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Prefácio da obra “Na Sombra e Na Luz”, de Victor Hugo, por Zilda Gama

KnowSpiritism
13 min readSep 23, 2023

Leitores:

Não tem outro mérito, senão o da lealdade, este conciso e despretensioso preâmbulo à novela epigrafada — Na sombra e na luz. Antes de iniciardes a sua leitura, atentai, por alguns momentos, no que vos exponho com a máxima lealdade: desde tenra idade sempre tive vocação para a literatura, conseguindo produzir poesias e contos que se acham insertos em jornais e revistas deste e de outros estados brasileiros. Como foi, porém, que os compus? Delineando-os primeiro mentalmente — assim concebia o pensamento que julgava digno de servir de tema para uma produção literária — depois, grafando-os no papel, fazendo contínuas alterações, ampliando idéias, substituindo vocábulos, não conseguindo, nunca, escrever um conto ou um soneto sem emendas ou rasuras. Ora, essas composições considero-as minhas porque representam pensamentos que expus conforme desejava, germinados antes de serem escritos, interpretando emoções minhas, fatos observados por mim, sentimentos meus. Há notável diversidade entre esse meu modo de compor e aquele pelo qual foi grafada esta novela. Relato-vos, pois, singelamente, a sua história, que é a mesma de seis livros por mim escritos, sentindo-me auxiliada por uma influência espiritual.

Havia quase um decênio, em 1912, que eu era sectária da doutrina espiritista, embora não ostensivamente. Não desconhecia as obras fundamentais, e lia, com crescente interesse, os estudos de Leon Denis, de Flammarion, de Paul Gibier, de W. Crookes e de outros eminentes psiquistas, mas nunca havia tido o intuito de escrever algo sobre assuntos transcendentais. Achava-me, em fins do mencionado ano, numa das fases mais dolorosas de minha existência, combalida por íntimos dissabores, e, buscando lenitivo a meus pesares, pus-me a ler — O problema do ser, do destino e da dor — de Leon Denis.

Uma vez, fechando subitamente suas páginas, tive a iniludível intuição de que algum ser invisível desejava corresponder-se comigo, qual já me havia sucedido nos momentos mais angustiosos da vida. Ergui-me do lugar em que me achava e tomei a deliberação de ir à secretária atender à insistente insinuação de alguma entidade imaterial, desejosa, por certo, de me transmitir seus pensamentos. Efetivamente, não me iludira: recebo, por meio da psicografia, um comovente e salutar conselho dado por meu pai (desencarnado em 1903) e outro por uma adorada irmã, poetisa e violinista, desmaterializada pouco antes dele, aos 21 anos de idade, Maria Antonieta Gama, cujo nome era acatado pela imprensa mineira, tendo também colaborado no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Ofereceram-se ambos para me orientar por alguns dias, fizeram-me agir e tomar deliberações que não me haviam ainda ocorrido à mente, e lealmente cumpriram o que me prometeram.

Querendo prestar-lhes um tributo de gratidão e para que se não perdessem seus excelentes ensinamentos, colecionei em um caderno da Livraria Alves, n.º 4, as amistosas mensagens de além-túmulo, escrevendo, na primeira página, com data de 20 de dezembro de 1912, o seguinte: “Coletânea de algumas comunicações de Espíritos amigos e familiares que, quando me vêem sofrer ou carecendo de conselhos e auxílios espirituais, se apiadam de mim e se dignam de mos prodigalizar, bem como o bálsamo de um consolo, que só eles podem ministrar-me, porque conhecem e penetram meus mais íntimos pensamentos…”

Grande foi minha surpresa quando, à noite, tendo tido intuição de que ia receber mais alguma instrução de um ser intangível, tracei a lápis palavras que nem sequer me haviam passado de relance pelo cérebro e, pela primeira vez, obtive a mensagem de uma entidade desconhecida, que, desde então, todos os dias, não mais deixou de se corresponder comigo — Mercedes — de uma dedicação inexcedível, solícita consócia de todos os meus instantes de dor e de raras alegrias, enfim, um dos meus desvelados Guias espirituais.

Meu pasmo não teve limites quando grafei, no final do seu ditado, o seguinte: “Alterai o que escrevestes no princípio do caderno; ides receber inspirações, não só de Espíritos familiares, como de outros que não conhecestes, que não privaram convosco e nos quais nem sequer ainda pensastes. Podeis escrever assim: — A todos vós que vos dignastes inspirar-me boas resoluções e aconselhar-me nas horas de sofrimento e de provações”.

Houve, desse modo, para mim, a revelação de um ente que conhecia, melhor do que eu, o que sucederia comigo e que não ignorava nem o que eu escrevia secretamente… Coisa admirável!

Tive, então, por intermédio de Mercedes, a formal promessa de que iria escrever obras ditadas por agentes siderais, se o quisesse, e, algumas vezes, duvidei dessa asserção.

Como seria crível que produzisse livros de assuntos psíquicos, sem ter sequer uma idéia em mente a explanar e, além disso, assediada por íntimos desgostos e por exaustivos labores inerentes ao magistério?

No entanto, no dia e hora aprazados, comecei a grafar, velozmente, páginas de sã moral, magistrais advertências dirigidas à Humanidade imperfeita, constituindo tudo, para mim, uma surpresa: tema, epígrafe das exortações, nomes de seus signatários!

Minha família quase se alarmou por minha causa, temendo — como é crença geral entre detratores do Espiritismo — que minhas faculdades mentais ficassem desequilibradas ou que a saúde fosse prejudicada, pois, havia muito, a tinha em extremo alterável. Entretanto, as inquietadoras previsões não se realizaram, felizmente: continuei a exercer normalmente as funções concernentes ao magistério e tendo, por vezes, assumido a direção do grupo escolar local, em que leciono, não me sentia fatigada por trabalhar em demasia e o meu organismo não foi danificado.

Prossegui, pois, sem receios, meus estudos sobre o Espiritismo e continuei a receber, pela manhã, durante uma hora, os radiogramas do Espaço.

Nunca tive a pretensão de evocar Espíritos de elevada hierarquia, cujos nomes são venerados pela Humanidade, e, por ter recebido espontaneamente mensagens de alguns deles, ninguém me poderá acusar de imodesta, ou de querer notabilizar-me por meio de glórias alheias, pois nem ao menos meu nome tem figurado nos escritos medianímicos esparsos em diversos jornais brasileiros, enviados por mim. Fiquei surpreendida quando, no final de uma dissertação moral ou religiosa, tracei, pela primeira vez, os nomes gloriosos de Victor Hugo, Allan Kardec e D. Pedro de Alcântara — a tríade lúcida que ditou já seis livros, escritos por mim, sem ter ideado sequer uma página!

Os cadernos em que tenho registrado seus pensamentos e os de outros Espíritos tutelares, grafados todos céleremente, sem nenhuma corrigenda, como verdadeiras reproduções de livros alheios, já perfazem mais de meio cento, e, apesar do tempo limitado de que disponho para a cópia, já foram organizadas as seguintes obras: Revelações, dois tomos, contendo dissertações morais e religiosas, das quais algumas foram publicadas pela Gazeta de Notícias em 1913 e 1914; Diário dos invisíveis, versando educação moral; Na sombra e na luz, novela; um outro livro sobre assuntos filosóficos e uma outra novela, em preparo, quase concluídos presentemente.

Foram todas escritas sem ter eu imaginado previamente nem ao menos os seus títulos. Quando me comunicaram os meus Mentores que iam compor, mediunicamente, uma novela, fiquei perplexa, não crendo que tal se desse; no entanto, à hora convencionada, comecei a traçar o cabeçalho de um livro desconhecido, o da primeira parte, o primeiro capítulo, enfim, tudo quanto constitui os pródromos de um romance, ficando eu, ao passo que minha pena produzia o que não havia sido por mim absolutamente preconcebido, infinitamente admirada. Escrevia, metodicamente, duas páginas por dia (há cadernos quadriculados com mais de 50 pautas), rapidamente preenchidas, em poucos minutos, tendo a impressão de estar lendo, cotidianamente, o folhetim de um jornal, esperando sempre a sua continuação na manhã imediata. Às vezes fantasiava o que sucederia à personagem A ou B, e, entretanto, contra as minhas previsões, verificava depois que me iludira nessas conjeturas, pois escrevia coisa diversa do que havia imaginado. Quando concluí a primeira parte de — Na sombra e na luz — julguei, com alguma decepção, terminada a obra, pois que todos os seus protagonistas haviam desaparecido do cenário da vida; foi, por isso, com progressivo pasmo, que recebi as outras quatro divisões que a completam. Concluída a novela, comecei a copiá-la em tiras de impressão e, mais uma vez, pude observar a inteligência do ser invisível que ma ditou. Fui avisada de que havia necessidade de refundi-la, de serem feitas correções, acrescentamentos, substituição de vocábulos, etc. Efetivamente, nos momentos de trabalho, era mister colocar, ao lado daquela em que escrevia, uma outra tira de papel em branco, para receber à parte as modificações almejadas. A pena corria sutil e rapidamente sobre a que se achava à minha esquerda e, quando ia ser feita alguma alteração, era eu advertida por um rumor suavíssimo, como o frêmito das asas de minúsculo pássaro voando cerce a meus ouvidos, a minha destra parava bruscamente e era impelida, de leve, para a tira que estava à direita, na qual eram grafados outros vocábulos, substituindo os primitivos, ampliando idéias, concluindo detalhes e explicações necessárias à clareza dos pensamentos já expendidos, e, depois, voltava à primeira, prosseguindo a cópia. Muitas vezes, quando era preciso apenas substituir alguma palavra, a caneta, sustida por minha mão — que parece ficar imponderável nos momentos do trabalho psicográfico — era levada suavemente para cima de um termo, cancelava-o, escrevendo outro acima da pauta, um sinônimo quase sempre.

Foram assim traçadas, refundidas e copiadas as páginas da novela — Na sombra e na luz — e de todos os outros livros já mencionados. Deixo de cometer um delito de lesa-consciência, não assinando, como se fossem produções minhas, obras que não preconcebi, nem tive a intenção de escrever? Absolutamente não. Nelas só há o meu trabalho psicográfico e, além deste, encontrareis nesta — intercalados por minha espontânea vontade — dois pensamentos de Hermes.

Duvidais, porém, de que sejam realmente de seus signatários os referidos livros? Por quê? Todos encerram nobreza de sentimentos, magníficas reflexões morais e eu teria grande prazer em assiná-los com o meu obscuro nome, se não temesse praticar uma fraude e uma perfídia para com entidades de uma dedicação e magnanimidade inexcedíveis para comigo. Agora, depois de explanada a origem do livro que ides ler, se continuardes a duvidar da minha lealdade, cometereis inqualificável injustiça. Tenho, em todo o percurso de minha existência, dado provas de probidade e de amor à verdade. Detesto o embuste. Como aluna da extinta Escola Normal de S. João del-Rei, parece-me ter lá deixado um nome imáculo; exercendo o magistério público, tenho-me esforçado por ser irrepreensível, e pelo governo deste estado já me foram conferidas quase todas as provas de apreço a que faz jus o magíster mineiro. Na minha vida privada nunca pratiquei uma ação que fosse censurável. Tenho, pois, minha reputação ilibada, que muito prezo e não a quero macular faltando à verdade ou usando de qualquer burla para me salientar perante o público, que respeito e muito temo.

Poderá também alguém acusar-me de ser disposta à alucinação. Protesto, porém, contra essa falsa asseveração, com veemência.

Nunca senti o menor desequilíbrio mental, e, mormente depois que, com assiduidade, hei feito estudos psíquicos, tenho adquirido maior serenidade de ânimo e fácil percepção; sou perfeitamente calma e normal. Nunca me afetou, sequer, um acesso nervoso tão comum às naturezas femininas.

Tenho padecido infortúnios acerbos, desde a desencarnação de vários entes queridos, até a traição — talvez a mais lancinante de todas as dores e o mais execrável de todos os delitos! — e, no entanto, apesar de muito sensível ao sofrimento, quer meu, quer alheio, admiro-me de nunca ter sofrido uma perturbação mental qualquer: mantenho-me plácida nos momentos de dissabores excruciantes e vejo, por isso, a iniludível intervenção de Protetores imateriais, que me amparam fraternalmente e não me deixam desfalecer nos instantes em que, para a imprescindível lapidação de minh’alma, tenho de sorver, até a extrema gota, a taça da amargura.

Ultimamente, após verdadeira borrasca íntima — dessas que abalam até organismos varonis — surpreendo-me ao verificar que, ao inverso do que previra, minha saúde, havia muito alterada, se integrou por completo, e, não tendo deixado de mourejar constantemente, quer como educadora quer como psicógrafa, continuando a fazer estudos nos livros dos mais preclaros animistas mundiais, não sinto fadiga física nem intelectual, apesar de possuir um organismo que parece frágil em demasia.

Explicada a gênese de Na sombra e na luz, das muitas obras de assuntos morais e filosóficos que já tenho organizadas, poderia aventar aqui a debatida questão de como um Espírito, que na sua última existência ignorava o idioma de Camões, pode expressar-se agora em língua portuguesa; mas deixo de o fazer porque o assunto está proficientemente esclarecido por Gabriel Delanne, Fernando de Lacerda e outros ilustres psiquistas.

Faço, apenas, as duas seguintes ponderações:

I — Um Espírito, ao atingir elevado grau intelectual pela lei das reencarnações, já nasceu em diversos países, aprendeu diferentes idiomas (e assim fica elucidada a tendência e facilidade que um indivíduo possui para aprender várias línguas, ao passo que outro, às vezes seu irmão carnal, não consegue sequer pronunciar com acerto as palavras do próprio vernáculo); e, por isso, ao desmaterializar-se, integrando-se-lhe todos os cabedais de conhecimentos adquiridos, tendo nascido na França, em sua última existência, não poderia ter sido lusitano numa outra e, recordando-se de uma língua que já lhe foi familiar, não se lhe torna fácil emitir seus pensamentos a um médium português ou brasileiro?

II — Desejando o Espírito de um inglês ou austríaco manifestar-se em qualquer idioma que ignorava na sua última encarnação, não poderá expressar as suas idéias ao Guia espiritual de um médium — de qualquer nacionalidade que seja — e este receber as comunicações por intermédio do invisível intérprete, pois que os desmaterializados se correspondem uns com os outros por uma linguagem mais perfeita que a nossa — a do pensamento — que é o volapuque (*) do Espaço?
(*) Língua mundial criada pelo padre Johann Martin Schleyer, em 1880.

Tenho a corroborar as minhas hipóteses o que expõe o inspirado Leon Denis, no seu magnífico livro O problema do ser, do destino e da dor:

Os Espíritos comunicam entre si e se compreendem por processos ao pé dos quais a arte oratória mais consumada, toda a magia da eloqüência humana pareceriam apenas grosseiro balbuciar. As Inteligências elevadas percebem e realizam sem esforço as mais maravilhosas concepções da arte e do gênio. Mas estas concepções não podem ser transmitidas integralmente aos homens. Mesmo nas manifestações mediúnicas mais perfeitas, o Espírito superior tem que se submeter às leis físicas do nosso mundo e só vagos reflexos ou ecos enfraquecidos das esferas celestes, algumas notas perdidas da grande sinfonia eterna, pode ele fazer chegar até nós.

Não vos admireis, pois, de que o incomparável Victor Hugo tenha expendido os seus pensamentos em língua que talvez desconhecesse na sua última trajetória pela Terra. Se não o fez com perícia, é que escolheu mal o instrumento de que se utilizou para explaná-los; lutou com a imperfeição ou deficiência intelectual do médium, ao qual transmitiu Na sombra e na luz. Ele, insigne maestro da palavra escrita, teve a inexplicável fantasia de fazer um aprendiz de musicografia executar uma complicada ópera, que, certamente, ficou prejudicada no ritmo e na harmonia. Eis por que encontrareis deslizes na novela que ides ler.

Há uma outra questão suscitada pelos que duvidam da lhaneza dos médiuns: o confronto do estilo de uma comunicação espírita com a de um genial desencarnado, e, não sendo idêntico um ao outro, protestam logo, dizendo haver mistificação.

O Dr. Gabriel Delanne, no seu esplêndido tratado sobre psiquismo, epigrafado O Espiritismo, demonstra as causas que influem para que os ditames extratumulares, dos mais distintos desencarnados, tenham lacunas, e por isso me libero de reeditar o que já foi por ele cientificamente esclarecido. Faço minhas, apenas, estas asseverações do citado cientista francês:

O fenômeno da transmissão é sempre uma ação reflexa do médium sob uma influência espiritual e não pode, muitas vezes, o agente sideral manifestar livremente os seus pensamentos, porque não encontra no cérebro do médium um instrumento bastante perfeito para transmitir suas idéias.

Posso, pois, receber fielmente os pensamentos dos fúlgidos mensageiros do Infinito? Não, certamente. Não fico em transe nos momentos de trabalhos medianímicos. Conservo integral a minha consciência. Observo apenas que, enquanto persiste a indução espiritual, minha mente fica isolada, sem idéia alguma, in albis, (*) sentindo eu que por ela se filtram pensamentos alheios ao meu, qual se eu fora um dínamo em comunicação com uma bateria — que pode ser prontamente desligada daquele, — atuando em minha destra que faz, a seu turno, mover a pena, com rapidez incrível.
(*) Em branco.

Compreendo, porém, que para ser fiel intérprete ou perfeita receptora dos radiogramas de lúcidos Espíritos, deveria possuir uma cultura intelectual que, infelizmente, ainda não me foi possível adquirir.

Bem sei que muitos leitores desta novela dirão ser diverso o seu estilo do inimitável autor de Os Miseráveis. Direi, entretanto, aos que me fizerem essa objeção, que Victor Hugo, numa das suas correspondências psicográficas, expressou, sobre esse debatido tema, seus pensamentos, que aqui sintetizo em poucas palavras: não o prende mais à Terra uma vanglória literária; seu único objetivo é pugnar, com os grandes amigos dos sofredores e dos mutilados morais, no formidável prélio que tem por lema — Regeneração humana!

Conseguirá esse desiderato em Na sombra e na luz. Dir-me-eis depois.

Que importa a um abnegado do Espaço que a sua linguagem não seja impecável — devido à insuficiência mental do instrumento humano de que se utilizou — se consegue insuflar, nas almas conturbadas ou dilaceradas por dores inauditas, sentimentos nobilitantes ou esperanças imperecíveis? Abri as folhas deste livro; se achardes algumas de moral duvidosa ou com falta de elevação de sentimentos, comprometo-me a não receber mais as mensagens siderais. Direi convosco: Não são de Victor Hugo… Mas também não são minhas as páginas que constituem Na sombra e na luz.

As minhas faculdades intelectuais não se acham, felizmente, obliteradas pelo fanatismo ou pelo embuste. Sou sincera e, por isso, não posso assinar meu nome em escritos que nunca foram preconcebidos e nos quais só há o meu trabalho medianímico. Não quero usurpar o que me foi confiado por dignos e generosos amigos tutelares, que me têm fortalecido, amparado, lenido pesares acerbos, em horas de amargura e de provas dolorosas!

Eles que me julguem e façam justiça. A justiça terrena é falha e parcial. Tenho encontrado desconfiança e desconsiderações não só dos adeptos das crenças diversas da que professo, como de meus próprios confrades. Fico, porém, serena, à espera sempre da injustiça humana e só confiante no julgamento austero e íntegro dos nobres invisíveis.

Termino, pois, este ligeiro prefácio à novela que ides conhecer e julgar, com as palavras do venerando Leon Denis, transcritas de sua já aludida obra, e que faço minhas:

“Ascenda para todos vós, Espíritos tutelares, entidades protetoras, meu pensamento agradecido, a melhor parte de mim mesma, o tributo de minha admiração e de meu amor”.

Minas Gerais, Além-Paraíba (Ilha do Recreio), 1917.
ZILDA GAMA

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"No Man, when he has lighted a candle, cover it with a vessel, or put it under a bed; but set it on a candlestick, that they which enter in may see the light."