"Defund the Police" ou Abolicionismo Policial — Por que precisamos acabar com a Policia.
Em meio à complexidade das questões sociais que nosso mundo contemporâneo enfrenta, uma delas exige um escrutínio mais detalhado — a violência. Para entender e combater a violência de forma eficaz, devemos identificar suas origens, e uma das causas mais significativas é a desigualdade. A desigualdade social e econômica não apenas perpetua um ciclo de pobreza e exclusão, mas também alimenta o crime e a violência. Ao contrário de apenas tratar os sintomas, faz muito mais sentido investir em soluções que visem a causa raiz do problema. Infelizmente, nossa sociedade parece inclinada a financiar um sistema repressivo que é mais um paliativo ineficaz do que uma solução para o problema da violência.
Isso fica evidente quando observamos países que conseguiram manter baixos níveis de desigualdade, como a Noruega e a Dinamarca. Em tais nações, a presença ostensiva da polícia é quase inexistente, sugerindo que um ambiente mais igualitário é menos propício para o crime. Esta observação também é válida para países com um sistema socialista, como Cuba e China, onde a presença de forças policiais é sutil e a criminalidade é notavelmente baixa.
No entanto, no modelo atual, a polícia não apenas consome uma parte significativa do orçamento público, mas também demonstra uma taxa de resolução de casos extremamente baixa. É paradoxal que os policiais, treinados para lidar com situações de alta tensão e conflito, se vejam frequentemente envolvidos na resolução de questões sociais de menor gravidade, como brigas de vizinhos, disputas domésticas e perturbação do sossego por festas barulhentas.
Pior ainda é a baixa taxa de resolução de crimes sexuais. Apesar da gravidade desses crimes e do trauma duradouro que eles causam às vítimas, muitos desses casos permanecem sem solução, reforçando a sensação de impunidade e perpetuando a violência. A necessidade de reformas estruturais na abordagem desses crimes é urgente para proteger as vítimas e garantir justiça.
A solução mais eficaz para muitos desses problemas pode ser encontrada na figura do assistente social. Diferentemente dos policiais, os assistentes sociais são treinados em resolução de conflitos e psicologia, equipando-os com as ferramentas necessárias para lidar com esses desafios sociais de forma eficaz e sensível.
A perspectiva que eu defendo vai além de simplesmente desinvestir na polícia. Sugiro uma reorientação dos recursos: ao invés de contratar mais policiais ou aumentar o orçamento para a polícia, deveríamos alocar esse dinheiro para abordar a desigualdade — a causa fundamental da violência.
É importante lembrar que essa é uma solução de longo prazo. Pode levar de 20 a 30 anos para vermos o impacto total dessas mudanças, mas é uma abordagem muito mais viável do que a mentalidade de “solução única” que temos adotado.
Além disso, a descriminalização imediata das drogas e a libertação de todas as pessoas presas por crimes unicamente relacionados às drogas podem acelerar significativamente esse processo. É importante entender que muitas pessoas encarceradas por crimes relacionados a drogas são vítimas de um sistema que as marginaliza e lhes oferece poucas alternativas. A descriminalização poderia liberar recursos para programas de reabilitação e reintegração, reduzindo a reincidência criminal e proporcionando a essas pessoas uma chance real de reiniciar suas vidas.
Essas medidas, embora pareçam radicais para alguns, são uma resposta necessária à nossa atual crise social. Se quisermos ver uma mudança real e duradoura, precisamos mudar a maneira como pensamos sobre a segurança pública, a justiça penal e o papel do Estado na vida de seus cidadãos.
Estou também contra a existência de um sistema penal no seu formato atual. Embora possa parecer extremo, é uma visão que se baseia no reconhecimento de que a punição por si só raramente resulta em reforma. Ao invés disso, cria um ciclo de criminalidade, alimentado pela exclusão social e econômica. Ao redirecionar nosso foco do castigo para a prevenção, reintegração e restauração, podemos começar a quebrar esse ciclo.
No entanto, esse é um tópico complexo e abrangente que merece uma conversa mais aprofundada. Por enquanto, concentrando-se na redução da desigualdade, na reforma do nosso sistema policial e penal, e na reorientação dos nossos recursos para abordar as causas da violência em vez de simplesmente tratar os seus sintomas, podemos começar a construir uma sociedade mais justa, igualitária e segura.
Lembre-se, a mudança significativa leva tempo e requer a vontade de questionar e transformar as estruturas existentes. Porém, esses são passos necessários se quisermos criar um futuro mais pacífico e inclusivo para todos.