Duna Capítulo 44: O Colonizador de Duna

Bruno Birth
brunobirth
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3 min readSep 30, 2020

“É tão comum o homem zangado negar furiosamente aquilo que seu eu interior lhe diz.”

O artigo a seguir se baseia em minhas reflexões e nas de meus amigos Jonathan Thiago e Marcos Carvalho. CONTÉM SPOILERS DO LIVRO UM.

Temos neste capítulo uma extensão da análise que havíamos feito no capítulo anterior, sobre como a relação de Paul Atreides com a cultura fremen é diferente da relação de Liet com a cultura fremen. A comparação se dá pela posição de liderança religiosa de ambos, sendo que Liet manifestadamente se entregou completamente aos modos fremen, absorvendo as tradições dos nativos de Arrakis, enquanto Paul começa a levemente mostrar que não é exatamente assim que vai agir correlação aos seus ávidos seguidores.
A armadilha narrativa que Frank Herbert cria para o leitor é genial. O costume fremen que coloca um indivíduo em ascensão contra o chefe do sietch antagoniza Paul e Stilgar. O líder da tribo está em paz com o costume, Stilgar sabe que o duelo mortal em nada tem a ver com amizade, inimizade, inveja ou qualquer outra coisa; se trata puramente de uma tradição de valor coletivo. Mas o leitor entende perfeitamente quando Paul começa a argumentar dizendo que Stilgar é um estimado amigo, que Stilgar é um homem de qualidades militares muito elevadas para ser desperdiçado em um momento de guerra. A partir do momento que o leitor é persuadido por Paul (graças ao cenário criado por Frank Herbert) abre-se um precedente para que Paul altere as tradições fremen ao seu bel prazer. Como um exemplo válido do argumento que desenvolvo aqui lembre-se, nenhum líder totalitário começa com holocaustos, e sim com mudanças “leves” no status quo. É um exemplo radical demais para Paul? Não sei. Em arrakis crescem as lendas do Muad’Dib que esfola os inimigos e faz tambores com suas peles.

Gurney Halleck ganha a sua oportunidade de vingança sem motivo contra Jessica. Alimentado pelos antigos rumores de Hawat, o antigo mestre de armas do duque Leto acredita piamente que a Reverenda Madre dos fremen do sietch Tabr foi a traidora dos Atreides.
Nessa parte é interessante notar a reação de lady Jessica. Enforcada e com uma faca afiada encostada nas costas, a mãe de Paul não parece resistir com tanta veemência. Quando foi aprisionada pelo barão Harkonnen, na noite do ataque que acabou com o duque Leto, Jessica pensou mil formas de escapatória. Mas sob a ameaça de Halleck a incrível mulher parece cansada dessa vida de responsabilidades que, em parte, a ela foram atribuídas e, em parte, ela mesma buscou. Quando liberta por Halleck, Jessica inclusive parece abdicar de seu preconceito para com o relacionamento de Paul e Chani. Case-se com ela, meu filho. Faça o que quiser, ela diz.
Neste mesmo capítulo é salientada a idade um pouco avançada de Jessica, o que dá espaço para a criação da necessidade de uma aposentadoria em Caladan. Como estamos chegando ao fim do livro, se erguem questionamentos sobre o derradeiro destino de Jessica, uma personagem tão importante (se não a mais importante do livro).

Por fim, temos Paul se preparando secretamente para o famoso teste que as Bene Gesserit impõem aos candidatos a Kwisatz Haderach (aquele que consegue trilhar todos os aspectos do espaço e do tempo, sob as perspectivas masculinas e femininas). Todos os homens que tentaram morreram. A Água da Vida, provinda da bile (composta em parte de mélange) de vermes da areia em contato com água deve ser ingerida e seus fortíssimos efeitos psicotrópicos sentidos. No ritual de Jessica, Paul bebeu apenas um líquido proveniente da regurgitação da Água da Vida de Jessica. Agora é diferente. Paul pode, de fato, morrer.
Mas deixemos isso para a próxima análise.

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Bruno Birth
brunobirth

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