As estruturas do preconceito em nossas mentes: uma abordagem incomum

TheNothing
6 min readSep 18, 2018

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Paremos e pensemos: como surge o preconceito? Quais são os motivos de as pessoas odiarem umas as outras? Seja por sua sexualidade, raça, origem, classe social etc? Por que tanto ódio?

Por incrível que pareça, a resposta pode ser resumida incrivelmente em: você é diferente de mim, portanto, eu não gosto de você. Isto pode resumir bem como surge todos os tipos de preconceito em nossa sociedade. Não, esta não é uma forma simplista e explicarei o porquê.

Ao pensarmos mais profundamente sobre o tema, podemos perceber que todas as derivações do preconceito se baseiam nas diferenças entre as pessoas e a não aceitação das mesmas por parte daquele que é preconceituoso. Seja o racismo, a homofobia, o sexismo etc. Logo, entender este princípio é fundamental para aquele que luta — ou que diz lutar, contra todos os tipos de preconceito. Entendê-lo, é ir direto na raiz do problema.

Um grande conflito

Uma das grandes problemáticas do preconceito que muitas pessoas não conseguem compreender muito bem, é o fato de que, o preconceito é sutil, e ele pode ser uma faca de dois gumes. Pois, se compreendemos que o preconceito é a não-aceitação da diferença dos indivíduos, precisamos então lutar para que estes possam olhar para o diferente de modo natural, como se elas olhassem para um semelhante à si mesmas, certo? Mas ainda há algo conflitante que precisamos entender.

Por uma perspectiva biológica, somos diferentes. Homens e mulheres são diferentes; negros e brancos — ao mínimo que seja por melanina, mas também são diferentes. São fatos óbvios que não devemos ignorar e nem sequer justificar agressões baseado nesses fatos, pois, não podemos enfrentar um problema fugindo dos fatos, da realidade em si.

Então, eis o grande desafio: ser diferente e querer ser tratado igualmente, seja juridicamente e socialmente. Precisamos compreender que é difícil para aquele que é vítima de preconceito ter esse compreendimento por completo. E por que digo completo? Pelo fato de que muita das vezes a vítima não vê a si mesma como igual por causa do que vivencia, e não se ver por igual por princípio, é aumentar nossas diferenças, e assim, alimentar as raízes do preconceito.

Se queremos nos ver como iguais, precisamos primeiramente vermos a nós mesmos como iguais primeiramente. E se queremos combater a desigualdade de tratamento, esse é o primeiro passo. Não se busca igualdade se esquecemos o quão longe o outro grupo que queremos nos igualar está.

Com base na lógica acima, não podemos classificar nós mesmos e frequentemente afirmarmos que somos diferentes dos outros indivíduos, visto que, estaríamos reforçando as diferenças com tais afirmativas, e consequentemente estaríamos influenciando pessoas a olharem para nós mesmos como diferentes; e isto não ajuda no processo de diminuição da desigualdade de tratamento. Em outras palavras, se você diz que é diferente o tempo todo, a possibilidade de as pessoas não olharem para você como olha para qualquer outra normalmente é bem maior.

Para ilustrar melhor o que eu quero dizer, trago uma cena do filme “Ó Paí Ó” onde há um caso de racismo claro e a contra-resposta é sensacional.

A cena é o personagem feito pelo Lázaro Ramos mostrando que é um ser humano igual como qualquer outro. Diferente da cena acima, mostrarei alguns exemplos claros do que realmente quero dizer como “se ver como diferente” de forma negativa na minha opinião.

Eis um grande exemplo negativo ao meu ver:

Um grande exemplo para o nosso raciocínio.

A imagem acima é um grande exemplo de como nos auto-sabotamos na luta contra o preconceito. Antigamente, muitos diriam que esta imagem é segregacionista, pois, não existe algo como “ciência para branco” ou “ciência para negro”. Ciência é ciência, não há distinção! Será mesmo que precisamos adotar novas formas de produção de conhecimento científico apenas para aplicar à uma raça X ou uma raça Y? Obviamente não! E eu não vou nem estar comentando muito sobre o conteúdo socio….ops, “científico” do seminário. Será que realmente é esta maneira correta de diminuir a desigualdade de tratamento entre brancos e negros na sociedade? Segregando e aumentando nossas diferenças classificando “ciência para negro” invés apenas de ciência?

Além de um seminário como esse, um tempo atrás surgiu algo bizarro em uma das nossas universidades públicas aqui no Brasil: a afromatemática. Sim, não é brincadeira.

E eu me pergunto mais uma vez: será mesmo que temos que ter uma nova forma de aplicação da matemática apenas por causa que uma pessoa é negra?

Bem, eu sou da época que eu entendia isso como preconceito e segregação e continuo pensando dessa forma. Não há necessidade alguma ou plausível para haver uma distinção da matemática! Matemática é matemática! Ensinar matemática para o negro diferente de matemática para o branco é sectarismo e ponto final! Esta não é a maneira correta de diminuirmos as diferenças por meio da percepção social. A maneira correta — e que também acabará com o preconceito, é exatamente o oposto disso! Precisamos termos uma percepção natural ao olhar para um negro(a), ou seja, precisamos olhar para o negro como um ser humano normal e não como diferente, e tais afirmações e segregações como exemplificadas nesse texto não são a maneira que vamos conquistar isso.

As consequências do sectarismo

O que realmente está acontecendo conosco com toda essa narrativa sendo pregada aos quatro cantos do mundo? Estamos começando a ver inconscientemente negros e negras como seres diferentes.

Infelizmente, as vezes me pego na mentalidade da narrativa pregada e acredito que muitas pessoas já perceberam isso de alguma forma ou de outra, ou se ainda não, irão começar a perceber agora após este texto.

A narrativa está ficando tão entranhada em nossas mentes que um dia, eu estava conversando com um amigo sobre bandas e por acaso entramos num assunto de vocalistas negros. Este amigo, falou de algumas bandas onde os vocalistas são negros e eu aproveitei e indiquei uma banda que também tinha essa característica. Por acaso, falei do bom vocal que o vocalista negro tinha sem perceber que estava diferenciando os vocais de brancos e de negros num estereótipo quase inconsciente enquanto eu mostrava o quão bom e diferente era o vocal do vocalista por ser negro. A verdade é que, não há diferença nem sequer em tons de voz de negros e brancos.

São coisas simples e que passam despercebidas mas que realmente te fazem pensar em como você já está olhando diferente para pessoas negras mesmo que seja de uma maneira positiva.

Posso te dizer que, eu nunca tive esse olhar diferenciado para pessoas negras em toda a minha vida. Sempre convivi com pessoas negras, pardas, brancas sem nunca ter olhado de uma forma que eu pudesse tratar diferente de maneira positiva ou negativa alguém de outra cor.

Ao me observar atualmente, passei a perceber que de vez enquanto eu me pego olhando para alguém negro e as vezes num ato inconsciente o vendo como um oprimido etc. As vezes, até mesmo num ato de conversar passa em minha mente uma leve diferença entre eu e a pessoa negra que está conversando comigo.

Isto de fato, é a consequência do sectarismo racial do século XXI que está sendo pregado à todo momento na grande mídia, por intelectuais, acadêmicos etc.

Não estamos mais num mundo onde não conhecemos outras pessoas de outras etnias, não estamos mais num mundo onde a distância não faz nos vermos e nos comunicarmos! Estamos em um mundo globalizado e esta diferença deve ser diminuída por um caminho contrário ao que é pregado atualmente.

Me recuso a ter esses atos! E você?

Recomendação para melhor compreendimento do texto:

Em nenhum momento o vídeo acima é errado apesar do título afirmar tal coisa. Não foi nenhum pouco uma visão errada sobre racismo, na verdade, uma visão bem mais comum antigamente do que hoje. É exatamente lendo este artigo e vendo este vídeo que talvez você entenda por completo o que eu quis passar e a mensagem da novela.

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