Duna Capítulo 26: O Sonho do Barão

Bruno Birth
brunobirth
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4 min readAug 22, 2020

“O que você despreza? É com isso que se fará realmente conhecer.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

Rabban, um dos sobrinhos do barão Vladimir Harkonnen, entra em cena neste capítulo com a missão de substituir Piter de Vries como novo duque de Arrakis, seguindo o plano do barão.
O tio de Rabban o considera limitado, desprezível. Para o barão, Rabban não chega nem perto do brilho prodigioso de Feyd Rautha, irmão mais novo de Rabban, o Harkonnen no qual o barão deposita toda a sua esperança.
O plano de Vladimir permanece o mesmo: colocar alguém odioso no poder para que o povo de Arrakis se revolte e busque destroná-lo. Desse modo o jovem Feyd Rautha surge como o salvador do planeta, nos braços do povo. Contudo, um novo detalhe dos anseios do barão Harkonnen foi revelado nesse capítulo. Como já havíamos falado anteriormente, a aliança entre os Harkonnen e o imperador padixá é algo instável e agora descobrimos que o sonho de Vladimir é que os Harkonnen um dia, por meio de Feyd Rautha, alcancem o trono imperial.

Sobre Rabban, é interessante apontar que talvez o rapaz não seja tão acéfalo quanto Vladimir pensa. Inclusive, Rabban já foi o responsável por governar Arrakis antes que o ducado fosse passado aos Atreides. Só que na época o barão controlava suas ações, o que prometeu agora não fazer, exigindo apenas retorno financeiro de Rabban para arcar com as imensas despesas que o ataque aos Atreides custou.
Rabban pergunta sobre como o imperador reagiria ao descobrir sobre a traição de Yueh, ao que o barão revela um plano de ocultação da verdade. Aqui temos uma característica interessante sobre a estrutura social de Arrakis. O barão faz de tudo para esconder da sociedade que conseguiu, por meio de chantagem emocional, reverter o Condicionamento Imperial de um médico da Escola Suk. Como falamos em outras análises, o Condicionamento Imperial é uma outra espécie de treinamento de disciplina mental, tal qual a Escola dos Mentat ou a comunidade das irmãs Bene Gesserit. A sociedade futurista criada por Frank Herbert mostra (em teoria) ter um forte apelo a uma linguagem mais racional, que reverbera por diferentes conceituações e abordagens, o que difere as escolas supracitadas.
Pois bem. Neste contexto, a reação do barão correlação ao questionamento de Rabban mostra que se o mundo descobrisse que o Condicionamento Imperial pode ser revertido, uma vasta gama de possibilidades a ameaçarem a estrutura social do mundo de Duna poderia ser ocasionada, em diversos níveis, uma vez que o condicionamento é uma das leis exatas e aceitas em larga escala.

Em outro questionamento importante, Rabban revela que alguns soldados andavam comentando sobre como os fremen simplesmente trituraram tropas sardaukar em combate. Para Rabban, que possui experiência em Arrakis, isso é um novo indicador de que os fremen, completamente desconsiderados pelos planos do barão, devem ser analisados com mais atenção. O barão rechaça a ideia. Para ele os fremen não passam de insetos insignificantes; os burburinhos dos soldados não passam de mal entendido, fofoca barata.
Bom, não é preciso lembrar o quão errado o barão Vladimir está, não é mesmo?
Nessa parte, inclusive, é interessante salientar que uma estimativa da população total de Arrakis é apresentada sob os números de 5 milhões. É um baixo valor quantitativo em se pensando na população total de um planeta. Claro que a hostilidade de Arrakis não é um convite para a proliferação de uma civilização global robusta, mas talvez as dimensões físicas do planeta também não sejam tão grandes, até porque o bioma de todo o planeta é um imenso deserto, o que talvez indicaria seu pequeno tamanho. Enfim, curiosidades.

Falando em curiosidade, aqui vai uma de caráter cultural para fechar este artigo. Rabban conta ao barão que os sardaukar lançaram um “pogrom” contra os fremen.
O termo “pogrom”, utilizado por Frank Herbert nesse trecho, possui significados múltiplos ao longo da história, sendo relacionado a perseguição de um grupo étnico ou religioso, visando extermínio. O termo ganhou notoriedade internacional no final do século XIX, quando um maciço pogrom antissemita foi lançado pela Rússia imperial, causando grande imigração forçada do povo judeu para outros países, como Alemanha. Após a revolução de 1917 os judeus russos voltaram a sofrer pogroms russos, muitos por serem ricos (inimigos dos revolucionários comunistas) e outros tantos foram perseguidos pelo Exército Branco (anticomunista) durante a guerra civil russa, acusados de exercerem forte auxílio aos bolcheviques. Cerca de 150 mil judeus foram mortos na Rússia e na Ucrânia pelas forças de Anton Ivanovich Denikin (general da Rússia imperial).

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Bruno Birth
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