DA HUMILDADE

Mensagem de Maria, por Zilda Gama, “Diario dos Invisiveis”, 1929

KnowSpiritism
5 min readAug 21, 2023

Aos que desejam progredir.

Sabeis, todos vós que palmilhaes este sombrio Planeta, que são os vossos defeitos psychicos e o vosso proceder iniquo os unicos adversarios de vossa felicidade, nesta como em porvindouras gerações. Não podeis ser venturosos emquanto vossas almas estiverem offuscadas pelas transgressões moraes.

Ai! quão longe está ainda a humanidade da comprehensão de seus deveres para com o Eterno e os seus companheiros de peregrinações terrenas!

Como se deixa subjugar pelas paixões e pelos vicios, e, após tantos damnos causados ao proprio ser, quer que o Omnipotente lhe seja prodigo em bençãos e mercês — aspiradas pelos corações ávidos de gosos e ambições mundanas, sem nenhum vislumbre de humildade, implorando-lhe apenas concessões de bens materiaes!

Os povos cultos que, felizmente, já se despojaram de alguns sentimentos malsãos, de odiosidade por differenças de raças e religiões, de conquistas bellicas, ainda se deixam assenhorear por um dos mais implacaveis tyrannos da humanidade — o Orgulho! Este, é o despota que predomina em quasi todas as classes sociaes, mormente nas abastadas. Obscurece elle as consciencias de quasi todos os blasonados, opulentos e portadores de pergaminhos scientificos dos que têm amor ao poderio, ás honras, ao fausto, julgando-se elles acima das collectividades que, penosamente, auferem meios de subsistencia.

Lembram-se muito de si proprios e pouco do Creador do Universo emquanto possuem palacios e desfructam vida principesca…

Um dia, porém, a Morte — a niveladora dos monarchas ao mais anonymo obreiro, a ceifadora de almas que não distingue o sceptro do alvião para decepar os élos que os prendem ás effigies carnaes — arrebata os que têm peculios nas casas bancarias, um acervo de gosos, de poucos actos meritorios, de muitos desvarios e aggravos para com o nosso proximo e para com o fulgido Factor do Illimitado… Este, então, em um de seus doutos designios — fundados no Direito celeste, — Soberano integro e imparcial, decreta o retorno a este planeta d’aquelle que era soberbo, impiedoso, implacavel, autoritario… ao seio de obscura familia de proletario.

Mais tarde torna-se elle um jornaleiro espesinhado, que conhece a existencia amargurada, dos que não têm conforto, dos que, ás vezes, não possuem uma codea de pão para saciar a fome que lhes devora as entranhas; supporta o desditoso os vexames por que passam os desherdados da fortuna, dos desconsiderados na sociedade, dos que vivem na obscuridade e em penuria incessante…

No emtanto, justamente nessas horas de angustia é que o seu espirito se desprende dos detritos do Mal, se corrige dos desvarios das éras transcorridas em explendores mundanos, em apparatos, e se alça ao Firmamento e implora ao Omnipotente, com fervor e contricção, animo para supportar christãmente os seus infortunios!

Chegam, então, nesses instantes bemditos, aos páramos ethereos, suas vibrantes preces — como se fossem uma harmonia inebriante ou a essencia de uma açucena, a qual se evola de suas petalas de neve perfumosa, aureolando-lhe a fonte de luz, tornando-a mais rutila do que se ostentasse um corôa regia, scintillante de gemmas custosas, como outr’ora…

Todos vós, pois, Irmãos queridos, que padeceis desventuras e decepções abençoae-as e ás vossas lagrimas, pois a vossa regeneração requer um estagio dolorosissimo, e os escolhidos para a marcha triumphal ascendente para a Perfeição animica são os que soffrem, e não os que gosam!

Tendes de percorrer, em diversas avataras, todas as alcantiladas veredas da Dor, a Via Crucis das reparações proveitosas. As vossas almas, que eram de reprobos, depois de despojadas de suas maculas, terão a alvura dos lyrios e da contextura das estrellas, que fascinam os vossos olhares, engastadas no zimborio celeste!

Séde, sobretudo, despidos de orgulho. Não vos vexeis por não terdes roupagens attrahentes, alimentos saborosos…

Deixae que os vossos espiritos se impregnem deste suavissimo aroma, desta melodia dulcissima e angelica que os podem arrebatar ás regiões sideraes — humildade e prece.

Sêde humildes de coração e de desejos. Rogae ao Altissimo dons psychicos e nunca regalias sociaes, pois Elle sabe do que careceis e conhece as creaturas pelas supplicas que lhe fazem.

Ha rogos que, sempre, são attendidos — os d’aquelles que aspiram evoluir moralmente, avançar nos conhecimentos uteis á humanidade, alcançar victorias sobre si proprios — outros que podem acarretar novas expiações — os d’aquelles que imploram fortuna para satisfazer almejos immoderados ou impulsos, perpetrar vinganças, saciar gosos nocivos ás suas almas!

Eis, amados irmãos, o que tinha a dizer-vos. Terminando os meus conselhos amistosos, ainda vos dirijo este appello: segui os dictames de vossos Instructores sideraes e nenhum outro. Bem mais proficuo posso desejar-vos.

Quando implorardes dons espirituaes ás Entidades impollutas, santificadas pelo martyrio e pelo cumprimento austero de seus deveres terrenos, serão ellas transmissoras de vossas rogativas, interpretes fieis de vossos pensamentos.

Sêde, porém, humildes, rectos na execução de vossos encargos, gratos ao Creador do Universo. Não o esqueçaes em vossos dias de jubilo e opulencia para d’Elle vos lembrardes nos momentos embaraçosos, de rispidas tribulações, querendo que vos liberte de todas ellas, pois é mister que o escopro da Dor vibre em vossas almas, porque só ella vos ha de redimir.

O soffrimento é a sequencia de vossas faltas, de vossos desvios ás Leis sacras e sociaes, nesta e em precedentes existencias.

É o lapidario de vossos espiritos que, aos poucos, vão ficando facetados, suas asperezas desbastadas, seus defeitos desligados e diluidos, e, só então adquirem as refulgencias dos mais raros diamantes de Golconda. Não imprequeis, pois, isenção de soffrimento, porque equivale a rogardes a vossa permanencia no Orbe das Lagrimas, o vosso encarceramento na masmorra da Dor, onde estaes a reparar os vossos delictos.

Só deveis aspirar uma felicidade porvindoura, conquistada lentamente através dos seculos, soffreando os vossos sentimentos, padecendo sem revoltas as vossas penas remissoras, sendo, sobretudo, humildes para com o vosso proximo e para com o Altissimo!

Maria.

QUADROS FLUIDICOS

Quando o medium recebeu a mensagem — Da humildade — apresentaram-se-lhe, pela visão psychica, dois paineis que aqui estão descriptos e que poderão ser interpretados e pintados por algum artista que professe, ou não, a doutrina espirita.

Eil-os:

1.° Quadro
“Final de um festim orgiaco,
Apparece a extremidade de uma mesa onde se vêm lauta ceia, flores, lampadas e um personagem coroado, ebrio, circulado de cortezãos tambem ebrios, empunhando algumas taças espumantes; outros cahidos ao solo”.

2.° Quadro
“Interior de uma mina carbonifera.
Um operario — revelando nos traços physionomicos os do descripto soberano, exhausto, com o alvião ao lado, orando, ajoelhado.
Desce-lhe um resplendor de aurora sobre a fronte, contrastando com o negror da mina de hulha, em que se sepulta em vida diariamente…”

--

--

KnowSpiritism

"No Man, when he has lighted a candle, cover it with a vessel, or put it under a bed; but set it on a candlestick, that they which enter in may see the light."