Confissões de uma Máscara de Crânio.

Necrophilia Variations — Supervert.

cachalote pigmeu
4 min readMar 22, 2018
@kerb_crawler_g on instagram

Estávamos em uma festa, você e eu, comemorando algo sem importância. Tinha muita bebida. A festa foi para as horas mais escuras da noite. Alguém trouxe uma câmera para gravar a bagunça. Seu namorado estava sentado em uma mesa com outros homens, bebendo. E você estava lá ao lado dele, com a mão sob sua coxa. A câmera foi até vocês e os incentivou a serem espirituosos para o futuro. Brincadeiras foram feitas. Caras engraçadas e gestos obscenos foram direcionados para a câmera. Eu estava deitado na mesa, seu namorado me pegou, enfiou o rosto no meu, passou o elástico barato pela cabeça e ele e eu fomos para a câmera juntos. Por um momento, ele era a morte personificada como um homem bêbado. Ou eu era um anjo da morte embriagado?

Você, minha querida, virou-se e atuando para câmera empurrou a sua língua através da minha boca de plástico e na dele. Você estava beijando de língua a personificação da morte. Eu pude sentir sua respiração e compartilhar sua saliva alcoólica. Seus amigos aplaudiram. O beijo acabou, mas então, amor, você não conseguia puxar sua língua pra fora da minha cara. Meus lábios de plástico tinham apertado, como uma armadilha de dedo chinesa. Você estremeceu, puxou, fez um tipo de grito de boca aberta e gargarejo. Os homens na mesa riram e zombaram. Finalmente você conseguiu tirar seu pequeno músculo de amor, mas não sem cortá-lo na ponta afiada dos meus lábios. Depois, o vídeo mostrou claramente o sangue doce em sua língua. Se você estivesse sóbria, talvez achasse simbólico. Você pode beijar o parceiro de outra pessoa e sair impune. Você pode beijar alguém do mesmo sexo com quase impunidade. Você pode dar um beijo incestuoso escondido. Você pode beijar um cachorro na língua ou trocar êxtases com ratos de laboratório. Mas você não pode beijar a morte sem que a morte te beije de volta. A morte é um grande beijoqueiro. Eu mordo seus lábios, mastigo sua língua, deixo um gostinho de sangue em sua boca como um presságio das coisas que estão por vir. Se eu fosse te beijar entre as pernas, você também veria um pouco de sangue e pensaria que sua menstruação chegou mais cedo. Mas não seria sua menstruação, amor. Seria sua ruína, uma máscara de caveira com seu clitóris na boca.

A morte é louca por você. A morte te ama. Você me ama também? Não sou carente, mas gosto de intimidade, especialmente com você, querida. Continue. Coloque seu rosto no meu. Eu gosto de sentir seus lábios quentes no meu rosto inerte. Eu gosto de sentir seus cílios fazendo cócegas em minhas órbitas vazias. Um dia vou deslizar meu rosto pelo seu também, e então vamos experimentar outro tipo de intimidade. Eu estarei dentro de você, como um amante. Eu vou te beijar por dentro e você vai sentir calafrios. Você terá arrepios das coxas até a sua espinha. Vou te levar para minha cama e vamos nos deitar ali aninhados nos braços um do outro — pelos menos enquanto você tiver braços. E mesmo assim, quando você for uma poeira horrorosa, eu permanecerei verdadeiro. Eu sou a morte, e quando a morte te ama, é para sempre.

E por quê você não me amaria de volta? Eu sei que às vezes você fantasia comigo. Você deita na cama a noite se perguntando como e quando virei e como ficarei quando fizer. Se sou um cavaleiro de armaduras? Um cachorro dos inferno? Pareço um vampiro? Um esqueleto? Um fantasma? Você me imagina te levando em meus braços, te abraçando, te confortando. “Ali” eu digo, beijando suas lágrimas. “Farei as coisas ruins irem embora, a vida não será mais um fardo para você. Eu prometo.”

E então eu puxo a cortina para revelar um novo mundo maravilhoso, como uma festa, um motim. Um Carnaval, como um festival de Halloween, o Dia dos Mortos. E é muito divertido se entregar a desgraça inevitável. A vida é curta! Aproveite o dia! Vá em frente, amor. Aproveite-me. Finja que você sou eu. Veja o mundo através das minhas órbitas. Ria, viva, ame — enquanto você pode. Coma, beba e seja feliz. O que você acha que eu faço? Eu sou a morte e rio e me divirto também. Eu danço com esqueletos e faço crânios de cálice — para beber do crânio, você deveria provar sabe, é muito bom. Quando seus cérebros se forem, o que poderia ser mais nobre do que substituí-lo por vinho?

Morte bêbada, louca pela mortalidade. Overdose de narcótico necrótico. Língua no crânio. Ria da máscara. Brinque com o destino. Dance, flerte com perigo. Ria do bizarro. Desça com as cabeças mortas. Beije os lábios sujos de um cadáver. Ria. Beba. Dance. Cabeças vazias sabem como se divertir, os esqueletos balançam.

Quando você é um crânio o seu cérebro se foi, você tem todas as desculpas. Você não pode dizer que pensaria melhor porque você não tem com o que pensar. Eu sou a justificativa, diz a máscara de crânio, para o tempo da sua vida. Todo mundo em um círculo juntam as mãos e cantam; “Vamos todos morrer!”.

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