DAS ASPIRAÇÕES FRUSTRADAS

Mensagem de Allan Kardec, por Zilda Gama, “Diario dos Invisiveis”, 1929

KnowSpiritism
13 min readAug 24, 2023

Parte I

Devia julgar-se ditosa a humanidade, pois nunca lhe falta a protecção dos celestes mensageiros, que a auxiliam a resgatar suavemente os seus desvarios, mas sempre se julga insaciada e aspira, incessantemente, os jubilos terrenos, que, não sendo realizada, fazem-na considerar-se infinitamente infortunada….

Qualquer obice que surja, impedindo a execução de caros projectos, faz germinar no intimo do impaciente o desejo vehemente de morrer, não para evoluir, mas para cessar de padecer, e, suppondo os seus revezes superiores ás suas forças, almeja para remate de todos os seus dissabores, o Nada

Sondae todos os corações — nenhum se julga saciado ou venturoso. Por que?

Eis aqui porque as creaturas se reputam desditosas: a umas falta a opulencia; a outras belleza physica. Algumas não conseguem effectuar seus ideaes mundanos. Muitas necessitam viver á custa de penosos labores. Soffrem injustiças, ingratidão, represalias. Falta-lhes tranquillidade nos lares. Fracassam muitas de suas pretenções e, assim, todas, têm os seus queixumes tanto que, se alguem tentasse reproduzil-os, se tornaria fastidioso.

No entanto ninguem se lembra de que o nosso destino é uma admiravel filigrana lavorada por Deus — o Artista Supremo, — obedece a seus designios maravilhosos e indiscutiveis, e, ás vezes, numa só dor sincera e sem revolta, numa lagrima arrancada ao adypo de nossa alma está architectada a nossa ventura provindoura, lavrado o resgate de um passado umbroso, tecido de crimes e perversidades. Portanto, longe de querer libertar-se do soffrimento, a humanidade devia abençoal-a como o propulsor deifico que érgue o nosso espirito do cháos das iniquidades aos páramos ethereos!

Meditae, pois, irmãos, se é injusto padecer-se a consequencia de innumeros deslises commettidos em outras épocas, patenteados nas paginas da Historia Universal — em que se desnuda toda a barbaridade dos povos primitivos, com toda a sua hediondez, parecendo-nos, por vezes, mais animalisada que as proprias feras. Ponderae se é licito o delinquente gozar prerogativas dos regenerados e santificados pela virtude — a isenção de soffrimentos! Bem vedes que isso não é admissivel.

Ha no passado do genero humano — e tambem no presente — delictos collectivos a saldar.

Reportemo-nos á éra christã, para não devassar mais além os seculos prehistoricos, desde a genese dos racionaes deste planeta: o massacre dos infantes, ordenado por Herodes, o sanguinario tetrarcha da Gallilea. A degollação de Baptista, o precursor das verdades celestes. O supplicio do Nazareno, em que faltou ao povo judaico a menor noção de piedade pela victima inerme do odio dos phariseus e dos sacerdotes imbuidos de idéas erroneas.

O despotismo dos antigos soberanos. As torturas infligidas pelos Inquisidores aos primeiros seres esclarecidos que tentaram libertar-se do guante dos oppressores jesuitas.

O captiveiro, ao principio dos guerreiros vencidos, depois dos indefesos africanos e selvicolas — a macula que denegriu por mais de dois seculos as regiões descobertas por Christovam Colombo.

As traições, as injustiças e o martyrio que padeceu a heroica Joanna d’Arc, a libertadora de Orleans.

A crueldade de Nero e seus asseclas para com os primitivos christãos, emfim, todo esse longo tempo transcorrido, repleto de iniquidades, que os povos hodiernos estão remindo penosamente…

Todos vós — por melhores que hoje sejaes, — tendes a vossa procedencia nos barbaros de outr’ora, e, volvidos millenios, começaes, agora, mais intensamente, a reparar os crimes abominaveis praticados por nossos maiores sanguisedentos, por nossos ancestraes cheios de ferezas, por nós mesmos….

Esse preterito remoto, pleno de torpezas, de monstruosidades, não está extincto, porque as almas, que não perecem nunca, têm vindo dos tempos idos, mais longinquos — como ondas que succedem umas ás outras, ininterruptamente, submergindo-se, logo, no seio quasi infinito dos oceanos, — sobrecarregadas de culpas graves a remir…

Somos dessas éras amarguradas que não desconheceis. Se cada um de per si pudesse rever as ignominias que já perpetrou, — auxiliares que fomos, muitas vezes, dos despotas implacaveis e impiedosos de antanho, tremeria de pavor por si mesmo… Depois, julgaria os padecimentos, que ora lhe pungem o coração, suaves, amenisadas pela clemencia do Creador, em confronto aos tormentos que já infligiu ás suas victimas de outr’ora… No emtanto, apezar da incessante protecção dispensada aos delinquentes, apezar dos cyrineus sideraes, quasi todos são incontentaveis, julgam-se desditos e augmenta desoladoramente o numero de suicidas — os desertores do carcere da dor, onde, cumprindo penas justas e merecidas, poderão resgatar os crimes mais hediondos…

Esses que tombam diariamente com as armas voltadas contra o proprio craneo ou com os tecidos impregnados de toxicos mortiferos, fugindo á vida organica tal um soldado covarde de um campo de batalha, se tivessem coragem moral, confiança nos designios da Providencia, considerar-se-iam ainda venturosos, julgariam leves as expiações com que estavam rehabilitando seus espiritos tenebrosos!

Ninguem, neste planeta, está expurgado de maculas. No vastissimo sanatorio que é o globo terrestre, todos são enfermos da alma, aleijados ou mutilados espirituaes.

Portanto, a exclusão de soffrimentos não póde vigorar aqui, emquanto o genero humano não estiver de todo regenerado, redimido pela virtude, o que não succederá nem nos proximos évos, pois que aos antigos delictos elle encadeia outros, os das actuaes e ulteriores existencias…

A fraqueza humana é incalculavel. Baqueia um espirito, até então bem intencionado e já em marcha para a regeneração, porque lhe fracassou um plano querido, porque se annulou um contracto nupcial, porque lhe morreu um ente amado, porque não obteve uma collocação almejada, porque está enfermo, porque lhe faltam meios de subsistencia… Não desejamos, de modo algum, menosprezar a dor de nosso semelhante, pois, bastas vezes, ella nos lacerou a alma ainda conturbada, em preparo para o seu apuro, que é justamente quando mais arduas são as suas refregas com a adversidade. Tudo isso, bem o sabemos, realmente, não póde deixar de ciliciar os corações sensiveis, constitue angustiosas expiações, se alguem fosse sondar a realidade, a origem de seus pezares, veria, naquelles successos, venturas, e não dissabores… Por que? Sim, uma alliança matrimonial não effectuada e que, se o fosse, trar-lhe-ia grandes e pungentes desgostos. Um emprego perdido que, inesperadamente, poderá ser substituido por outro mais vantajoso. Uma enfermidade dolorosa mas que está lhe saneando o espirito impuro, chagado pelos transvios moraes, e sendo supportada com resignação e coragem, dar-lhe-á direito a uma surprehendente melhoria de condições animicas, conquistando, assim penosa mas meritoriamente, uma felicidade futura. Se padece falta de pão quotidiano é que já o negou aos famintos, ou já o extorquiu aos miseros vassallos ou captivos, quando residia em palacios e não se commovia com a penuria alheia…

Eis como é exercida a justiça divina e como ficam, aos poucos acrysolados pela dor, os espiritos dos reprobos, e, o que lhes parece um Mal deve ser considerado um grande Bem remissor.

É, cada prova um medicamento de sabor deleitavel, mas de effeito benefico; serve elle para restabelecer a saude a um organismo enfermo ou ulcerado, sem o qual teria de ficar, por tempo indeterminado, sujeito a incessantes padecimentos.

De outro modo a humanidade teria de ficar, perpetuamente, degredada em um planeta inferior, saturado de males que são as sequencias dos delictos perpetrados nas éras transcorridas, em que a barbaria, a crueldade e as atrocidades imperaram impunemente.

Eis a origem das expiações terrenas e que, no emtanto, não são supportadas como deviam sel-o.

Reflecti, pois, todos vós que soffreis, tendo um passado polluto a redimir, no que ora vos exponho.

Deveis considerar-vos felizes e julgar generosa a Providencia que faz padecerem as creaturas apenas dores imprescindiveis ao seu progresso animico. É semelhante am medico que decepa um membro gangrenado para evitar que todo o organismo fique contaminado por um virus lethal, que seria irremediavel, se adiasse para mais tarde uma intervenção cirurgica salvadora, a qual, então, parece barbara e impiedosa ao operado!

Como podia estar eximida do soffrimento a actual sociedade, se é constituido por membros que se acham saturados de delictos ainda não remidos e que, com raras excepções, só aspiram o conforto, os gosos, os prazeres mundanos?

Não supportam elles, o mais leve obstaculo, a mais pueril contrariedade sem que fiquem exasperados contra o nosso proximo e o destino.

Julgam-se todos merecedores dos quinhões da felicidade mais integral. E os que possuem alguns conhecimentos scientificos logo se deixam influenciar pelo materialismo e pessimismo, sorriem com superioridade e desdem das cousas transcendentes, como se a sciencia humana já ultrapassasse a do proprio Ser Supremo. E, se deste se lembram, é para o censurar por todos os revezes que lhe succedem, encontrando lacunas em todas as suas obras mais primorosas, como aliás o são, as do Universo…

Não alçam, quasi nunca, o pensamento ao Creador com veneração e reconhecimento, agradecendo-lhe os beneficios incalculaveis que recebem constantemente. Não lhe imploram perdão ou indulgencia para com as faltas que perpetram, nem faculdades moraes para combater as proprias fragilidades de caracter. Quando lhe dirigem qualquer rogativa é sómente para a obtenção de algum beneficio material, de alguma regalia social, o prolongamento de uma vida que terminou já a sua missão terrena.

E, não conseguindo o que aspiram ficam, immediatamente ao insuccesso de seus anhelos, descrentes da bondade do Sempiterno, declarando ás pessoas mais intimas que deixaram de fazer preces, para que não sejam desattendidas…

Esquecem-se, nesses momentos, de que não podem ser derogados os infalliveis Decretos deificos, e, ás vezes, o que lhes parece um bem, no presente, ser-lhes-á, mais tarde motivos de dissabores…

A esses que assim procedem, eu dirijo as seguintes ponderações: se o Omnipotente prolongasse a existencia a todos que lh’a rogassem, as creaturas seriam perpetuadas em seus corpos carnaes, que se debilitam, arruinam-se e invalidam-se com o decorrer dos annos. Tornam-se elles verdadeiros arcabouços e carceres de supplicios para as almas, pois em cada desencarnação é que os espiritos adquirem novos conhecimentos, haurem novas forças para o desempenho de suas tarefas terrenas, afim de que, em ulteriores existencias, possam rehabilitar-se do acervo de faltas commettidas em findas romarias planetarias, conforme os nobilissimos designios do Creador.

Se elle concedesse fortuna e honras, ou realisasse todos os planos ambiciosos dos habitantes dos mundos imperfeitos, a Terra ficaria povoada, quasi totalmente, de fidalgos, titulares, potentados, nababos, decrepitos, que se guerreariam reciprocamente, para augmentar seus dominios e satisfazer suas vaidades. O trabalho santificante desappareceria deste orbe, e, então, é que todos ficariam pauperrimos, porque tudo lhes faltaria, desde que não houvesse mais o incentivo ou a necessidade de ser o labor remunerado, todos queriam reinar e ninguem obedecer…

Parte II

Não terminaria, em dezenas de paginas, se fosse enumerar os perniciosos effeitos de todas as insensatas aspirações humanas saciadas, e, por isso, para não desviar o thema desta palestra espiritual, prosigo, deixando a carge do leitor intelligente alliar ás minhas outras considerações criteriosas.

Tenham todos em mente porém, que, quando o Sempiterno não lhes concede o que desejam, é porque Elle, mais do que nós, sabe aquillo de que carecemos.

Devem, pois, os supplicantes, solicitar o auxilio divino, mas deixar á sua mercê a concessão ou negativa do que pretendem. Não é, como geralmente o fazem, com insistencia e sem admittir indeferimentos que devem recorrer ao patrocinio celestial. Não, não é assim que se implora ao Creador do Universo e sim com o pensamento pleno de veneração, de humildade, de fé inabalavel, murmurando fervorosamente:

“ — Senhor, com o coração repleto de gratidão por todos os beneficios que me tendes feito, confiante em vossa innominavel generosidade, venho recorrer a meu bondoso Pae supplicando-vos a abtenção de…, se fôr de vossa vontade que isso se realise sem prejuizo de meu aperfeiçoamento espiritual.
Submetto-me, porém, ao que sanccionardes, pois os vossos designios são sagrados, sabios e inimitaveis.
Sei que os devo respeitar e com elles me conformar sem lamentos, com verdadeira resignação christã!”

Esta é a invocação do humilde e não daquelles que, ás vezes, possuindo ouro em demasia, promettem ás imagens dos seres aconisados donativos valiosos, construcção de santuarios, roupagens faustosas, joias de elevado preço, festejos pomposos, etc., e esperam com um quasi orgulho e certeza absoluta ser attendidos.

Julgam que serão generosamente remunerados aquelles aos quaes recorreram, — que foram puros, modestos, martyres, sem vaidade!

Si fracassar o que rogaram, arvoram-se em censores da Providencia, pois que se consideram com o inconcurso direito de ter provimento a sua petição, á vista do que haviam promettido, suppondo-a, assim, venal e corrupta, como quasi tudo o que é mundano!

E são assim, quasi sempre, formuladas as implorações ao Eterno, que lh’as não attende porque sabe do que necessitam aquelles que creou.

As vezes, as entidades que foram invocadas para advogar suas causas nem lhe manifestam os seus pedidos, porque, certamente, vexam-se de os dirigir á Magestade Suprema, sabendo que lhes prometteram uma dadiva material. Não se submettem ao rogo de um poderoso da Terra, que tenciona offertar o que lhes é inutil, ornar de purpura ou de preciosos adereços as effigies que as representam aqui, pois ninguem ignora que, quando peregrinaram por este planeta, trajavam-se com modestia, desprezavam o apparato.

Não podem, pois, tomar em consideração, — pelo valor da offerta e sim pela pureza das intenções, — a supplica dos que lh’a fizeram, promettendo-lhes cousas superfluas, o que recusaram quando sujeitas ás contingencias terrenas, e, então, as repellem como offensivas, depois que se tornaram espiritos lucidos, que de cousa alguma carecem deste calabouço de trevas!

Não vos aconselho, entretanto, irmãos soffredores, esquecerdes os que merecem a nossa veneração, aquelles que receberam a palma do martyrio e agora são espiritos fúlgidos.

Não, não é isso o que vos desejo dizer, mas sim que, quando delles vos lembrardes, seja unicamente para serem os vossos intermediarios, os transmissores de Vossas imprecações, pois o que poderão elles vos conceder sem permissão do Omnipotente? Sim, invocae o seu auxilio para patrocinarem vossas causas, mas não vos esqueçaes sobretudo, do Sempiterno, nos momentos de angustia, de inquietação, implorando-lhe a obtenção do que desejardes com humildade e confiança e resignae-vos com a vontade suprema.

Podeis fazer algum voto, mas que não seja com arrogancia, querendo impor, por meio do ouro, a obrigação de ser acolhida a vossa rogativa com real interesse por uma entidade que não pode ser arbitraria e unicamente executa os designios divinos…

Que é que lhes promettem os catholicos? Roupagens principescas, joias, superfluidades, festins pomposos consagrados ás effigies dos suppliciados que, quando em peregrinação terrena, se trajavam singelamente, fugiam ás ostentações, tinham o olhar, o pensamento e a alma voltados para o céu. Não davam o menor apreço ás cousas materiaes e temporaes quando sujeitas ás contingencias humanas e mórmente agora que são agentes sideraes e não possuem a estulta vaidade de ver as imagens que os representam com uma tunica de seda ou velludo adornada de perolas ou diamantes — inuteis até aos encarnados e mais ainda aos que só almejam ornamentar-se com a luz da perfeição espiritual!

Não é, pois, com um voto arrogante, querendo remunerar materialmente um ser immaterial, que alguem ha de obter concessões divinas — como se alguma entidade superior pudesse transgredir as Leis do Monarcha universal, ou lhe fizesse uma supplica ambicionando uma offerta valiosa unicamente para os vaidosos habitantes planetarios mas que, para um espirito evoluido equivale a um punhado de cinza dispersa nos ares…

Quando recorrerdes aos redimidos que reverenciaes para que vosso rogo mereça o beneplacito do Pae clementisimo, fazei uma promessa de valor moral exclusivamente, a saber: soccorrer um enfermo, um desvalido, um delinquente. Praticar um acto de humildade. Reconciliar-se com um adversario. Perdoar uma offensa. Privar-se de um goso mundano. Evitar censuras a nosso proximo. Emfim, praticar tudo quanto exija sacrificio ou possa revelar — após a obtenção do que pretendeis — gratidão, reconhecimento a vossos protectores sideraes e não apparato ou dispendio superfluo e inutil.

Eis o que vos aconselha quem vos deseja o Bem que não fenece e póde elevar-vos aos páramos constellados: soffrei com resignação os vossos tormentos moraes, vossos revezes de fortuna, a fallencia de vossos sonhos mais fagueiros!

O que vos transmitto, elucidado por Instructores celestes, é a mais impolluta verdade e ficae convictos de que o que a humanidade padece actualmente, é a consequencia evidente de grandes delictos individuaes e collectivos.

Vossas caras aspirações não se realisam muitas vezes porque o Passado repercute no Presente e este no Futuro, como o echo precede á vibração, e assim será eternamente!

Se desejaes venturas ineffaveis em uma éra não remota para vossos espiritos nomades, que aqui volverão nas gerações porvindouras, trabalhae agora para que se effectue o que ora constitue o vosso mais caro anhelo.

Não queiraes impor á Providencia a vossa vontade o que Ella se recusa a conceder-vos, nem vos mostreis magoados com algum mallogro de vossos emprehendimentos o que, ás vezes, constitue um beneficio incalculavel para vossas almas em dolorosas provas.

Reflecti que nenhuma concessão divina poderá ser indemnisada, nem permutada por cousas materiaes e inuteis.

Resignae-vos com a derrocada de muitas esperanças, que vereis desfeitas, desfolhadas como rosas colhidas e expostas aos vendavaes. Tende veneração pelo Ente Supremo e respeitae suas leis e seus indiscutiveis designios.

Cumpri as vossas obrigações sociaes e psychicas e, assim procedendo, concorrereis, trabalhareis para a Vossa felicidade porvindoura.

Semeae, agora, num solo fertil e, quando regressardes, depois de uma de vossas excursões ao Espaço, haveis de encontral-o adubado e uberrimo, coberto de vegetação magnifica e todos os fructos e todas as flores que produzir serão colhidas por vós mesmos. É assim que alcançareis o resultado proveitoso de vossos labores actuaes, fruireis as consequencias de vossos esforços, desfructareis a ventura, emfim, que não conseguirdes presentemente e constitue o apanagio dos seres acrysolados nas pugnas do dever e da virtude.

A vida de vossos contemporaneos é plena de decepções, de labores penosos, porque todos estão reparando delictos abominaveis, e, para que, na posteridade seja despida de nuvens tempestuosas, limpida como um céu veneziano na estação primaveril, pura, qual arroio hyalino; para que vossas existencias porvindouras sejam abençoadas pelo Altissimo e bonançosa como um lago tranquillo, — cultivae agora o campo vasto que é o planeta que habitaes, nelle semeando o Bem, a Moral, o trabalho, o Amor ao proximo, os actos de altruismo e de tudo quanto for meritorio e nobre, tudo quanto concorrer para vosso apuro espiritual! Não deserteis das fileiras dos combatentes intrepidos por meio do suicidio.

Não deixeis que, em vossas almas, penetre o atheismo ou o pessimismo, Submettei-vos, com resignação, aos designios do Alto.

Enfrentae com animo severo e forte, as vicissitudes terrenas.

Habituae-vos a abençoal-as e assim despojareis de vossos espiritos as surprezas e as maculas que os entenebrecem, para que nos mesmos irrompa a luz, que é o corollario do cinzelamento moral como a fonte que jorrou de montanha esteril ao contacto do cajado de Moysés, desejoso de mitigar a sede aos hebreus que se dirigiam á sonhada Chanaan, que, para todos nós, existe além, nos páramos ethereos!

Todos vós possuis tambem este cajado magico, qual o do propheta, para, da rocha das provas planetarias fazerdes brotar a lympha diamantina da regeneração, que sacia a sede ardente da alma, quando aspira evoluir — a Vontade, — avigorada por um esforço tenaz, insano, invencivel! E, para o conseguirdes, podereis implorar o auxilio do céo, sem prometterdes remunerar vossos Mentores invisiveis, tributando-lhes unicamente um reconhecimento sincero, que parta do coração contricto e acendrado por todas as virtudes christãs!

Allan Kardec.

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"No Man, when he has lighted a candle, cover it with a vessel, or put it under a bed; but set it on a candlestick, that they which enter in may see the light."