Uma estreia mortal — no bom sentido

Arrisco dizer: “Pecado Mortal” pode ser a melhor novela já produzida pela Record

Bruno Viterbo

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A estreia do autor Carlos Lombardi — que deixou a Globo após 30 anos — foi cercada de muita expectativa. Afinal, um dos autores de maior sucesso da Globo (“Bebê a Bordo”, “Quatro por Quatro”, “O Quinto dos Infernos”, “Uga-Uga”, “Kubanacan”) saiu para apostar numa emissora que ainda tenta encontrar um rumo para a produção de telenovelas, com sucessos e fracassos. A estreia já confirmou que foi uma decisão acertada, já que Lombardi era pouco aproveitado nos últimos anos.

Cenografia: alto investimento compensado num ótimo produto (para o padrão Record)

“Pecado Mortal” juntou todos os ingredientes das novelas do autor: muita ação, humor e o apelo sexual, sempre na medida. Foi uma hora ininterrupta de capítulo, bem editado e, mais ainda, com uma cenografia e trilha sonoras de fazer inveja. A ambientação no Rio de Janeiro dos anos 70 é impecável e a trilha nostálgica — sempre bem inserida — compõem a história que tem como pano de fundo a disputa entre o jogo do bicho e o início do tráfico nos morros cariocas. Os anos 70 são um período pouco contado em novelas — salvo algumas minisséries —, menos ainda as contravenções, fazendo da história praticamente uma novidade. As chamadas da novela já mostravam que a emissora não estava de brincadeira.

O elenco de “Pecado Mortal”

A história começa nos anos 40 — com mortes e tudo o mais — e salta para os anos 70. A identificação das personagens, num esquema “antes e depois” foi muito bem feito: uma montagem mostrava o passado na situação do presente. O resto é tiro, morte, disputa de mulheres por filhos, casais apaixonados, mulheres maravilhosas, homens descamisados, e ação. Paloma Duarte (a bad girl da foto acima, Doroteia) já deu a letra: uma mulher gostosona, que não se importa em atropelar um de seus casos com seu “possante”.

Essa estreia, movimentada para atrair a atenção do telespectador é um expediente já conhecido. Por um milagre, a Record estreou a novela no horário marcado, às 22:30. As cenas de ação (que a Record sabe fazer muito bem, é verdade) foram ótimas: perseguições, tiros, sangue (finalmente!) e uma história envolvente pode fazer de “Pecado Mortal” a melhor novela já feita pela emissora. O elenco (Jussara freire, Luiz Guilherme, Betty Faria, Heitor Martinez, Simone Spoladore, Fernando Pavão, entre outros), pelo menos nesse primeiro capítulo, mostrou-se afiado. A abertura com os personagens estáticos, mas com a cena em movimento é criativa e a trilha, não poderia ser melhor: dá-lhe anos 70!

Máfia à brasileira: Michele (Luiz Guilherme, ao centro), é o dono da boca

“Pecado Mortal” é um respiro diante de uma dramaturgia da Record em frangalhos: as demissões no meio da antecessora, “Dona Xepa” e os fracassos de crítica e audiência anteriores no horário (“Máscaras” e “Balacobaco”) podem — e deverão — ser esquecidos. A nova produção da Record convenceu, e muito. Junte a isso um elenco bem escalado, caracterização, trilha sonora, alto investimento e — fundamental — uma boa história. Não por acaso, a trama foi anunciada como “a nova superprodução da Record”. A receita parece simples, mas é esperar pra ver. A estreia marcou entre 10 e 11 pontos de média, assegurando a vice.

Para finalizar: o roteiro de Carlos Lombardi mostra que: sim, numa novela, o autor é quem dá as cartas. A história é um compilado de outras histórias e tramas, muito bem amarradas e produzidas.

E digo mais: os haters podem me matar, mas percebi algo de Quentin Tarantino. Ou vai dizer que as “tarantinagens” não estavam lá: trilha setentista, sex appeal, tiro, porrada, perseguição, sangue…

P.S.: a Record já mudou o horário de exibição. O segundo capítulo será exibido às 23h. Mas por um bom motivo: a Globo (vejam só, a Globo) provavelmente ficou com “medo” e durante essa semana tem esticado seus horários. “Amor à Vida” terminará perto das 23h, como vem terminando desde segunda. Quem diria…

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Bruno Viterbo

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.