Duna Capítulo 17: A Bruxa

Bruno Birth
brunobirth
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4 min readJul 31, 2020

“Não há escapatória. Pagamos pela violência de nossos ancestrais.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

Agindo a partir de sua desconfiança correlação a lealdade de lady Jessica, Thufir Hawat mandou chamar Duncan Idaho, que estava com os fremen, para ser o principal agente de vigilância da mãe de Paul Atreides.
O problema surge quando Idaho aparece no meio da madrugada na mansão dos Atreides, completamente bêbado e gritando mil e uma abobrinhas, acordando lady Jessica. Pelo menos duas coisas devem ser salientadas nesse contexto.
A primeira é que a embriaguez de Duncan Idaho não é um caso isolado. A maioria dos soldados do duque Leto estão bebendo muito como que em consequência a um sentimento de falta de perspectiva no futuro, bem como desconfiança na liderança do próprio duque. Há um burburinho comum de “estamos todos perdidos” girando em torno dos comandados dos Atreides. É até interessante citar que Jessica chega a sugerir (de modo preconceituoso ou não) atos homossexuais dos soldados, com suas “sessões de massagem” entre eles.
O segundo aspecto importante é que quando Jessica vai confrontar Idaho, o mestre de armas, convicto da vilania da concubina de Leto, grita que Jessica é uma traidora e isso não é recebido com surpresa pelos soldados que o seguram e nem por Yueh, que também estava presente.
Quando Leto autorizou Hawat a vigiar Jessica, ficou acertado o sigilo entre eles. Claramente tal acordo falhou ou não foi seguido deliberadamente.

Completamente consternada e sem se preocupar com o horário, Jessica ordena a imediata convocação de Hawat, já sabendo que ele era o responsável por acusá-la.
Como falado anteriormente, Jessica está menos paciente, um pouco mais arredia e belicosa. Uma vez no escritório onde aguarda a chegada de Hawat, a mulher observa todas as possíveis formas de atacar o velho homem de confiança de Leto, para o caso de a conversa entre eles não dar muito certo. Nesse capítulo descobrimos talvez o principal motivo dessa mudança de atitude da irmã Bene Gesserit. Jessica está grávida de uma menina! Ninguém, nem mesmo o duque, sabe pois se trata de um feto de no máximo duas semanas de vida.

Quando Hawat chega, Jessica o aborda de três formas diferentes para tentar trazê-lo para seu lado.
Primeiro ela tenta mostrar o erro de Hawat em cogitar desconfiar dela, ao que o velho responde calmamente com um “não tenho que pedir perdão”.
Então ela fala de modo mais exasperado, inclusive insultando-o como um mentat incompetente, que mal consegue utilizar as atribuições de seu próprio treinamento mental para enxergar a verdade. Dessa vez Hawat também mostra as garras e insinua que as Bene Gesserit são bruxas e que o senso comum que as coloca como servas fiéis talvez esteja errado. Aqui vale lembrar que Hawat cita uma de nossas reflexões de capítulos anteriores sobre os interesses escusos das irmãs Bene Gesserit no messias Kwisatz Haderach e na propagação de sua lenda através do universo. Nesse momento Jessica cogita contar sobre sua filha mas resolve manter o segredo.
Aí vem a terceira e última abordagem de Jessica para dissuadir Hawat. A mulher usa suas habilidades psíquicas para controlar completamente o corpo de Hawat, intimidando-o, a fim de mostrar que se ela ou as irmãs da ordem Bene Gesserit quisessem, o império poderia ser destruído completamente.
O plano funciona, Hawat treme ante a incapacidade de se mover e cede ao fato de que Jessica não é a traidora infiltrada na mansão dos Atreides.

Essa parte levanta vários questionamentos. Hawat teria chegado a essa conclusão sozinho após Jessica o liberar de seu ataque ou a mente de Hawat está a partir de agora sob comando permanente de Jessica? E se isso estiver acontecendo de fato, o que mais a mãe de Paul já não pode ter manipulado? Ela diz “eu poderia fazer isso”, “eu poderia fazer aquilo”. E se já fez ou está fazendo? O que uma mãe não é capaz de fazer pelo bem estar de seu filho?

O capítulo termina com uma ação que aparenta ser simples, mas na verdade está embebida de extrema complexidade inteligente de lady Jessica. Após libertar Hawat, ela se levanta e fica de costas para seu oponente, como que dizendo “se eu sou a traidora, me mate. Mas, de novo, se eu sou a triadora, por quê de costas para ti eu ficaria?”.
Hawat sente o impulso de atacar, mas o reprime. Está convencido de que ela não é a traidora. Se lembra do velho duque, pai de Leto, que deu as costas ao touro que o empalou enquanto estava distraído em meio a ovação de aplausos de uma multidão. Essa, inclusive, é mais uma peça da história da morte do velho duque, que já teorizamos em outro artigo.
Hawat se colocou no lugar do touro mas soube que Jessica era tão inocente quanto o velho duque. Assim, o velho homem de confiança do duque Leto Atreides deixou o escritório.

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Bruno Birth
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