Por que seus dados valem tanto?

Thiago Brandt
4 min readMay 19, 2020

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Vou te contar uma história.

Photo by Yeh Xintong on Unsplash

Seu Miguel é dono da padoca do bairro. Vindo de Portugal nos anos 80, despediu-se das terras lusitanas após sua esposa falecer.

Miguel é aquele clássico tiozinho do bairro, conhece todas as famílias e tem uma proximidade grande com seus clientes mais antigos. Seu Zé é um deles.

Todo dia o Zé chega na padoca, 7 em ponto. Senta no mesmo banquinho lá na ponta esquerda do balcão. Perto daqueles potes de balas vermelhos, bem antigos. Pede um misto quente, um café pingado e o jornal do dia.

Mas no final do dia, voltando pra casa, o Zé sempre para na frente da padoca, senta pra ver o movimento e pede um martelinho de Pitú.

Há 15 anos, o Zé é cliente fiel de Seu Miguel. Logo no 5º ano, o dono da padoca propôs ao velho amigo pagar apenas o "juntado" no começo do mês, logo que recebesse a sua aposentadoria.

Quando ele chega de manhã, o jornal já o espera no balcão. O prato com seus misto quente e o pingado vem pouco depois dele sentar. Seu Zé não precisa mais fazer pedido nenhum, cliente fiel, já recebe o desejado.

E aí, Zé! Vai um cupom de desconto pra esquentar essa noite fria na quarentena?

Você é o Seu Zé. Você tem um comportamento baseado em repetição e consistência, em meio a um mar de dados que trafegam de todos os seus aparelhos e todas suas pegadas pela internet.

E o Seu Miguel?

Multiplica o dono da padoca por mil, talvez 10 mil.

Ele sabe que hora você acorda, que horas sai de casa. Qual ônibus pegou, em qual padoca parou pro café, até qual cartão usou. Onde trabalha, qual profissão você tem. Quem é seu colega, mas quem não é e almoça com você. Dá pra dizer até que prato você comeu. Talvez ele saiba até onde você dormiu fora de casa! Será que foi o único a dormir lá essa semana? Hmm.

Miguel é esse carinha aí, que você desliga antes de dormir e certamente é a primeira vista quando acorda. Seu smartphone.

Seus dados são o seu comportamento no dia-a-dia, daria pra saber praticamente tudo sobre sua vida. Mas como pro dono da padoca, nem toda informação é útil… não faz sentido.

Ser amigável e te oferecer um serviço que você consuma de forma recorrente, isso basta. O que estiver fora disso, talvez ele passe adiante pra outra pessoa.

Seu Miguel ouviu falar que a Dona Geórgia estava vendendo sua TV, acabou que o Paulo, filho do Seu Mateus estava precisando de uma. Ele passa isso adiante.

Dados são produtos e serviços

As grandes empresas (google, facebook, twitter) alugam seus dados para outras empresas te oferecerem produtos e serviços. "To precisando de uma calça de moletom nova". Talvez essa loja aqui no Instagram tenha uma promoção do que você precisa.

Fui numa festa ontem e acordei de ressaca! Esse novo produto tipo Engov que apareceu num vídeo aqui no Youtube parece o que eu preciso pra aliviar.

Assim como o Seu Miguel conhece seus clientes, a tecnologia coleta informação pra nos oferecer aquilo que precisamos.

Mas como isso envolve uma infraestrutura absurda, além de dados crus terem que ser refinados e enriquecidos com informações anteriores, acontece coisas como você falar numa conversa que "a vida é um jogo" e parecer uma propaganda do Jogo da Vida. Nada é perfeito, certo?

Mas por que esses dados valem tanto?

A partir do momento que você baixa um aplicativo, você inicia a relação com uma empresa e ela não sabe nada sobre você. Quando ela descobre seu gosto por uma pizza sexta à noite, pra que te oferecer um sushi? Se você for vegano, não vai ver um cupom de desconto pra uma churrascaria, né.

Os dados são usados pra economizar tempo. Porque uma publicidade sem audiência definida, vai perder efetividade. O custo da empresa aumenta, o tempo pra conseguir clientes demora e o serviço pode ficar mais caro.

Quanto mais uma empresa conhece o seu cliente, menos tempo ela gasta pra te oferecer aquilo que você quer ou precisa.

Por incrível que pareça, as empresas que mais coletam seus dados são as que não te vendem nada. Então, quando uma empresa menor tem uma relação direta com você, ela consegue usar isso de forma mais assertiva e benéfica. Sua privacidade fica menos comprometida no Burger do bairro do que no Whatsapp.

Não há como viver fora da tecnologia e ter todos os seus dados fechados em uma caixinha.

Mas não quer dizer que você, Augusto precise se preocupar. Alguém lá do outro lado do continente, não vai saber que dormiu na casa do Tomás. Você é só um número, com um comportamento metrificado.

Graças a escândalos recentes, há leis mais rígidas no que tange a privacidade das pessoas. A tecnologia está aí pra nos servir, basta sabermos fazer bom uso dela. Ponto pra nós.

Prefira os produtos e serviços que estejam aí pertinho de você. Ponto pra todos.

Martelinho de pitú, antes que a padoca feche!

Photo by chuttersnap on Unsplash

Qual dessas o meu cliente gosta?

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Thiago Brandt

Especialista em aplicativos e negócios mobile. Inovação é uma arte e tecnologia uma paixão!