NATAL

Mensagem de Affonso, por Zilda Gama, “Diario dos Invisiveis”, 1929

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4 min readSep 1, 2023

Natal de Jesus, profuso manancial de esperanças, tu nos recordas o mais bello fasto do christianismo: a noite radiosa em que desceu á Terra qual uma cascata de luz — o Emissario do Eterno.

Se, desde a genese do globo terraqueo, o Creador nunca descurou da humanidade, enviando-lhe no decorrer dos seculos, seus intermediarios ou seus prophetas, na hora em que, em humilde gruta, repousou o celeste Infante, houve como que uma fenda na abobada sideral, congraçando, alliando este planeta ao Firmamento! Desceu, das regiões ethereas, um jorro de suavissima radiosidade, que dealbou as trevas, fez brotar da Amplidão ao solo, açucenas de nevoas nitentes, projectando sobre o mundo entenebrecido um reverbero estellar. Desde então, ficou alçada da Terra ao Céu, a fulgida escalleilla pela qual galgam os espiritos aos páramos constellados!…

Foi, desde aquelle momento, o pequenino — Jesus — minusculo e fragil na apparencia, mas cujo poderio posto em confronto com a vastidão de todos os Continentes e Oceanos reunidos, ultrapassal-a-ia — o élo mais vigoroso que prendeu, por todo o sempre, a negra morada dos homens ás lucidas paragens astraes…

Nessa noite bemdita, — que se tornou alvorada, — a do Natal do Embaixador divino, iniciou-se, mais amplamente, a redempção da transviada humanidade.

Estava lançada no Planeta da Lagrima a gemmula de luz que cahira do Empyreo, qual benção deifica, e abrolharia em todas as almas imperfeitas. Fôra concedida ao genero humano o Summo dirigente, o meigo Rabbi galileu, que prégara as mais excelsas verdades no cimo das montanhas ou nos lyriaes em flor, cujos ensinamentos postos em pratica, acolhidos nos corações contrictos, são os fulgurantes cabos por onde se içam as almas, do ergastulo terrestre aos orbes dos regenerados, onde a Perfeição e a Ventura imperam, ao passo que aqui não passam de uma utopia.

Realizaram-se, naquella noite sagrada, todos os seculares vaticinios dos prophetas ou inspirados a respeito da vinda do Messias. Estabeleceram-se, aqui, os pródromos do reino de Deus.

Naquelle humilde estabulo, ao lado de pacificos herviviros, surgira um celeste rebento, alojara-se uma scentelha do astro, que iria se diffundir por todas as almas com a mesma inexgottabilidade dos pães que, mais tarde, Elle repartiria ás multidões até então insaciadas, com o mesmo fulgor com que incide sobre as torrentes alvas de um rio uma flexa scintillante de luar, tornando-as de crystal vivo com reflexo de prata fluida, que se movem, incendiadas, até ás maiores profundidades do alveolo…

Aquelle pequenino berço de palha valia mais do que um astro engastado no Firmamento azul, incomparavelmente mais do que um diamante de Golconda. De longe todos o divisaram porque a sua luminosidade era tanta que devassava as pedras da furna que o abrigava!

Viam-no os pastores de Bethlém, ou antes, os corações puros dos camponios, os reis do Oriente, as phalanges de archanjos que se precipitaram do Empyreo para o saudarem no preludio de sublime missão. Volvidos quasi dois millennios ainda é Elle o alvo dos espiritos ávidos de verdades transcendentes e thesouros moraes, e, para o conseguirem, buscam o manancial que lhes estanca a sêde bemdita — Jesus!

Recordando o mais auspicioso episodio do Christianismo, as creaturas devem solemnisal-o com amor, reconhecimento, regosijo, porque o natalicio do Rabbi representa a mais solida e patente alliança do Altissimo para com a humanidade, a mais plena esperança de redempção para todos os transviados da Virtude. Naquelle minusculo berço jazia o Mestre dos Mestres, o Zagal de todas as almas, Aquelle que veiu ao Reino das trevas semear a luz do Bem e a do Verbo do Pae celestial. Repitamos, pois, com os singelos pegureiros de Bethlém:

— “Gloria a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade! Hosanna! Hosanna!”

Abençoae, Jesus, as humildes ovelhas de vosso aprisco!

Os que peregrinam neste planeta, — precitos de todos os seculos, que estão remindo com lagrimas as iniquidades de torvas e procellosas existencias, — irmanados, hoje, pelos mais impollutos sentimentos, commemoram o radioso dia em que baixastes a este carcere de angustias, ó Emissario da Potestade suprema!

Com as almas frementes de emoção, nós vos saudamos jubilosamente e vos imploramos infundirdes em nosso intimo a mesma Fé vehemente que illuminava os espiritos dos primitivos christãos e os fazia acceitar os maiores martyrios, sorrindo, olvidados da Terra e só lembrados das verdades eternas, que trouxestes dos páramos azues do Infinito!

Affonso.

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"No Man, when he has lighted a candle, cover it with a vessel, or put it under a bed; but set it on a candlestick, that they which enter in may see the light."