Encapsulando o caos: como estruturar um processo criativo de apresentação e montar uma narrativa consciente

Bruna Avellar
Apple Developer Academy | UFPE
7 min readApr 18, 2023
Imagens reais de dentro da cabeça da autora

Se tem uma coisa que eu internalizei dentro desses 14 meses fazendo parte da Apple Developer Academy é que o processo de aprendizado (aquele que mais deveríamos confiar) é uma mar de incertezas. Porém, se existe uma certeza ao final de cada desafio é que: 1) vamos todos beber cervejinha no pós e 2) precisamos entregar um Pitch.

Bem, lá estava eu, jovem designer e dev-wanna-be, parada em frente ao computador após passar 2 horas tentando adicionar uma fonte externa no X-Code. Já estávamos nos últimos dias para a entrega final do primeiro Challenge em grupo e as demandas não pareciam diminuir. Entre um surto e outro, fui rever o nosso tão suado cronograma — todo remexido, o póbi — e… eita cara*, e o pitch?

Mas sem problemas (aaa aaaa — in my anxious voice), como boa academer/comunicadora tenho prática na criação de narrativas interessantes em pouco tempo, o que acabou me levando a tomar a frente da apresentação. A única questão é que quando se trabalha em grupo as tomadas de decisão são um pouquinho diferentes. Sempre fui caótica sozinha, mas naquela situação era necessário explicar as lombras e tentar enquadrá-las em uma estrutura para que as 4 mentes pensantes do grupo estivessem alinhadas e confortáveis em contribuir — e detalhe, o pitch precisaria ser em inglês. Ou seja, pela primeira vez eu precisei usar meu tempo para estruturar o caos da minha cabeça e compartilhá-lo de forma que faça sentido.

Fun fact sobre o universo do Design: embora o nossa área esteja essencialmente repleta de metodologias e formas processuais, nós designers temos muita dificuldade em explicar as motivações por trás de cada decisão projetual. Por sermos um curso muito prático, não somos habituados a justificar as razões de nossas escolhas, tecnicamente. Estudamos processos mas não sabemos bem compartilhá-los 🤡.

Assim, abraçando as lombras para explicá-las pude descobrir se até então eu tinha dado muita sorte (spoiler: nunca foi sorte) ou se o que eu faço e considero “criativo” possui uma lógica padrão por trás (spoiler: tem sim).

Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar

Então bora! Após essa longa introdução, compartilho com vocês 5 dicas aleatórias do que compreendi sobre Pitch (ou vender o seu peixe, in Nordestiny’s language) revisitando meu próprio processo semi-caótico — She’s so crazy, I love her.

5 etapas de um caos encapsulado:

1. Conheça seu público

O primeiro passo para iniciar a estrutura da sua apresentação — lembrando que estou falando do contexto de Pitch para Apple Developer Academy — é entender quem serão as pessoas presentes e o que a sua solução tem em comum com elas (ou de diferente) e enxergar as oportunidades em cima disso.

As pessoas têm conhecimento teórico sobre o que você irá explicar? São pessoas que têm uma ligação com o contexto abordado? Já conhecem a sua solução (algo super comum no contexto ADA)? Caso sua resposta seja positiva, você possui a oportunidade de ser específico e falar de coisas menos óbvias. Caso seja um cenário de pouca identificação com o tema, você pode abraçar o fato do público não entender tanto a fim de guiá-los para o esclarecimento, sendo explícito sobre isso ou usando analogias.

2. Analogias em ciclos

No geral, analogias são ótimas para trazer outras perspectivas sobre um tema, nos fazendo fixar melhor a informação. Quando precisamos explicar algo complexo ou distante do público elas se tornam ótimas formas de engajamento (só cuidado para não usá-las de forma confusa e acabar distanciando as pessoas da realidade muitas vezes urgente do problema em questão).

Diferente de outras apresentações, o pitch precisa contar uma história com começo, meio e fim — ou pelo menos com X fases diferentes. Todo processo de um projeto, seja ele linear ou não, possui estágios. E quando apresentamos, por mais que nossos processos/soluções ainda não tenham um fim, eles possuem um final momentâneo, um estágio do agora. E tudo isso serve para criarmos nossas analogias. No mundo, quais experiências são desenvolvidas em ciclos, com começo, meio e fim? O desenvolvimento de uma planta, uma montanha russa, uma rotina de trabalho, etc.

3. Eterno Retorno a proposta de valor

Como você gostaria de ser lembrado? Ignorando o teor Coach dessa frase, faz sentido pensá-la quando estamos desenvolvendo qualquer pitch. Quais palavras, frases, mensagens a sua apresentação vai deixar para as pessoas? Se você não sabe ainda, faz sentido pensar um pouco mais na proposta de valor.

Em meios gerais, uma proposta de valor tem o objetivo de levar ao cliente (no nosso caso, o público) uma ideia clara, concisa e transparente de como determinado negócio pode ser relevante para ele. Quando estamos falando de pitch, geralmente montamos uma estrutura básica de [Cenário atual > Apresentação do(s) problema(s)>Momento “E se…” >Apresentação da solução > Demonstração + Mensagem final+ Tagline]. O que proponho aqui é, independente da estrutura, sempre coloque um pouco da proposta de valor em cada um desses momentos, seja através de elementos visuais ou repetições da mensagem.

DICA EXTRA: Documentação é legal. Sempre que possível, crie um dicionário do universo da sua solução, quais as palavras que mais se repetem durante brainstorms e testes com o usuário e quais são as frases mais ditas. Isso tudo vai auxiliar no processo de naming, na composição visual (incluindo memes) da apresentação, na TagLine, no seu diferencial, etc.

4. Valide seu storytelling

Independente de onde você esteja, não é só para o cliente final (ou regularmente no caso da ADA, os mentores e alunos) que você deve parar e pensar em formas de vender sua ideia. Muitas vezes esperamos o Pitch para elaborar uma comunicação massa, mas cada check-point ou conversa na copa é sinônimo de oportunidade para testar se sua ideia faz sentido, se a proposta de valor está clara, de deixar um gostinho de quero mais.

Dito isso, todos esses momentos podem servir para testar seus formatos de pitch. Na hora de mostrar seu protótipo ou simplesmente receber feedbacks do projeto aproveite para revisitar métodos de storytelling. Não abra o figma ou Xcode de forma crua, desenvolva uma narrativa inclusive para momentos mais técnicos. Afinal, esses também são os momentos para convencer as pessoas a torcerem pelo seu projeto, verificar se o público está “comprando” a ideia. Aproveite a oportunidade para elaborar uma mini apresentação, usando analogias, criando narrativas e testando proposta de valor.

momentos para vender suas ideias e testar formatos de apresentação.

5. Intimidade com as palavras

Texto pronto? Ensaie. É importantíssimo pegar intimidade com as palavras, se acostumando com o ritmo e descobrindo qual a melhor forma e entonação de falá-las. Timing é tudo, então falar com vozes estranhas, com sotaques diferentes e em volumes variados pode te auxiliar a perder o medo de errar e se acostumar com o som delas, literalmente criando intimidade.

Alguma dificuldade em memorizar? Divida seus slides em blocos e dê nome aos tópicos, de forma que se você não lembrar exatamente as palavras, ainda saberá quais ideias e frases fazem parte de determinado bloco, entendendo o que não pode deixar de ser dito em cada sessão. Faça com que o visual te ajude a lembrar intuitivamente (sem necessariamente ter um slide com muito texto).

Relembrando o óbvio: cada processo de pitch é único e seu formato depende da pessoa que apresenta. Não adianta desenvolver um pitch inteiro e entregar para outra pessoa apresentar se ela não possui o ritmo que foi idealizado previamente. Os visuais e o texto podem estar ótimos, mas se a pessoa que for apresentar não estiver confortável com o formato nada flui.

Bem, espero que esse compilado de ideias te ajude a estruturar o seu próprio processo criativo e finalmente ter mais segurança para compartilhar o tão importante caos da sua cabeça.

Essa é para a tropa dos designers caóticos: compartilhar é massa e muitas vezes aquele seu processo (que parece intrínseco) esconde uma série de aprendizados, só funcionando porque você estudou e praticou muito. Confia. Tu sabe o que faz :)

UFA! Obrigada por ler até aqui.

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Bruna Avellar
Apple Developer Academy | UFPE

Jr. Design Mentor @ Apple Developer Academy and Design Undergrad at UFPE