Duna Capítulo 42: O Montarenador

Bruno Birth
brunobirth
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3 min readSep 23, 2020

“É impossível evitar a ação da política dentro de uma religião ortodoxa. Essa luta pelo poder permeia o treinamento, a educação e o disciplinamento da comunidade ortodoxa. Por causa dessa pressão, os líderes de uma comunidade como essa inevitavelmente têm de enfrentar a questão interior suprema: sucumbir ao oportunismo absoluto para se manter no poder ou correr o risco de se sacrificar em nome da ética ortodoxa.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meu amigo Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

Este é um capítulo que não deve ter seus detalhes narrativos expostos. Ele deve ser lido e sentido. Este capítulo merece tal apreço.
De um lado temos Paul Atreides, um garoto de 17 anos. Nascido como o filho de um duque, sob o conforto da nobreza de um planeta distante, mas que teve seus privilégios extirpados brutalmente e sua família quase que totalmente destruída em um novo e desconhecido planeta. Paul Atreides agora é Paul Muad’Dib, fruto da readaptação em prol da resiliente sobrevivência e absorção da sabedoria maternal. Um homem que está em plena ascensão mitológica em meio a uma forte população de crenças fervorosas e predileção coletiva fanática.
Do outro lado temos uma criatura extraordinária de origem imemorial. Um animal bestial de presença extremamente aterrorizante e imponente. Por conta de tudo isso, uma aura lendária envolve a existência do verme da areia, criando uma significação também mitológica em torno das histórias que se espalham por todo o universo para caracterizar o monstro como sendo até mesmo uma espécie de deus do deserto, um “criador”.

Homem e Animal devem se enfrentar e pesar o respeito que impõem aos demais. Messias e Criador devem se encontrar em um duelo existencial. O construtivismo em torno do Líder e a natureza em torno do Monstro convergiram para este momento homérico, no qual a narrativa literária de aspecto futurista emula o caráter épico da Odisseia clássica.
Nesta imensa arena, todos os grãos de areia se movem de modo frenético e todos os olhos do mundo assistem imóveis. Se faz necessário que essas verdadeiras forças do deserto entrem em choque. O futuro depende disso.

O instinto selvagem alimenta o espírito do verme gigantesco a singrar pelo mar de areia; o Criador esmaga a tudo e não tem a noção do significado de medo.
Então aquele que chamam de Lisan Al-Gaib fecha os olhos. A coragem racional banha a sua mente enquanto seu corpo inerte se mantém à espera da melhor oportunidade.
Se o oponente monstruoso não conhece o medo, então o homem que o enfrenta também não deve temer pois o medo mata a alma. O garoto ouve novamente a litania educativa da mãe, que o adverte a deixar o medo por ele e através dele passar. O Messias de Duna, mais do que qualquer outro indivíduo, deve saber que quando o medo se for, absolutamente nada restará além de ele mesmo.
O homem abre os olhos, o verme da areia abre a bocarra.

Golias vem até Davi. Davi está preparado.

“Muad’Dib e o Criador”. Arte de Pascal Blanche.

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Bruno Birth
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