Balanço AFC da Data-FIFA (05/09 a 10/09/2024)

Bruno Miotto
7 min readSep 14, 2024

--

Começou o “prato principal” das Eliminatórias Asiáticas para a Copa do Mundo de 2026: a terceira fase.

Após duas fases “protocolares” (apesar de algumas surpresas e alguns sustos), as Eliminatórias Asiáticas para a Copa do Mundo de 2026 finalmente chega no seu carro-chefe: a terceira fase. 18 times foram divididos em três chaves de seis seleções da qual as duas melhores garantem vagas diretas no mundial que será disputado na América do Norte em 2026. Esse é o primeiro “match point” de três que acontecerão daqui até quase 2026.

Nessa primeira rodada dupla, tivemos enormes surpresas, goleadas históricas, confirmação de grandes forças e altíssima competitividade nessa semana. Vamos lá!

O Semáforo AFC da Data-FIFA diz qual time foi bem, qual time foi mais ou menos e quem foi mal nessa rodada dupla de Data-FIFA baseado em resultado e atuação.
  • Grupo A: Irã e Uzbequistão sólidos e profunda decepção do atual bicampeão asiático
Os uzbeques querem a sua primeira participação em Copas e lideram o Grupo A junto com o Irã.

Será que a grande geração uzbeque vai finalmente conseguir a tão sonhada primeira Copa do Mundo de sua história? Pelos resultados da primeira rodada e as atuações, tudo pode pender para o sim. Afinal, venceu seus dois primeiros jogos contra Coreia do Norte (1 a 0) e Quirguistão (3 a 2) e fecha essa Data-FIFA na liderança do Grupo A. Com o detalhe que o duelo contra o Quirguistão foi um duelo regional da Ásia Central fora de casa e os Lobos Brancos foram buscar um resultado complicado no segundo tempo.

Outro que também fez uma Data-FIFA sem tropeços, foi o Irã do técnico Amir Ghalenoei que apesar de não convencer com atuações, venceu Quirguistão e os Emirados Árabes pelo placar de 1–0 e também entrou dentro da zona direta de classificação. O agora artilheiro da Internazionale de Milão, Mehdi Taremi, fez o único gol da vitória na estreia contra os quiguizes.

Acabou o encanto do Qatar? Os Marrons (como são chamados) tem uma Data-FIFA para esquecer. Na estreia, perderam em casa para o aplicado time dos Emirados Árabes de Paulo Bento por 3–1 e na segunda partida, não conseguiram superar uma arrumada e aguerrida Coreia do Norte com um jogador a menos num empate por 2–2 em meio a um dilúvio monçônico no Laos (aonde a Coreia do Norte mandou suas partidas em campo neutro). Curiosamente, o time qatari começa a cair o rendimento após a aposentadoria do seu capitão e camisa 10, Hassan Al Haydos.

  • Grupo B: Coreia do Sul se “recupera” após um vexame histórico, Jordânia líder e Iraque na briga pela vaga direta
Apesar do vexatório empate em casa com a Palestina, a Coreia do Sul se recupera graças as suas individualidades pese a uma atuação bastante oscilante.

A crise na federação sul-coreana parece não ter fim. Após a campanha da Copa da Ásia que expôs os bastidores, um vestiário problemático e o péssimo momento da KFA (Associação de Futebol da Coreia) apesar de chegar na semifinal, os sul-coreanos puseram fim a contestável passagem de Jürgen Klinsmann e contrataram um velho conhecido, Hong Myung-bo (ex-capitão da seleção e treinador da Coreia na Copa de 2014), pra tentar arrumar a casa. Porém, essa escolha não agradou muitas pessoas até dentro da própria federação (um membro da comissão técnica não gostou de sequer ser avisado sobre o anúncio de Myung-bo e detonou a decisão do presidente Chung Mong-gyu numa entrevista a um canal do YouTube).

Em campo, a Coreia do Sul mostra mais ou menos o que teve na Copa da Ásia: um time com muitas limitações mas que ainda consegue ser competitivo e tirando resultados graças as individualidades dos seus principais jogadores como Son Heung-min, Hwang Hee-chan e Lee Kang-in. No entanto, o empate a zero em casa com a valente Palestina foi um vexame histórico (desde as Eliminatórias da Copa de 1990 que a Coreia não perdia pontos em casa, a última vez foi quando empatou em 0–0 com o Qatar nessa eliminatória).

Querendo dar uma resposta, os Guerreiros Taeguk viajaram até Omã e venceram por 3–1 com gols de Hee-chan, Son e Joo Min-kyu. Porém a atuação deveu bastante, pois novamente os sul-coreanos sofreram com um esquema bem montado dos omanis treinados pelo tcheco Jaroslav Silhavy.

A atual vice-campeã asiática Jordânia assumiu a ponta do Grupo B, vencendo a Palestina fora de casa na segunda rodada por 3–1 num duelo disputado em campo neutro na capital da Malásia, Kuala Lumpur. Sem Al Tamari, os jordanianos estão com 4 pontos graças a essa vitória porém na estreia empataram em 1–1 com o Kuwait do técnico argentino Juan Antonio Pizzi (os kuwaitianos ainda emparatam o jogo com um gol de pênalti de Nasser Al Sulaiman nos acréscimos derradeiros do segundo tempo).

O Iraque segue em terceiro na briga após vencer Omã na estreia com um gol do sempre decisivo Aymen Hussein e arrancou um bom empate a zero do Kuwait pese que esteve com um jogador a menos desde os 15 minutos de jogo.

  • Grupo C: Rodada mais que perfeita e sem piedade do Japão enquanto Bahrein e Indonésia surpreendem uma trágica Austrália e uma inconstante Arábia Saudita.
O Japão impõe a pior humilhação do futebol chinês em mais de 100 anos de história e mostra nas duas rodadas porquê é disparadamente a melhor seleção da AFC e que está realmente em outro patamar.

O Japão vive um momento único na sua história, futebolisticamente falando. Apesar da frustrante Copa da Ásia em que caiu nas quartas de final para um bom time do Irã, os Samurais Azuis mostraram nessa rodada dupla de Eliminatórias que estão realmente num patamar bem acima do resto das seleções do continente e a tendência é o abismo só aumentar mais ainda com o número crescente de jogadores japoneses chegando na Europa.

No entanto, a histórica goleada por 7–0 em cima da China na primeira rodada não só se resume pela tamanha superioridade nipônica em campo, ela revela o completo abandono do futebol chinês após o fim dos altíssimos investimentos do governo nos clubes chineses e a falência desses mesmos times enquanto corriam (e correm até hoje) gigantescos casos de corrupção e manipulação de resultados no futebol da segunda maior potência do planeta. A China fez a sua pior campanha em Copas da Ásia na edição recente de 2013, quando foi embora na fase de grupos sem sequer fazer um mísero gol.

O Japão jamais havia goleado a China na sua história enquanto que não tinha uma goleada dessas no clássico regional entre japoneses e chineses desde o 5–0 da República da China unificada (China continental, Hong Kong e Taiwan) em 1917 (!). Show de Minamino (dois gols), Mitoma, Wataru Endo, Take Kubo, Daizen Maeda, Junya Ito e uma grande partida de Ritsu Doan fizeram os quase 53 mil torcedores em Saitama presenciarem uma partida que entrou nos livros históricos da seleção japonesa.

Não contentes em fazer 7–0 na China, o Japão viajou para o Bahrein e apesar de um primeiro tempo mais complicado que os barenitas até jogaram bem, impõs 5–0 no time que dias antes tinha surpreendido a Austrália em solo australiano. Ayase Ueda com dois gols, Hidemasa Morita (também com dois gols) e o jovem Koki Ogawa fizeram os gols no fim do primeiro tempo e no segundo tempo que concretizou e finalizou com chave de ouro a mais que perfeita Data-FIFA do Japão (e poderia ter sido até mais se não é a displicência com o placar já definido).

Falando em Bahrein, a Austrália começa o seu caminho rumo a América do Norte de forma terrível. Com um time treinado por Graham Arnold que não sabe fazer gols, os Socceroos foram castigados em Gold Coast pela “alergia” à gols com um gol contra de Harry Souttar perto da marca do minuto 90 de jogo. Essa falta de gols também puniu os aussies na sua visita a Jakarta, no qual contra uma motivada Indonésia não passou do empate a zero. Dois resultados catastróficos para os australianos, sabendo que numa disputa real de vaga direta com eles mais Japão e Arábia Saudita, os pontos conquistados contra os times mais “fracos” do grupo farão uma enorme diferença na parte final da Eliminatória. A Austrália hoje está em quinto lugar na tabela, ou seja, vice-lanterna e nem pra quarta fase (o segundo “match point” iria.

Pra fechar, a Arábia Saudita de Roberto Mancini é uma grande incógnita desde que o italiano assumiu o cargo ano passado. Não fez uma boa Copa da Ásia e o rendimento não melhorar mesmo tendo um plantel com boas peças individuais. Na estreia, os sauditas não passaram do empate em casa por 1–1 contra a ascendente seleção indonésia com o grande craque e 10 do time, Salem Al Dawsari, perdendo um pênalti decisivo que o jovem goleiro Maarten Paes defendeu. No entanto, apesar das atuações apagadas, a Arábia Saudita venceu a China (que tentava juntar os cacos da humilhação histórica perante o Japão) na segunda rodada em Dalian por 2–1 com dois gols do zagueiro Hassan Kadesh (incluindo um gol de cabeça nos acréscimos finais do jogo) e com isso, os Falcões Verdes assumiram a segunda colocação do Grupo C. Respira aliviado (por enquanto) tanto os sauditas quanto Mancini.

Terminamos a Data-FIFA das primeiras duas rodadas das Eliminatórias Asiáticas para 2026 e no próximo resumo teremos jogos decisivos como Uzbequistão x Irã, Coreia do Sul x Jordânia e Iraque e claro, a rodada dupla do Japão contra Arábia Saudita fora e Austrália em casa. Vocês não podem perder por esperar!

--

--

Bruno Miotto
Bruno Miotto

Written by Bruno Miotto

Criador de conteúdo formado em Jornalismo pela UniToledo Wyden Araçatuba. Futebol asiático masculino e feminino pelo Japão FC (@japaofcbr). #ActuallyAutistic

No responses yet