Asiáticas na Liga dos Campeões Feminina da UEFA 2024/25 — Guia Oficial

Bruno Miotto
11 min readSep 30, 2024

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A Ásia será representada por 9 times europeus na UWCL, todos eles com jogadoras japonesas, australianas e 1 chinesa.

A Liga dos Campeões Feminina da UEFA chega em sua 24a edição e mostra a cada ano que o futebol feminino pode ser sim um produto rentável e competitivo com grandes marcas disputando o prêmio de melhor equipe não só da Europa como do Mundo.

Desde o título do 1.FFC Frankfurt (hoje Eintracht Frankfurt) na primeira edição em 2001–02, passando pela dominação alemã com o Frankfürt, Turbine Potsdam, Duisburg e Wolfsburg (com Umea e Arsenal como intrusos), a dinastia do Lyon que é o maior campeão da competição e mais recentemente, o reinado do Barcelona, a UWCL começou pequena e foi se agigantando com o passar dos anos.

Além de que a partir de 2010, muitas jogadoras asiáticas começaram a ter sucesso nessa competição como Yuki Nagasato, Ami Otaki, Kozue Ando, Ellie Carpenter e a maior de todas: Saki Kumagai, que é a única jogadora não-europeia a vencer 5 taças de Champions feminina (e de forma consecutiva pelo Lyon).

Como será a edição 2024–2025?

Os grupos da UWCL 2024–25: reencontro entre Lyon e Kumagai no Grupo A, duelos asiáticos nos grupos B e D e o Arsenal do trio aussie Catley/Cooney-Cross/Foord no grupo da morte.

Sendo essa a última temporada do formato atual com 4 grupos de 4 (a Champions feminina na próxima temporada será disputada em formato de liga assim como a versão masculina a partir dessa temporada 24–25), a tendência é que tenhamos uma edição mais equlibrada do que nunca até a grande final no José Alvalade em Lisboa no dia 25 de maio de 2025.

Os favoritos são os de sempre. Barça e Lyon fizeram a última decisão com vitória das catalãs, mas as francesas estão passando por uma profunda reformulação. O Chelsea é talvez o grande favorito além do atual campeão e segue ainda na sua “obsessão” da primeira taça europeia da sua história enquanto que Wolfsburg e Arsenal estão de volta após sequer chegarem aos grupos na última temporada (ambos caíram na fase preliminar, inclusive ambos pro mesmo time Paris FC).

Lyon: Reestruturação oriental com pitadas australianas?

Após ser comprado por Michelle Kang, o Lyon de Ellie Carpenter buscará mais uma taça (e quem sabe uma revanche contra o Barcelona).

Maior campeão do torneio, o Lyon sentiu um gosto amargo ao fim da temporada. Apesar de ter vencido a liga francesa com sobras, as francesas foram derrotadas na final da UWCL para o Barcelona em Bilbao por 2–0 pese o fato de que no próprio torneio não teve quase nenhum grande adversário pelo caminho, exceto o Paris Saint-Germain nas semifinais.

Após a final no País Basco, a técnica Sonia Bompastor deixou o cargo das Gones após 3 anos e um título da UWCL em 2021–22. Com isso, a nova diretoria do time francês comandada agora pela empresária milionária coreana-americana Michelle Kang, escolheu o australiano Joe Montemurro para liderar o projeto dentro de campo. Apesar de ter muitos títulos com Arsenal e Juventus, as duas últimas temporadas de Montemurro no comando da Vecchia Signora não foram produtivas (principalmente a última temporada, na qual sequer conseguiu perseguir a Roma na Serie A Femminile).

Não fez muitas contratações pra temporada, mas terá um grande reforço vindo do maior rival PSG: a atacante malauiana Tabitha Chawinga. Da NWSL veio a defensora Sofia Huerta (que curiosamente jogava no clube que o Lyon tinha grande porcentagem de comando, o Seattle Reign) e pra fechar, veio Sofie Svava do Real Madrid. Apesar de perder Delphine Cascarino, Griedge Mbock-Bathy e Melvine Malard, a grande espinha-dorsal com Endler, Carpenter, Van de Donk, Renard, Bacha, Dumornay, Horan, Hegerberg e Le Sommer seguirá forte para essa reconstrução do maior campeão europeu.

Chelsea: Kerr e Hamano em busca da primeira taça para as Blues.

Mais uma vez o Chelsea buscará a sua primeira taça continental, contando mais uma vez com o poderio ofensivo de Sam Kerr (mesmo que ainda não jogue agora) e Maika Hamano já mais acostumada aos gramados ingleses.

Depois de uma temporada de muitos altos e baixos com direto a inúmeras lesões de jogadoras importantes, porém que terminou com um histórico quinto título consecutivo da Women Super League numa reviravolta épica ponto a ponto contra o Manchester City, o Chelsea inicia uma fase nova na sua história.

A saída de Emma Hayes para a seleção americana obviamente foi sentida por todos e o clube inglês não perdeu tempo para achar uma substituta. A francesa Sonia Bompastor foi a escolhida para comandar as Blues após o fim da última UWCL. Sonia terá muito trabalho: além de lidar com uma enorme pressão do clube inglês para acabar de vez com a obsessão de vencer a primeira taça continental da história do clube londrino, terá que gerir um grupo com jogadoras bastante tarimbadas (e ela é uma treinadora com casca suficiente pra isso) e por fim, ainda ficará com boa parte da temporada sem Sam Kerr que ainda está se recuperando do ligamento cruzado anterior.

Juntando com a obtenção de Mayra Ramírez no meio da temporada passada, o Chelsea pra variar, fez um mercado volumoso. Contratou Lucy Bronze que terminou sua passagem no Barcelona com mais um troféu da UWCL, a pedido de Sonia, trouxe quatro francesas: a zagueira Maelys Mpomé, a meia Oriane Jean-François, as atacantes Sandy Baltimore e Louna Ribadeira (essa última, seguirá emprestada ao Paris FC por ser jovem) e também a jovem espanhola Julia Bartel (cria de La Masía). Também tiveram muitas saídas importantes como Melanie Leupolz, Maren Mjelde, Jess Carter e Fran Kirby.

Apesar de ainda sofrer com a questão defensiva e falta de criatividade no meio de campo, o Chelsea consta de jogadoras de bastante qualidade e muita casca nos momentos decisivos (como Millie Bright, Lauren James, Guro Reiten e a própria Sam Kerr) além de jovens jogadoras que na temporada passada foram determinantes para o título da WSL como Aggie Beever-Jones e Maika Hamano. Será que essa é a temporada da taça tão sonhada?

Roma: Chegou a hora de dar o passo adiante fora da Itália?

Após uma temporada histórica, a Roma de Moeka Minami e Saki Kumagai busca sair do protagonismo italiano e ser mais forte a nível continental.

A Roma viveu um ano histórico de fortes emoções na temporada 2023–24, enquanto que na UWCL o time italiano digeriu uma eliminação traumática na fase de grupos num grupo com Bayern, PSG e Ajax, no cenário nacional não deu chance para a concorrência e venceu tanto a Serie A Femminile quanto a Coppa Italia numa final eletrizante contra a Fiorentina na qual perdia por 3 a 1, empatou o jogo nos 10 minutos finais do segundo tempo e venceu nos pênaltis.

Por isso que a dúvida e a pergunta sempre fica: é possível a Roma ser mais competitiva fora da Itália? Os times italianos fizeram uma grande janela e se reforçaram muito bem para essa temporada, ou seja, não tem na cabeça que a Roma está sozinha no Calcio feminino. O desempenho da Roma fora de casa na última Champions foi abaixo do esperado, pese um grande empate na estreia contra o Bayern de Munique na Alemanha.

Com isso, há acertos em renovações de contrato não só de jogadoras importantes do time (Giacinti, Troelsgaard, Minami, Kumagai, Giugliano, Viens, Haavi, Linari, Di Guglielmo, entre outras) como também do técnico Alessandro Spugna e da diretoria Betty Bavagnoli. A manutenção desses cargos é importante para que a Roma continue crescendo e que tente agora alcançar o patamar e o sarrafo de competitividade continental.

Contudo, a Roma teve uma grande perda nessa transição de temporada. A capitã Elisa Bartoli deixou o time após seis anos no clube (ela foi a primeira jogadora contratada pela equipe italiana assim que foi fundada como time principal em 2018) e assinou com a Inter de Milão. Em seu lugar, veio a dinamarquesa Frederikke Thogersen (também da Inter) e também do lado nerazurro de Milão, veio a meia Marta Pandini (por empréstimo).

Mais saídas foram das goleiras Öhstrom e Korpela, a defensora Sonstevold, as meias Ciccotti, Feiersinger e Kramzar (essa por empréstimo ao Como) e a atacante Tomaselli (outra que foi pra Inter de Milão). Chegaram as goleiras Lukásová e Kresche, as defensoras Cissoko (do West Ham) e Hanshaw (do Eintracht Frankfurt), as atacantes Alice Corelli e Tori Della Peruta (essa foi emprestada para a Sampdoria) e pra fechar, a jovem prodígio Giulia Dragoni de 17 anos (emprestada pelo Barcelona mas com um ano de empréstimo sem opção de compra). Será um grande teste para a Roma essa temporada 2024–25.

Manchester City: Nasce o Matildeshiko City, a maior embaixada AFC na Europa da história.

O Manchester City chega para a sua primeira participação na fase de grupos da UWCL com um elenco cheio de expectativas, principalmente com as seis jogadoras da AFC que estarão no plantel dessa temporada.

Até agora a gente que cobre futebol asiático (tanto masculino quanto feminino) estava acostumado a times que tem ao menos 1, 2 ou 3 jogadoras asiáticas no elenco, com muita sorte aparecia um time com mais de 3 jogadoras no elenco. O Manchester City, porém, foi além e chegou a seis (isso mesmo, SEIS) jogadoras asiáticas no plantel da temporada 2024–25 do time inglês.

Já contando com Alanna Kennedy, Yui Hasegawa e Mary Fowler, as Cityzens foram ao mercado e trouxeram 3 grandes peças orientais para fortalecer seu elenco: primeiro a lateral Risa Shimizu (cuja não renovou o seu contrato com o West Ham), pilar ofensivo e defensivo da seleção japonesa que infelizmente sofreu o rompimento do ligamento cruzado anterior na Olimpíada de Paris e está fora do resto da temporada. Depois a jovem atacante Aoba Fujino que fez uma ótima temporada pelo Tokyo Verdy Beleza na WE.League e fez um bom torneio também em Paris pese também ter tido uma lesão na coxa. E por fim, a goleira Ayaka Yamashita que é a goleira titular da Nadeshiko, melhor goleira japonesa da atualidade e que precisava dar o salto pra fora do território japonês para melhorar seu desempenho.

Juntando esses seis nomes, o Matildeshiko City (fusão das palavras Matildas e Nadeshiko com o City no final) vem com enorme expectativa para a sua primeira fase de grupos da UWCL na história (as Cityzens já jogaram a competição, mas apenas no formato anterior que era em mata-mata). Além também que em âmbito nacional o time precisa dar uma resposta após o título da WSL 23–24 perdido para o Chelsea nas duas últimas rodadas.

Fora as orientais, o City também fez ótimas aquisições principalmente para suprir a falta de Khadija “Bunny” Shaw que fez bastante falta na reta final da WSL. A holandesa Vivianne Miedema trocou o Arsenal pelo City e vem pra ser uma jogadora importante no esquema do técnico Gareth Taylor que já tem uma base feita com Khiara Keating, Laia Alexandri, Leila Ouahabi, o retorno de Jill Roord, Jess Park, Lauren Hemp e Chloe Kelly. Perdeu Esme Morgan, Angeldahl, Demi Stokes, Ellie Roebuck, Ruby Mace e Steph Houghton que se aposentou. Ou seja, o Matildeshiko City promete demais para essa temporada.

Arsenal: Em busca do momento em voltar ao protagonismo.

O Arsenal do trio aussie Steph Catley, Kyra Cooney-Cross e Caitlin Foord busca voltar ao protagonismo após uma temporada bastante decepcionante em 2023–24.

Campeão da Champions feminina em 2006–07 (ainda como Copa Feminina da UEFA) e até hoje único time inglês campeão continental no feminino, o Arsenal tenta voltar ao protagonismo após anos de muita ou alguma expectativa pra pouco resultado. A eliminação na fase preliminar da última UWCL para o surpreendente Paris FC foi um vexame tão grande que as Gooners praticamente não conseguiram acompanhar o ritmo de Chelsea e Manchester City na briga pelo título da WSL e tiveram que se contentar em ser coadjuvantes nesse torneio. O ano só não terminou em branco pois venceram a Copa da Liga contra um oscilante Chelsea que no final acabaria sendo campeão novamente da própria WSL.

Nessa temporada, o time do técnico sueco Jonas Eidevall avançou da primeira fase preliminar batendo Rangers e Rosenborg (esse último que inclusive eliminou o Atlético de Madrid nessa fase). Porém na fase preliminar final, quase repetiu o vexame da temporada passada ao perder para o Häcken de Aivi Luik e Hikaru Kitagawa na Suécia pelo placar mínimo mas conseguir reverter por 4–0 na volta em Londres e finalmente se classificou para a fase de grupos.

Novamente o Arsenal terá o trio “aussie” à disposição: Steph Catley que voltou de lesão durante a Olimpíada, Kyra Cooney-Cross que busca conquistar a titularidade no time de Jonas Eidevall e Caitlin Foord que segue sendo uma boa peça de reposição para o ataque liderado por Beth Mead, Alessia Russo e a talismã Stina Blackstenius, além de que agora tem a inclusão de Mariona Caldentey que veio do Barcelona. No meio de campo com KCC, o Arsenal contratou a sensação do Häcken na última temporada, Rosa Kafaji e pro gol, as Gooners contrataram Daphne van Domselaar que veio do Aston Villa. Saídas notórias foram da goleira canadense Sabrina d’Angelo e das atacantes Gio Queiroz (brasileira) e Cloé Lacasse (outra canadense).

Um ponto importante para o Arsenal é que a cada dia o clube londrino está mandando mais jogos no Emirates Stadium, isso ajuda a criar mais ligação com a torcida, as médias de público aumentaraam, traz mais retorno financeiro e as chances de resultados positivos também sobem. Veremos como o Arsenal irá progredir nessa temporada.

Outros times

O Galatasaray dispõe de uma chinesa enquanto que Twente e Sankt Pölten contam com australianas e o Hammarby inspirado no sucesso com Maika Hamano, aposta em mais japonesas.

O Twente volta a uma UWCL após a sua última aparição na temporada 2019–20 e voltou em grande estilo: campeão holandês após derrotar o Ajax que na Champions, tinha passado de fase naquele grupo da morte aonde estava a Roma, o Bayern e o PSG.

A jovem australiana Daniela Galic é um dos nomes a se ficar de olho nas holandesas. Camisa 10 das Junior Matildas, Galic ficou fora do Mundial Sub-20 na Colômbia devido ao pedido do clube em que ela participe da pré-temporada com o time profissional. A falta dela fez grande diferença pra Austrália que foi eliminada da competição sem sequer fazer um mísero gol.

O Galatasaray é o primeiro time turco a disputar uma fase de grupos da UWCL e dispõe no seu elenco a defensora Li Jiayue da seleção chinesa que está nas Leoas turcas desde 2023 além da atacante colombiana Catalina Usme e a centravante tcheca Andrea Stasková.

Sankt Pölten e Hammarby terão uma peculiaridade nessa Champions feminina. Além do Manchester City, os 3 times estão no mesmo grupo com o Barcelona. Ou seja, teremos duelos entre 3 times com jogadoras asiáticas no Grupo D na fase de grupos. As austríacas do Sankt Pölten ainda terão a australiana Ella Mastrantonio no seu plantel.

Já o Hammarby, atual campeão sueco, surpreendeu o Benfica dentro de Portugal e chega forte para a fase de grupos. Ex-time de Maika Hamano, os Bajen continuaram com a aposta de contratar japonesas para fortalecer o time. Uma delas é Suzu Amano, jovem promessa vice-campeã mundial Sub-20, que fez uma boa Copa do Mundo da modalidade na Colômbia mesmo sendo reserva na maioria dos jogos. E pra fechar, chegou também a zagueira Asato Miyagawa que apesar dos seus 26 anos, foi campeã mundial Sub-20 com a Junior Nadeshiko na edição de 2018, disputada na França.

Com isso, terminamos o guia das equipes da Champions feminina com representantes asiáticas. A fase de grupos começa no dia 8 de outubro e termina no dia 25 de maio de 2025. Será uma grande competição e que todas as jogadoras da AFC representem não só seus clubes como o continente no torneio de clubes femininos mais importante do mundo.

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Written by Bruno Miotto

Criador de conteúdo formado em Jornalismo pela UniToledo Wyden Araçatuba. Futebol asiático masculino e feminino pelo Japão FC (@japaofcbr). #ActuallyAutistic

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