Será que a Bel Pesce aprendeu mesmo a lição?

Bru Paese
6 min readAug 27, 2016

Nos últimos dias, a Menina do Vale aprendeu muito sobre a vida e sobre os negócios, e disse isso há pouco em seu Facebook.

https://catracalivre.com.br/geral/educacao-3/indicacao/10-cursos-sobre-empreendedorismo-com-bel-pesce-a-menina-do-vale/

Mas será que ela aprendeu a seguinte lição?

Não construa uma imagem insólita sem embasamento, o tempo é implacável e a verdade hora ou outra vem à tona

Quando decidi escrever e buscar ser uma referência sobre empreendedorismo, conversei com um amigo e ele foi duro comigo — agradeço — dizendo que eu não deveria falar de algo em que nunca tive grandes êxitos. Por questões de autoridade, eu não deveria querer ser uma referência antes de ser uma; mesmo tendo uma faculdade de administração e um MBA em gestão estratégica de empresas, alguns negócios testados, tendo passado e contribuído em mais de 250 empresas, eu não tinha um respaldo para solidificar minha fala. Foi ali que eu mudei o discurso de “faça isso” para “eu tento fazer isso”, o que não garante nada, pois falar de empreendedorismo e inovação sem ter nada (ainda) grandioso para mostrar a respeito é frágil demais.

E aqui entra o marketing.

Bel Pesce fez seu nome por ter estudado no MIT, trabalhado no Google e Microsoft e ter ajudado a construir uma empresa, a Lemon, no Vale do Silício. Brilhante, né?! Seria, se os trabalhos no Google e na Microsoft não fossem um estágio de 3 meses de verão e se ela fosse co-founder das empresas citadas ou alguma coisa mais efetiva por lá.

Eu conheço muita gente nessa vida, meu DataEu é bem sofisticado, gente de todo canto, de diversas áreas, rico, pobre, gente que passou por variadas situações e tem muita divergência de opinião e visão de mundo. Tem gente que trabalha (mesmo) no Google, pra Amazon, startups brasileiras incríveis, empreendedores que são reis no Vale do Silício, que estudam ou estudaram no MIT, Harvard, Stanford, Oxford, Erasmus de Rotterdam (considerada a melhor escola de empreendedorismo do mundo*), gente que representa o governo francês na União Europeia, diretor de multinacional, vice-presidente de multinacional, milionário, multimilionário — infelizmente não conheço nenhum bilionário — etc. O que quero dizer com isso?

Conheço no mínimo umas 50 pessoas que são 10 vezes mais importantes e com histórias que realmente valem a pena ser exploradas, mas não são, seja por opção ou por falta de oportunidade.

Quando eu conheci a Bel Pesce, realmente fiquei empolgada para ouvir o que ela tinha para falar. Eu amo gente foda, que fez coisas que nunca fiz, que consegue cativar e ser reconhecida, enfim, eu gosto de gente brilhante.

Li o livro dela, achei bacana, bem escrito, nada glorioso, primoroso ou fora de série, mas atende bem à proposta. Comecei a ver os vídeos, a segui-la no Twitter, a acompanhar no Periscope e foi ali, bem no meio daquela vontade de consumir um mundo o qual não tive a oportunidade de conhecer, que tive uma frustração bem grande.

O conhecimento que ela passava era tão profundo quanto um discurso da Dilma, mais raso que o nível a que chegou a Cantareira. Algo como: “Essa empresa é top, é show, o que eles fazem é muito 10!”, “Empreender só depende de você”, “vá atrás dos seus sonhos”, “faça meta do dia”; sobre o negócio dela: “um negócio disruptivo, inovador, disruptamente novo”. Foi ali que fui atrás para entender quem era e porque ela tinha se tornado quem era. Essa conta não fechava. Deixei pra lá, não sou obrigada a consumir o que não quero e quem quiser que consuma. Ponto final!

Segui a vida… até que, no início deste ano, fiz um post questionando os “empreendedores motivacionais”, porque de repente eles se multiplicaram na internet. Eu não aguentava mais meta do dia, frases motivacionais, usei a expressão “essa geração Bel Pesce é legal, mas a gente precisa mais no nosso dia a dia”. A crítica não era a ela, mas ao modelo replicado exaustivamente por diversas outras pessoas que se inspiraram nela.

https://www.facebook.com/groups/startupbrasil/permalink/982039795201064/

Foi uma muvuca só. Aparentemente as pessoas tinham muito para falar sobre isso.

Conheci muita gente incrível por causa disso, inclusive uma das pessoas que me ajudaram a estruturar o atual projeto em que estou trabalhando. Até brinquei que, se desse certo, eu faria um post “Como a Bel Pesce me ajudou a ganhar meus primeiros milhões”.

Eu fui chamada de invejosa, diversas vezes, e coisa pior. Vieram dizer que a conheciam, que ela é um doce e que era muito feio falar publicamente de uma pessoa — mesmo essa pessoa sendo uma pessoa pública?! Ué?! . O Murilo Gun, outra pessoa questionável, me chamou de “Bruna alguma coisa” em seu podcast, e assim por diante.

Foi nesse momento que percebi que a Menina do Vale tinha virado, graças a ela mesma e sua constante autopromoção, um mito. E como todo famoso fruto da internet, de suas legiões incontáveis de fanáticos seguidores, é praticamente impossível questionar sem que os fãs da pessoa venham argumentar que você está criticando porque está com inveja. \_(o.O)

Recomendo a leitura do texto do Rob Gordon sobre isso.

Vi no Facebook de uma Amigo

A Bel vende e sempre vendeu o produto que ela construiu chamado “Bel Pesce”, todas as suas empresas são para fomentar esse mesmo produto. E ela faz isso de forma magistral.

Há mérito nesse imbróglio todo, nunca foi isso a ser questionado, o ponto que muita gente sempre levantou e que nos próximos meses ainda vão levantar é como uma pessoa pode se vender como suprassumo do empreendedorismo e inovação se o grande feito dela seja apenas e justamente ter feito sucesso por ensinar outras pessoas a empreenderem, e só.

É o mesmo que eu vender cursos caríssimos para ensinar outras pessoas a ficarem ricas, contando que fiquei rica, ensinando outras pessoas a ficarem ricas e esse ciclo não tem fim.

E vou além, por que cargas d’água a gente escolhe líderes médios que tentam vender ilusões, fazem desserviço ao empreendedorismo dizendo que são e acontecem e que empreender só depende de você, cobrando e cobrando caro por cursos, palestras, chaveiro, hambúrguer e passeio no Peru?

Enquanto a maioria dos empreendedores brasileiros abrem hamburgueria com R$15 mil reais num trailer com o dinheiro que passaram os últimos 65 anos juntando.

Se o problema for falta de referência, posso fazer uma lista de dezenas de pessoas realmente interessantes de serem admiradas por empreender honestamente e inovar disruptamente (existem grandes projetos no Brasil inteiro, principalmente no Norte e Nordeste).

Agora, não sei se a Bel aprendeu essa lição. Mas aprendemos, todos juntos, que estudar no MIT e estagiar no Google não ensina a abrir hamburgueria através de financiamento coletivo.

Hamburgueria ‘Zebeléo’ não vai ter mais financiamento coletivo, anuncia Bel Pesce

Obs.: Um dia ainda quero ter a oportunidade de me redimir da inveja que sinto, até lá, vou continuar questionando processos, ações e pessoas que estejam em desacordo com as minhas crenças, valores e princípios.

Obs².: Fiquem tranquilos que me policio diariamente para ser melhor que minhas próprias críticas.

Obs³.: Ofensas serão deletadas.

*ERRATA: A fonte de informação sobre a melhor escolha de empreendedorismo do mundo é baseada em uma busca de dois anos atrás que é possível ainda encontrar nesse link. http://www.innovationmanagement.se/2014/07/30/top-10-masters-in-innovation-management-worldwide/

Nesse ano o ranking mudou http://www.best-masters.com/ranking-master-entrepreneurship.html e hoje a Erasmus de Rotterdam ocupa a 5a colocação.

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Bru Paese

Ajudo empresas a identificar falhas e problemas invisíveis a maioria das pessoas, trazendo soluções e fomentando a inovação. 📠 contato@tambor.biz