

Conheça uma das mais importantes inovações dos últimos anos

Tezos Brazil
12 min readNov 26, 2019
Atenas, considerada o berço da civilização e democracia ocidental

O que é Tezos?

Tezos é uma criptomoeda baseada em blockchain e também uma plataforma de contratos inteligentes que permite a construção de aplicativos descentralizados.

Seu principal diferencial em relação a outros projetos é uma funcionalidade conhecida como “auto-governança”, o que permite que o protocolo passe por atualizações de forma automática, através da escolha de uma proposta eleita por votação online entre os participantes da rede.

Dessa forma, pode evoluir organicamente, fornecendo a alternativa ideal de longo prazo para transações digitais, já que oferece soluções reais para os desafios da governança, segurança e escalabilidade, que a tecnologia blockchain tem enfrentado historicamente.

A unidade da moeda de Tezos se chama “tez”, tanto no singular quanto no plural. Seu símbolo de negociação nas exchanges, entretanto, é “XTZ”.

Um pouco de história

Tezos foi proposta em 2014 por Arthur e Kathleen Breitman. Ambos com origem no mercado financeiro e interessados nas novas tecnologias de blockchain que começavam a surgir à época. Embora grandes entusiastas do Bitcoin e do Ethereum, desde muito cedo puderam prever com bastante clareza os problemas de governança e escalabilidade que ambas as plataformas enfrentariam no decorrer dos anos.

Em 02 de setembro de 2014, sob o pseudônimo de L.M. Goodman, Arthur Breitman lança o whitepaper “Tezos — a self-amending crypto-ledger” (Tezos, um livro-razão criptográfico com atualização automática). Arthur finaliza o texto com a frase: “O verdadeiro potencial de Tezos está em colocar seus detentores encarregados em decidir o protocolo que sentem lhes servir melhor”.

O pseudônimo que Arthur usou foi inspirado em um jornalista da Newsweek que escreveu um artigo sobre a suposta descoberta da identidade de Satoshi Nakamoto (criador do Bitcoin) em 2014.

Em 2017, a recém-instituída Tezos Foundation, faz o maior ICO (oferta inicial de tokens) da história das criptomoedas até então, tendo levantado aproximadamente 232 milhões de dólares em contribuições, ao preço de 47 centavos de dólar a unidade.

Um ano depois, em junho de 2018, foi lançada uma rede de testes (denominada Betanet). Então, em 17 de setembro do mesmo ano, a Betanet migrou para Mainnet, rede principal, que permaneceu no ar.

A iniciativa de criar Tezos foi desde o princípio fundamentada em descentralização. O desenvolvimento do código era de responsabilidade de uma empresa denominada Dynamic Ledger Solutions (de propriedade de Arthur e Kathleen), baseada nos Estados Unidos. Mais tarde o desenvolvimento do software continuou em Paris, França. E a Tezos Foundation foi criada na Suíça (país que à época já era um dos mais abertos para a inovação das criptomoedas). A responsabilidade da fundação era realizar a oferta inicial de tokens, captar e administrar os recursos arrecadados.

A motivação para criar algo novo

Bitcoin e Ethereum, embora inovadores, não eram eficientes. Melhorias e correções necessárias no protocolo dessas emblemáticas moedas eram de difícil consenso, pois não havia um mecanismo intrínseco que organizasse e automatizasse tal tarefa.

O Bitcoin não era escalável. Portanto, quanto mais se aproximava do objetivo da adoção em massa, mais ineficiente se tornava sem que houvesse atualizações.

No seu caso em específico, para evoluir era preciso dirimir discordâncias que ocorriam entre quatro grandes grupos distintos, cada qual com seu próprio interesse em relação aos rumos que a moeda deveria tomar: usuários, mineradores, programadores e exchanges.

Esse conflito de interesses acabou por criar rupturas, o que ficou conhecido como hard-forks, que são bifurcações ao longo da história da moeda, onde duas moedas distintas são criadas — o que não é bom para os envolvidos e representa muita insegurança para investidores institucionais.

Ethereum, por sua vez, representou uma evolução incrível sobre seu antecessor, acrescentando novas funcionalidades (como por exemplo os smart-contracts). Agora, além servir para reserva de valor e meio de pagamento, a rede era “programável”, podendo dar base a aplicações descentralizadas. Entretanto, a novidade trouxe poder demais aos programadores, em detrimento de um item essencial: segurança.

Um caso famoso ficou conhecido como “The DAO Hack”. DAO significa “Organização Autônoma Descentralizada”. Foi um dos projetos de maior expressão criado em Ethereum e consistia numa espécie de empresa de venture capital digital, onde pessoas com novas ideias submetiam projetos e investidores entravam com dinheiro (em criptomoeda) para patrociná-los. Um curador analisava os projetos e então os submetia para que a comunidade decidisse, por voto, quais eram merecedores de patrocínio. Os recursos financeiros de tal organização eram mantidos e movimentados através dos algoritmos dos próprios contratos inteligentes publicados na blockchain da Ethereum. Infelizmente, hackers mal-intencionados exploraram (e encontraram) brechas de segurança no software e foram capazes de desviar cerca de 50 milhões de dólares das contas do projeto.

Uma ampla discussão foi realizada na comunidade Ethereum à época, sobre qual medida deveria ser tomada em relação ao desvio criminoso. Uma delas consistia em intervir no histórico da rede blockchain da Ethereum e reverter as transações, o que para grande parte dos usuários, representava uma verdadeira heresia, uma vez que um dos princípios do blockchain é a imutabilidade.

E embora o blockchain seja a princípio, um fenômeno que pressupõe descentralização, nesse caso em específico, a Fundação Ethereum tomou a decisão de intervir na rede, o que irritou parte dos usuários e gerou o famoso hard-fork do Ethereum, criando duas moedas distintas: Ethereum Classic (ETC) e Ethereum (ETH).

As razões que levaram a esses acontecimentos, foram corretamente previstas por Arthur Breitman, que, muito precocemente, percebeu que embora Bitcoin e Ethereum tivessem sido inovações fantásticas naquela época, careciam de algo importante chamado governança.

A solução proposta por Tezos

Tezos veio como uma proposta de blockchain que dispusesse da capacidade nativa de atualizar seu protocolo sozinha, a partir do resultado de uma eleição online realizada online em 3 turnos. Esse processo foi batizado com o nome de “self-amendment”.

Essa possibilidade de adaptação conforme as mudanças faz acreditar que o protocolo Tezos poderá estar presente ao longo de décadas, o que representa importante atrativo a investidores institucionais, empresas privadas e governos. Já dizia Charles Darwin, autor da teoria da evolução das espécies, que não é o mais forte nem o mais inteligente que sobrevive, mas aquele que melhor se adapta às mudanças do ambiente. Faz sentido e soa muito familiar se considerarmos o contexto em que se encontram Bitcoin, Ethereum e Tezos.

A governança nativa de Tezos já foi posta à prova por duas vezes e logrou êxito. Os participantes da rede passaram por duas eleições com duração de três meses cada. O primeiro resultado foi a mudança para o protocolo Athens e, logo em seguida, migramos para o protocolo Babylon. Até o fechamento do texto deste artigo, o nome do próximo protocolo é tido como Carthage. Por convenção, cada proposta de amendment recebe o nome de uma cidade, sempre obedecendo a sequência alfabética nas iniciais.

Verificação formal

Outra característica de destaque é que Tezos é preparada para que seus contratos inteligentes passem por processo denominado verificação formal. Verificação formal é um método através do qual é possível garantir matematicamente que um programa de computador realizará fielmente aquilo para o qual foi criado, sem bugs ou falhas. Muito utilizado na indústria aeroespacial e médica, onde quaisquer erros de software poderiam incorrer na perda de vidas humanas.

Proof of Stake nativo

Moedas digitais podem ser caracterizadas de acordo com o processo pelo qual é feita sua segurança de rede. Há várias formas de se fazer a segurança de rede de uma blockchain. O que conhecemos como segurança de rede é o processo onde os participantes da rede contribuem para definir se uma transação é ou não válida.

No Bitcoin e Ethereum, a segurança da rede é feita por um processo chamado proof of work. Nele, participantes competem para descobrir em menor tempo uma solução para um enigma matemático. Aquele que o faz primeiro é recompensado financeiramente, incentivando a participação das pessoas na rede. Esse processo envolve o consumo de uma grande quantidade de energia elétrica, levantando discussões sobre a viabilidade do método no longo prazo.

Tezos, por outro lado, já nasce funcionando com o conceito de proof of stake. É um sistema de segurança de rede onde os participantes aceitam utilizar seus próprios recursos financeiros como reservas garantidoras, necessárias para realizar a confirmação de transações. O método não exige equipamento especial para a participação na rede e não gera gastos de energia elétrica além do ordinário. Usuários são sorteados aleatoriamente para participação e são remunerados com unidades da moeda (tez) caso realizem operações de assinatura de bloco ou endosso de transações.

É possível “minerar” Tezos?

A resposta é não. No Bitcoin e Ethereum, a atividade conhecida como “mineração” é a que gera renda para os participantes da segurança da rede.

Em Tezos, a atividade equivalente se chama baking.

Baking em português significa panificação ou confeitaria. Ocorre que o criador de Tezos tem origem francesa. A França possui as famosas pâtisseries e boulangeries, que são suas mais tradicionais padarias e confeitarias, reconhecidas na gastronomia internacional. Portanto, os desenvolvedores criaram esta inusitada terminologia para se referir à atividade de assinar novos blocos em Tezos. Bitcoins são “minerados”. Tez são “assados” (ou “cozidos”). A atividade gera renda para os participantes.

Tornando-se um Baker de Tezos — Quem pode participar?

Tezos funciona sob um sistema denominado delegated proof of stake (DPOS). Também se diz que o sistema pode ser considerado liquid delegated proof of stake (LPOS), uma vez que é possível mudar seu “representante” a qualquer tempo. Vamos esmiuçar o funcionamento.

Tezos representa, ao mesmo tempo, um protocolo econômico e político. Uma unidade da moeda é como se fosse a união de dinheiro e voto. Talvez uma forma simples de enxergar seria dizer que é uma representação digital de uma unidade de poder.

Um baker de Tezos é uma espécie de representante dos indivíduos. Sua atividade econômica é participar da segurança da rede, mas sua atividade política é representar os anseios dos seus delegators. Vamos explicar.

Ocorre que, para ser um baker de Tezos, embora não seja necessário nenhum tipo de autorização de alguma entidade certificadora oficial (pois não há), é exigida uma reserva financeira mínima (conhecida como stake ou bond) de 8000 tez. Hoje, o montante equivale a aproximadamente R$40 mil.

Aparentemente parece um fator limitador, talvez até gerador de concentração financeira. Mas, na verdade, um mecanismo foi criado em Tezos a fim de permitir a participação de qualquer detentor, não importando a quantidade que possua de stake. Chama-se delegating (ou delegar).

Pelo mecanismo de delegação, aqueles que não tiverem o mínimo necessário para ser um representante na rede (8K tez), podem delegar seu montante (por menor que seja) para que alguém o faça. O interessante aqui é que, os recursos jamais saem da carteira dos indivíduos. Nada é transferido para seus representantes. Na verdade, eles utilizam suas carteiras digitais apenas para informar quem é seu representante em um dado momento (consistindo apenas em um apontamento).

O voto em Tezos é indireto. Muito parecido com o que ocorre nas eleições americanas. Vota-se num representante que vota pelo indivíduo na eleição. A diferença aqui é que, caso não se concorde com o voto do seu representante nas propostas apresentadas, é possível mudar de representante a qualquer tempo (daí a terminologia liquid).

Imagine que você elegeu um senador e que durante o mandato ele comece a apoiar projetos com os quais você discorda. Imagine agora que você pudesse, ainda durante o mandato, mudar, então, o senador que o representa. Assim funciona a democracia em Tezos. E, quanto menos representados o “senador” possuir num dado momento, menos votos ele tem para aprovar uma proposta (seu poder político diminui).

Então, para ficar claro: Há dois papéis distintos na rede Tezos. Pode-se ser um delegado ou um delegador. O delegado é quem representa. O delegador é o representado. O delegado participa econômica e politicamente da rede, diretamente. O delegador também participa econômica e politicamente da rede, mas de forma indireta.

Ao delegar seu montante, o indivíduo também é remunerado por estar participando da rede. A remuneração inicia após cerca de 36 dias do ato e, a partir daí, o indivíduo recebe recompensas a cada 3 dias.

Todo baker é um delegado. Ele participa tanto da segurança da rede quanto das eleições, votando diretamente nas propostas elegíveis. É obrigação de um baker votar pelos seus representados e distribuir recompensas advindas de sua atividade na segurança da rede.

O processo de governança de Tezos — Como funcionam as eleições?

Tezos possui um componente central da arquitetura de software da plataforma denominado protocolo. Ele é basicamente um conjunto de regras de validação da rede. É ele que é alterado conforme o resultado das eleições.

O protocolo, representado pelo círculo verde, é só que muda

A dinâmica das eleições segue um rito. Todo o processo dura três meses.

Primeiro, um desenvolvedor apresenta uma proposta de alteração no protocolo. É um código-fonte aberto de computador, disponível para download nos sites que desenvolvedores usam para armazenar seus programas (github).

Após um período de apresentação da proposta à comunidade e ampla discussão das vantagens e desvantagens da mudança, é aberta a fase em que os delegados podem votar. Geralmente os delegados anunciam como votarão nas propostas e então seus representados podem concordar ou não, caso em que podem simplesmente mudar de representante (diminuindo o poder de voto do delegado instantaneamente).

Uma vez selecionada a proposta ganhadora, das elegíveis, ocorre um novo turno de votação. Mas, dessa vez, para obter aprovação da maioria absoluta (80%) sobre se a proposta deve seguir adiante para teste ou não.

Na hipótese de passar para a próxima fase, então a proposta de mudança é testada em uma rede paralela (testnet). Os resultados dos testes são apresentados à comunidade que, em último turno, decide se a proposta será eleita para o ambiente de produção ou não.

Passadas as três fases, a rede determina automaticamente a data em que o novo protocolo substituirá o antigo. Quando chega o momento agendado, o software que roda nas máquinas dos bakers altera automaticamente o protocolo, substituindo antigo pelo novo. O protocolo antigo cessa, isto é, os nós da rede deixam de processar os blocos das regras antigas e o novo conjunto de regras é o único tido como válido. É exatamente por isso que não há bifurcações (hard-forks) na rede Tezos, porque a rede do protocolo antigo simplesmente deixa de existir à partir desse ponto.

Como adquirir Tezos?

Atualmente ainda não há corretora de criptomoedas no Brasil que tenha Tezos para aquisição em Reais. Portanto, a única forma disponível para comprar Tezos é através do uso de exchanges internacionais. No famoso site CoinMarketCap, pode-se encontrar Tezos na 15ª posição do ranking (no fechamento do texto deste artigo). Basta clicar sobre o nome da moeda para ter acesso à lista de exchanges onde se pode adquiri-la.

Armazenando Tezos — carteiras de criptomoedas existentes

As carteiras (wallets) mais conhecidas e usadas pela comunidade para armazenar unidades de Tezos (tez) são: TezBox, Galleon, Magnum Wallet e Kukai. Há também uma wallet para Android chamada Tezzet. Carteiras baseadas em dispositivo físico (hardware wallets) que podem ser usadas para armazenar Tezos são: Ledger Nano S ou Trezor Wallet.

Contratos Inteligentes

Um contrato inteligente é um programa de computador que é executado numa blockchain, a partir de algum evento externo e de forma descentralizada. Variáveis do programa podem conter dinheiro e algoritmos podem distribuí-lo, segundo um critério.

Aplicações de contratos inteligentes incluem:

• Seguros

• Testamentos

• Agendamento de pagamentos regulares

• Planos de saúde

• Jogos

• Economia em veículos autônomos

• Tokenização de ativos físicos, compra e venda de propriedades

• Eleições

• Financiamentos

A rede Tezos é uma plataforma que trabalha com contratos inteligentes. Para publicar contratos em Tezos, é preciso criá-los através de uma das linguagens de desenvolvimento de smart contracts disponíveis. As linguagens mais usadas pela comunidade Tezos hoje em dia são:

Michelson (assembly-like)

Liquidity (Ocaml)

SmartPy (Python)

Ligo (Pascal)

Morley / Lorentz (Haskell)

Archetype (domain-specific)

Fi (Javascript)

Tokenização de ativos físicos

A plataforma Tezos é particularmente apropriada para uma novidade tecnológica que está surgindo em todo o mundo, chamada tokenização de ativos físicos.

Tokenização de ativos físicos é a possibilidade de representar digitalmente, através de uma rede blockchain, frações de objetos do mundo real. É possível tokenizar imóveis, obras de arte, ações da bolsa de valores, títulos, direitos de assistir aulas, etc. A fração (token) pode ser negociada e ter sua propriedade transferida de um indivíduo para outro com muito mais eficiência do que pelos meios disponíveis até a presente data.

Acredita-se que o mercado financeiro tradicional migrará para um ambiente totalmente tokenizado nos próximos anos. Estima-se que tokenização facilitará o acesso de pessoas comuns ao mercado de capitais

Já há diversos projetos de tokenização de ativos acontecendo em Tezos. Muitos deles no Brasil. A tecnologia está em plena fase de desenvolvimento e representa um novo mundo de oportunidade de negócios e trabalho. Uma promissora economia, completamente nova está surgindo.

Conclusão

Vivemos hoje a infância de uma tecnologia revolucionária, que abre possibilidades de aprendizado, trabalho e investimento.

Tezos foi concebida com o objetivo de melhorar seus antecessores, Bitcoin e o Ethereum. Ao que tudo indica, houve êxito nessa iniciativa.

Os pioneiros desbravadores, embora encontrem os maiores obstáculos, por outro lado têm acesso às melhores oportunidades. Dedicação e estudo hoje serão recompensados num futuro muito próximo.

Seja participando como investidor, desenvolvedor ou entusiasta na comunidade, a demanda hoje é grande e há espaço para uma enorme diversidade de profissionais.

Há muito o que aprender. E é objetivo da Tezos Brazil trazer esse conhecimento para o público brasileiro, através de uma linguagem clara e objetiva, com material em português escrito por quem entende do assunto, de maneira bastante didática.

Ao longo do tempo, publicaremos uma série de artigos relevantes, a fim de familiarizar a crescente comunidade Tezos que está surgindo no país.

--

--