Duna Capítulo 38: O Profeta

Bruno Birth
brunobirth
Published in
5 min readSep 18, 2020

“Nenhuma mulher, nenhum homem, nenhuma criança jamais teve grande intimidade com meu pai. O mais perto que se chegou de um companheirismo informal com o imperador padixá foi o relacionamento oferecido pelo conde Hasimir Fenring, um colega de infância. Nota-se a medida da amizade do conde Fenring primeiro numa coisa positiva: ele aplicou as suspeitas do Landsraad depois do Caso Arrakis. Custou mais de 1 bilhão de solaris em subornos com a especiaria, foi o que minha mãe disse, e também houve outros presentes: escravas, honrarias régias e patentes. A segunda maior prova de amizade do conde foi negativa. Ele se recusou a matar um homem, muito embora fosse capaz disso e meu pai o tivesse ordenado. É o que relatarei agora.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

Enfim chegamos à parte final do livro Um de Duna. Esse é o momento em que os grandes acontecimentos devem tomar parte na narrativa e já no excerto da princesa Irulan deste capítulo sentimos o prenúncio da curva de ascensão dramática reservada para este derradeiro desenvolvimento de enredo.

O primeiro aspecto a se destacar desse excerto é a já discutida dualidade política entre o império e a organização das grandes casa do Landsraad. Os diversos subornos envolvendo o “Caso Arrakis” só ilustram um pouco mais a instabilidade presente em toda essa organização social do mundo futurista de Duna.

Já o segundo aspecto desse excerto é mais importante. A princesa Irulan parece afiar sua linguagem como uma espada mortal para contar essa história. Sabe quando você lambe os lábios, na ansiedade por um acontecimento importante a seguir? É nesse posto que Irulan coloca todos os leitores desse livro quando diz “É o que relatarei agora”.
Bom. Estamos chegando ao fim do livro então as teorias vão diminuindo. Aqui vai mais uma. Quem afinal de contas devia ser assassinado pelo conde Fenring? Á primeiro momento pensamos no barão Vladimir Harkonnen pois, como já discutido, não nos é de nenhuma surpresa que o imperador padixá usou os Harkonnen para se livrar dos Atreides, mas também está a procura de qualquer desculpa para também se livrar dos Harkonnen, o que pode significar um plano sistemático do imperador para destruir o Landsraad. Discutiremos mais isso na análise do próximo capítulo.
Só que, como a princesa Irulan diz, a recusa de Fenring em matar um homem que o imperador queria morto foi uma prova de amizade de Fenring para com o imperador. Não sei se o barão se encaixa em tamanha descrição. Na verdade, creio que esse homem seja Paul Atreides (ou Muad’Dib). Mas por quê?
Como vemos neste capítulo, dois anos se passaram desde o ataque dos Harkonnen contra os Atreides. Imagine o que deve ter acontecido em Arrakis, especificamente com Muad’Dib, durante esse tempo. Claro que veremos o que aconteceu em breve mas é conclusivo dizer que Paul Muad’Dib deve ter crescido em poder e se tornado tão relevante a ponto de chamar atenção do império. Será? Então, nessa teoria, por quê Fenring se recusaria a matar Paul? Por conta de sua esposa Bene Gesserit. Após o teste do Gom Jabbar, lá no início desta história, a reverenda madre Gaius Helen Mohiam disse a Paul (em nome das Bene Gesserit) que queria ver até onde Paul iria chegar. O garoto havia impressionado a reverenda por ter passado pelo teste mas ainda não era o suficiente para as irmãs o considerarem o Kwisatz Haderach. Lembrando que para encontrar o Kwisatz Haderach as Bene Gesserit possuem um intrincado plano de manipulação de linhagens genéticas; plano que não contava com a Casa Atreides pois para as irmãs os Atreides já estavam no fim de sua existência, algo que Jessica foi contra ao, sem permissão da irmandade, dar a luz a Paul.tvtdcyuby
Com Muad’Dib em plena ascensão de poder (o que achamos que está), é bem provável que as irmãs Bene Gesserit se interessem em manter a vida do filho do duque Leto, assistindo de longe os desdobramentos de sua história. Por esse motivo, Fenring, íntimo cúmplice das ações de sua esposa Bene Gesserit, se recusaria a assassinar o garoto. Esperemos para confirmar ou não essa teoria.

Como falamos, dois anos se passaram. Estamos novamente em Giedi Primo, o lar dos Harkonnen, para acompanhar os passos exasperados do barão. Feyd Rautha, o amado sobrinho de Vladimir Harkonnen, parece não estar muito a fim de esperar a morte do barão para assumir o poder, então maquinou um atentado astuto e traiçoeiro contra seu tio. O barão descobre e fica furioso. Chama Feyd para uma conversa e se estabelece um pacto entre os dois.
Há uma selvageria congênita na forma como os Harkonnen agem correlação à vida. O barão entende os motivos de seu sobrinho o querer morto, e mesmo assim procura confabulações para aproximá-lo ainda mais de si. Feyd também entende a importância que seu tio ainda possui para sua vida, mas isso não o impede de querer matar seu amado tio. A maneira com a qual Frank Herbert rege essa relação é completamente aquém de uma moral narrativa simplória. Na verdade é bem humana. Claro, os Harkonnen não são pessoas maravilhosas, longe disso. Mas também não são personagens caricatos e mergulhados na fórmula superficial do maniqueísmo. Assim como os Atreides também não são “bonzinhos”, os Harkonnen, de sua maneira deturpada, estão atrás de seus próprios interesses de domínio. Jamais se esqueçam disso. Os Atreides também excercem dominação sobre as outras pessoas, se colocando em situação de superioridade. Não é porque o contexto dos Atreides, em todas as suas camadas características, parece ser mais limpo que o dos Harkonnen, que os Atreides sejam tão diferentes assim de seus inimigos.

Enfim, parece agora haver um acordo entre Vladimir e Feyd. As tentativas de assassinato devem cessar… por um tempo. Estamos ansiosos para ver o que está para acontecer.

Leia as análises de todos os outros capítulos clicando AQUI.

Me acompanhe nas redes sociais clicando AQUI.

--

--

Bruno Birth
brunobirth

Aqui, em geral, você lê sobre fantasia e ficção científica.