O CORPO DE JESUS

Mensagem de Allan Kardec, por Zilda Gama, “Diario dos Invisiveis”, 1929

KnowSpiritism
24 min readAug 15, 2023

17 — VII — 1913.

Parte I

Muitas controversias têm surgido, entre os que compulsam os Livros Sacros, a respeito do corpo com que se apresentou na arena terrestre o Nazareno para cumprir sua inolvidavel missão espiritual.

Quiz, por vezes, elucidar essa questão suscitada pela linguagem ambigua de alguns versiculos dos Evangelhos, mas não pude conseguir o meu intento porque, sempre, a duvida pairou em minha mente, pois que as palavras attribuidas ao Rabbi, ora aclaram ora obscurecem os enunciados. Ha nelles negativas e affirmativas que se destróem mutuamente, deixando perplexo o leitor que deseja, em suas paginas, convencer-se com verdades incontestaveis.

Os Evangelhos, que contêm preceitos moraes irrefutaveis, de valor inestimavel, foram mal traduzidas do idioma hebraico, ficaram deturpados alguns vocabulos, e, por isso, para os que almejam definir a natureza de Jesus — se exclusivamente divina ou humana — não têm o merito de destruir as duvidas.

Ha um apparente contraste nas palavras attribuidas ao Christo, que, ora proclamava não pertencer a este reino, estar obedecendo á vontade do Pae celestial, de Quem era enviado, ora declarava, peremptoriamente, ser o filho dos homens

Esse assumpto, de summo interesse para os christãos, por mim não foi descurado post mortem. Esclarecido por Mentores fulgidos, cultores das verdades transcendentes, eis as conclusões a que cheguei:

Jesus dizia-se filho dos homens porque não ignorava a pluraridade das existencias, sabia que não era um ser excepcional, um predestinado para o soffrimento ou para a gloria, creado impeccavel, mas que havia sido, como todas as creaturas humanas, sujeito ao erro, á fraqueza, tinha tido diversas encarnações em differentes planetas, em éras remotas, as muitas moradas de seu Pae, padecido arduas provas, até que, liberto de todas as jaças de caracter, acendrado pela dor, adquiriu meritos extraordinarios.

Suas faculdades animicas attingiram a culminancia, e, iniciado nas verdades sideraes, transitou varios orbes, tornou-se uma alma lucida, teve conhecimento dos arcanos divinos, e, só então, mereceu ser escolhido pelo Omnipotente para desempenhar na Palestina uma inolvidavel missão, dolorosa e sublime como ainda não houve outra na Terra. Peregrinando pela Galiléa, semeando o Bem, arrancando almas ás paixões e ao erro, resuscitando mortos, destacando-se da humanidade inteira, — á qual já não pertencia mais por liames materiaes, — era Elle qual um lyrio de luz desabrochado em infecto paul — o mundo em que mal roçava seus pés alvinitentes!

Em suas dissertações com os amados discipulos — mediums de diversas faculdades, — ora recordava sua origem humana, suas multiplas encarnações, e chamava-se filho dos homens; ora lembrava sua missão incomparavel, sua embaixada celeste, sabia que era Emissario do Creador e, apontando o Firmamento, dizia: — “Não faço a minha vontade mas a de meu Pae, que está no céu”!

Jesus — cujo nascimento foi previsto pelos prophetas das éras prehistoricas, os primeiros instructores da humanidade, os primeiros receptores das mensagens dos nuncios divinos, — quando baixou á Terra, não era mais um ser materialisado, sujeito ás enfermidades, ás contingencias physiologicas.

Ha pouco disse que Deus não faz excepções, mas procede sempre com a mais inatacavel imparcialidade; em todos os seus actos transparece a mais lucida justiça.

Imaginae um rude camponio, recrutado para prestar o seu concurso á patria em lucta contra uma nação adversa. Não passa de um rustico soldado para o qual não ha quasi nenhuma regalia social. Dotado, porém, de iniciativa, de força de vontade surprehendente, applica as suas horas de lazer ao estudo de linguas e sciencias, em pesquizas uteis. Entra em diversos combates e mostra-se valoroso. Em cada refrega que toma parte demonstra um novo merito. Vae sendo promovido por bravura e capacidade, até que, quando as cãs lhe cobrem a fronte, chega ao posto de marechal. Se voltar á sua aldeia natal será ainda tratado como rustico componez?

Absolutamente, não. Todas as homenagens ser-lhe-ão tributadas e elle bem as merece.

Pois bem, é o mesmo que succede ao espirito humano: no inicio de seu tirocinio planetario, bisonho e ignorante, tacteia as trevas, commette faltas revoltantes. Depois começa o seu longo aprendizado moral em serviço da Patria celeste, em defesa da alma e da Virtude.

Peleja com a adversidade, adquire conhecimentos uteis. Suas faculdades psychicas attingem plena maturidade e pujança e, então, já no apogeu da perfeição animica, o Omnipotente, a Magestade suprema, encarrega-o de elevada e delicadissima missão, outorgando-lhe prerogativas especiaes.

Eis o que succedeu a Jesus, o que succederá com todos os seres humanos. Elle não era um Espirito privilegiado, mas que já possuia, quando baixou a este orbe, meritos adquiridos, faculdades psychicas indescriptiveis na linguagem terrena, e, por isso, seu nascimento, sua existencia, sua morte, não se assemelham aos de todos os homens.

Sua Mãe purissima, alma de escól, ou grandemente evoluida, manancial de castidade e virtudes, concebeu-o de um modo diverso do das outras progenitoras, ao influxo e poder do Altissimo, que teve por emissario um Espirito Santo, — isto é, um Espirito lucido, um dos que attingem a culminancia da Perfeição — para dar-lhe conhecimento da missão a que a destinava. (*)
(*) Nota do medium. — Ha uma quadra expressiva que esclarece o mysterio da concepção de Jesus. Eil-a:
“No seio da Virgem pura
Penetrou divina graça:
Entrou e sahiu por ella
Como o sol pela vidraça!”

Pertencendo, pois, a uma hierarchia espiritual elevadissima, tanto o seu mediador plastico quanto o seu envoltorio tangivel, não podem ser equiparados aos de todos os individuos communs, como a gaze de seda subtilissima não se compara com a mais aspera serapilheira. Bem sabeis que, ao encarnar-se, é a nossa propria alma que manipula seu corpo material como a crysalida tece o casulo em que se encerra.

Jesus, pois, que necessitava tornar-se visivel, surgir na arena mundial como todos os seres humanos sem causar estupefacção, ter uma infancia e uma juventude para que, então, pudesse dar cumprimento ás determinações Paternas, abrigou-se no seio impolluto de Maria e revestiu-se de uma clamyde material tenuissima, que, ao impulso de sua potente volição, podia ser aggregada ou desaggregada facilmente, e eis como se patenteiam os considerados milagres estupendos de sua existencia — a transfiguração, a passagem sobre as ondas do Genezareth (*), etc.
(*) Cap. 9, S. Marcos, vers. 3: “E as suas vestes tornaram-se resplandecentes e em extremo brancas, como nenhum lavandeiro sobre a terra as póde lavar”.
Cap. 14, S. Matheus, 26: “Os discipulos, vendo-o andar sobre o mar, perturbaram-se e exclamaram:
É um phantasma! e de medo gritaram.
27. Mas Jesus
immediatamente lhes falou:
Tende animo, sou eu; não temaes.
(A mesma expressão que usou quando, depois de ter estado no tumulo, appareceu aos discipulos atemorisados).
33. Então os que estavam na barca adoraram-no dizendo:
Verdadeiramente és o filho de Deus!

Se elle o quizesse, pelo apuro prodigioso de seu Espirito, poderia isolar seu organismo delicadissimo de toda a dor physica, não soffreria as torturas que lhe foram infligidas, mas não se prevaleceu dessa potencia psychica — que a têm em elevado grau as Entidades superiores, — porque desejava padecer ainda, humanamente, afim de que seu soffrimento e sua resignação servissem de exemplo ás turbas contemporaneas e porvindouras, para comprehenderem que, unicamente a dor, a humildade, a submissão aos designios do Alto pódem libertar as almas de seus erros e de suas impurezas, approximando-as do Altissimo.

Tornando ao primitivo assumpto ainda vos direi, relativamente ao corpo de Jesus: não era o envoltorio de seu perispirito egual ao do homem planetario mas ao do sideral, — que possue um organismo indefinivel nas linguagens terrenas, — formado de tecidos subtilissimos, e, no momento em que lhe aprouvesse poderia ficar intangivel, identico ao dos habitantes astraes, — que Elle já o era, — desconhecido neste orbe, de uma contextura indescriptivel, de sensibilidade apuradissima.

Sua concepção, seu nascimento, sua resurreição, sua transfiguração — em que manifestou sua luminosidade, em que seu espirito irradiou-se através de sua tenue veste material, como se os raios solares atravessassem um prisma de crystal, desfazendo-o em nevoa invisivel, — provam a individualidade super-humana do Christo. Dirão, agora, os que não pensam desse modo, discordando das idéas emittidas:

“ — Estás em desaccordo com as asseverações que escreveste na Genese…”

Eu, então, com a consciencia tranquilla, lhes direi: nunca affirmei, cathegoricamente, o que expuz sobre esse magno assumpto. Apenas indaguei a verdade, estudando os “Evangelhos” e a duvida persistiu em minha mente a despeito da natureza do Rabbi, não chegando a uma conclusão positiva. Busquei, pois, extra-tumulo, a elucidação dos problemas que mais me preoccuparam na ultima existencia, e algumas soluções obtidas irei patenteando lealmente, nestas mensagens psychicas.

Afirmo, agora, baseado nas verdades transcendentes que, Jesus, o Emissario divino, foi o Ente mais evoluido, da mais alta estirpe sideral, que já baixou á Terra, em cumprimento a uma incumbencia directa do Pae celestial, e, portanto, o que houve de anormalidade em sua existencia não foi uma selecção parcial feita por Deus, mas uma justa homenagem que lhe era devida ao proprio merito.

Nós, distanciados como estamos de sua perfectibilidade, não gosamos das mesmas regalias, ou prerogativas que lhe foram outorgadas, mas podemos adquiril-as, em seculos e millenios de dedicação, labor, esforço proprio, pratica de todas as virtudes. Era, pois, Jesus, já naquella época, — a do inicio do Christianismo, — uma personalidade superior que, para bem desempenhar sua missão planetaria, teve de tecer suas vestes tangiveis com as quaes offuscou o brilho de sua alma radiosa (*), constituida de effluvios cosmicos, que se solidificaram, que se adheriram ao mediador plastico, dando-lhe toda a apparencia de materialidade, mas podiam ser dissolvidas ao influxo de sua vontade.
(*) Do livro de Sóror Maria de Jesus — Cidade Mystica de Deus, — pag. 194: “disse-lhe (referindo á Maria de Nazareth) que não queria por vestido mais que uma tunica talar de lã; e côr ordinaria, e que esta lhe serviria toda a sua vida, porque cresceria com elle, e não se envelheceria”.
Pag. 195, idem, “sempre se conservarão novas, e crescerão tanto, quanto o Menino crescia”.
Sóror Maria de Jesus, de Agrede, escreveu-o no primeiro quartel de 1600, quasi dois seculos antes de ser codificado o Espiritismo.

Possuia, pois, um organismo quintessenciado e apuradissimo, porém podia soffrer humanamente o que chamamos dor physica, em contacto com o ambiente e com o exterior que o envolvia. Era esse envoltorio tangivel e delicadissimo o receptor de todas as vibrações e impressões exteriores; sem elle não teria padecido senão moralmente.

Dirão alguns scepticos:

— O Omnipotente, pois, fez uma excepção ás leis naturaes com a vinda de Jesus á Terra; creou uma natureza diversa da humanidade carnal…

A esses redarguirei:

— Se houve excepção esta beneficiou ou prejudicou á humanidade? Era Elle, ou não, uma Entidade super-terrena que aqui se corporisou como o fazem os seres astraes, em todos os mundos onde necessitam ir, para desempenhar uma tarefa espiritual de summo alcance?

Não foi um bem inegualavel que o Eterno proporcionou a todos os entes humanos, enviando-lhes o seu fulgido Emissario, para lhes offertar o Codigo da Redempção de todas as almas — os Evangelhos — e o seu exemplo fecundo e inesquecível?

Pois bem, ao Creador não aprouve mandar-nos o seu brilhante Ministro como nos envia os seres vulgares e imperfeitos, tal qual procederia um nobre Monarcha que, tendo de tratar de magno assumpto, em longinquo e civilisado paiz, não confia essa momentosa incumbencia a um rude servo, mas a um illustre Embaixador que, por seus meritos pessoaes e pelos que lhe foram outorgados por elle, desfructa todas as regalias immanentes de seu alto cargo.

Jesus, pois, o Embaixador divino, não se assemelhava a seus coevos, era de uma essencia mais apurada. E com isso o Soberano universal não quiz patentear o seu poder illimitado, mas a sua bondade inimitavel, por que ao mesmo tempo rendia merecida homenagem, praticava uma justiça para com o seu egregio Enviado e concedia-nos o seu mediador, o modelo pelo qual, imitando-o, todos poderão ser libertos de seus defeitos moraes e alcançar a remissão de todos os seus delictos.

Se o Christo constituiu uma selecção ás leis naturaes, quanto ao seu nascimento, corpo tangivel, etc., não fez o mesmo o Omnipotente aos primitivos individuos que surgiram neste planeta de um modo mais miraculoso que Elle?

Não sabeis como foi povoado este mundo?

Emigraram almas apenas com seus corpos astraes, para este orbe, foram revestidos da materia cosmica, existente no grande laboratorio universal, que jamais se extinguirá. Portanto, antes de Jesus já o Creador havia concedido á humanidade uma faculdade que, perante a sciencia terrena, parece uma utopia, mas não o é para a Sciencia sideral. É uma realidade, conhecida pelos luminares do Espaço, a adherencia de elementos materiaes no perispirito, tornando um ente intangivel tão corporeo quanto os que provêm dos casaes. O organismo do Emissario celeste era, porém, de uma perfectibilidade indescriptivel na dialectica terrena, desaggregavel ao influxo de sua vontade poderosa, como a possuem todas as Entidades de elevada categoria, consagradas exclusivamente ao Bem e ás mais sublimes causas.

Parte II

Eu, que, sempre, amei e pesquisei as verdades christãs, muitas vezes me preoccupei com o problema, que parecia insoluvel, do corpo do Rabbi.

Como eu, tantos outros procuraram sondar o passado longinquo e caliginoso, mas para todos as sombras continuaram espessas. Depois de haver iniciado um tirocinio que não podia consummar-se aqui, quando os seculos nos afastam dos successos que se tornam indistinctos e como que immersos em um pelago de cerração impenetravel, regressando á Patria espiritual pude proseguir os meus estudos psychicos, encontrando, emfim, uma elucidação satisfactoria ao que almejava saber.

Após fructiferas investigações, cheguei a estas conclusões:

Jesus, para que pudesse desempenhar sua missão terrena, não devia surgir das nuvens nem das aguas, como nos contos mythologicos ou fantasistas.

Precisava, pois, de um medium — isto é, de um ente com o qual coadunasse sua natureza apuradissima, para que se tornasse visivel e tangivel. Esse intermediario foi Maria, escolhida pelo proprio Creador, e, para que não ignorasse a excelsa incumbencia que havia de desempenhar, foi scientificada por um Mensageiro de elevada hierarchia. O Messias, pois, retirou os elementos de que necessitava para adeusar o seu corpo astral dos effluvios odicos d’aquelle ser virtuoso e evoluido bem como da materia cosmica, (*) que existe em todos os recantos da Natureza.
(*) Ectoplasma dos metapsychicos. — Nota do medium.

Foi assim que elle o offuscou, por alguns annos, em uma clamyde preciosa, em um tecido indefinivel nos idiomas deste planeta, o qual, ás vezes, era vasado pelo fulgor do excelso Espirito que nelle se enclausurou.

Assim como a electricidade — imponderavel, impalpavel, invisivel, — carece de um vehiculo para propagar suas poderosas correntes, o Christo utilisou-se de um conductor — seu corpo, solificado — para transmittir ás turbas seus pensamentos, para o tornar susceptivel do que se chama soffrimento physico, para ficar em contacto com a humanidade e com o mundo exterior, emfim.

Era esse organismo, apparentemente, egual ao de qualquer creatura encarnada, parecendo constituido de musculos e ossos (*), mas de facto não o era, pois os elementos de que se compunha estavam de tal sorte sujeitos ao influxo espiritual de Jesus que seriam dissolvidos no instante em que Elle o quizesse.
(*) Nota do medium. — Ao copiar esta pagina, li, na Revista da Semana, do Rio, de 30 de dezembro de 1922, o que se segue, de pleno accordo com as idéas acima expostas: “Vi dedos — escreveu o prof. Geley — que eram admiravelmente modelados, comprehendendo as unhas; pude observar mãos completas, com os ossos e as articulações; vi uma caixa craneana perfeita, cujos ossos pude apalpar debaixo dos cabellos espessos. Semblantes humanos perfeitos, vivos! Essas formações nasceram e desenvolveram-se completamente em muitos casos debaixo de minhas vistas, desde o principio até ao fim do phenomeno”.
“Os adeptos do espiritismo affirmam que, por meio destas observações, se demonstra a modelação da substancia viva pelo esforço do pensamento. É, segundo elles, uma creação que se effectua por influencia da vontade”.

Parece irreal o que exponho, no emtanto, no Antigo Continente, não ha muitos annos, em uma sessão assistida por emeritos scientistas, um sujet foi parcialmente desmaterialisado e depois reconstituido por um agente espiritual (*).
(*) Experiencias de Aksakoff. O mesmo phenomeno foi observado no Pará, recentemente, com a sra. Anna Prado.

O outro exemplo, commum nos individuos dotados de grande sensibilidade, quando sob a influencia de uma dor moral muito acerba: o corpo physico, ás vezes em poucas horas, perde parte de seu peso, emmagrece como vulgarmente se diz, mas, o que succede, positivamente, é a dissolução dos tecidos pela intensidade das correntes magneticas do pensamento, a mais poderosa bateria da alma.

Pode-se, pois, para os espiritos superiores, estabelecer as duas seguintes leis metaphysicas:
I — Possuem a faculdade de produzir, voluntariamente, com os effluvios odicos, todos os corpos.
II — Podem decompor, com a potencia psychica, o que lhes apraz.

Applicando-se ambas a Jesus, que as executava com facilidade, estão elucidados todos os phenomenos, que parecem incomprehensiveis, dos seus chamados milagres.

Provam sua faculdade organisadora:
a) O seu corpo tangivel;
b) A transformação da agua em vinho, nas bodas de Canná;
c) O accrescimo dos pães;
d) Fazer augmentar, com o seu corpo materialisado, suas vestes inconsubtis, ou fluidicas.

Provam sua faculdade de desaggregar a materia, tornando-a invisivel ou imponderavel:
a) A perda de peso, afim de poder equilibrar-se sobre as aguas;
b) A transfiguração, no Thabor, em que ficou patente apenas seu radioso perispirito;
c) A desapparição de seu corpo material depois de sepulto;
d) Surgir e desapparecer onde se achavam os discipulos reunidos, com as portas cerradas, depois da resurreição;
e) Tomar parte na ceia dos Apostolos, parecendo ingerir diversos alimentos, quando, em realidade, eram elles desmaterialisados, ou decompostos, ao contacto de suas mãos purissimas.

O corpo de Jesus, tanto antes como depois de encerrado no sepulchro — como foi verificado por um incredulo, S. Thomé, — era o mesmo, apresentando as chagas da crucificação.

Os discipulos não lhe notaram senão ligeiras modificações, quando os acompanhou a Emaús e quando surgiu, com as portas fechadas, no recinto de uma sala onde se achavam congregados, reparando apenas na mudança operada nas vestes e no seu olhar, que possuia outra expressão. Como desconheciam elles as manifestações animicas, ou não sabiam dar-lhes uma explicação comprehensivel, não fizeram uma observação precisa, atemorisados pela presença do Mestre “que suppunham fosse um espirito,” mas hoje, pode-se affirmar que a differença notada era a diaphaneidade do corpo astral, que, no emtanto, Elle tornou novamente tangivel, quando partiu o pão e participou da ceia, isto é. desmaterialisou o peixe em que tocára, porque não era mister ingeril-o, e quando S. Thomé lhe verificou as chagas (*).
(*) Nota do medium. — Para corroborar, as asseverações do querido Mestre, aqui transcrevo alguns versiculos do Cap. XXIV do Evangelho de S. Lucas:
30 “Estando com elles á mesa,
tomando o pão, deu graças, e, partindo-o, dava-lhes;
31 Então se lhes
abriram os olhos, e o reconheceram; mas Elle desappareceu de deante delles.
35 E os dois contaram o que havia acontecido no caminho, e como fôra por elles conhecido no
partir do pão.
36 Falando elles estas cousas, apresentou-se Jesus no meio delles e disse-lhes: Paz seja comvosco.
37 Elles, porém, espantados e aterrorisados, suppunham ver um espirito.
38 Mas Elle lhes disse: Por que vos turbaes? por que se levantam duvidas em vossos corações?
39
Olhae para as minhas mãos e os meus pés, pois sou eu mesmo; apalpae-me e vede, porque um espirito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.
40 Dizendo isto,
mostrou-lhes as mãos e os pés. (Estava, então, completamente materialisado).
41 Não acreditando elles ainda por causa da sua alegria e estando maravilhados, perguntou-lhes Jesus:
Tendes aqui alguma cousa que comer?
42 Deram-lhe um pedaço de peixe assado e um favo de mel.
50 Então os levou até Bethania e, levantando as mãos, os abençoou.
51 E enquanto os abençoava, apartou-se delles, e foi elevado ao céu”.

Era, no entanto, o mesmo Christo, que a multidão contemplara no cimo do Golgotha. Seu corpo, depois que esteve encerrado no tumulo, fez quasi imperceptiveis metamorphoses, o que prova exuberantemente que, nunca, foi egual ao de todos os seres humanos. A curiosidade ou scepticismo de S. Thomé confirma, hoje, a verdade de que se compunha o seu corpo: tocar em suas chagas foi provar que Elle continuava a ser o mesmo, visivel e tangivel para os incredulos, materialisando-se e desmaterialisando-se ao influxo de sua vontade potente, phenomeno esse em pleno dominio dos psychistas que já conseguiram photographar, em identicas condições, espiritos, flores, luvas de parafina, etc.

Ora, se Elle se apresentava aos apostolos, depois de ter sido crucificado, como o era d’antes, apparecendo-lhes qual o conheciam, é que o Christo assim o era, desde o seu nascimento, que, como já me expressei, foi quando ao seu lucido corpo astral aggregaram-se moleculas materiaes que se dissolveram no tumulo mas logo foram cohesas quando se apresentou aos discipulos e com elles simulou participar-lhes da ceia. Seu corpo apparente era, pois, uma veste que Elle usava quando lhe aprazia, faculdade essa que não é um privilegio concedido a determinada entidade mas a todas as que attingem verdadeira elevação animica.

Não é, pois, estranhavel que Jesus tenha tornado tangivel e intangivel o seu perispirito, ao poder de sua volição incomparavel.

Parte III

Ha outro ponto obscuro, relativo a Jesus, que desejo esclarecer: para os que o consideram com um corpo perfeitamente material, o soffrimento physico foi indizivel; para os que affirmam que era fluidico, a dor não o attingiu.

As potencias espirituaes são intensas nos entes de elevada hierarchia, e, se estes se reencarnarem, podem, pelo dominio da vontade, isolar os padecimentos organicos.

Jesus, no emtanto, que era corporificado mas não encarnado, podia deixar de soffrer physicamente, mas não quiz prevalecer-se dessa faculdade psychica. Em vez de isentar seu mediador plastico das influencias exteriores Elle o poz em contacto com a materia, por meio de um organismo subtilissimo. Era, pois, dotado de uma sensibilidade apuradissima, que vibrava ao menor attricto, á menor percussão exterior, e, por isso, padeceu acerbamente tanto moralmente como as torturas que lhe infligiram os seus algozes.

Percebendo que alguem — uma enfermeira — lhe tocára nas vestes, interrogou:

“ — Quem me tocou? Senti desprender-se de mim uma virtude!”

Portanto, até suas vestes, que eram fluidicas, faziam repercutir, como vehiculos magneticos, no seu intimo, as mais delicadas vibrações exteriores.

As entidades apuradas, quando se corporificam, para o desempenho de alguma elevada missão planetaria, têm o maximo imperio sobre a propria natureza, sabem anesthesiar a dor ou supportal-a sem proferir um brado de revolta, mas o Nazareno não quiz utilizar-se dessa faculdade, inherente aos seres evoluidos, nos instantes de maior tormento, para que maior merito tivesse o seu sacrificio; soffreu, portanto, todos os martyrios dos açoites e da crucificação, com uma resignação que se tornou modelar.

Era mais sensivel que todos os seres até hoje aqui existentes, e, por isso, as dores que supportou foram intensissimas, porém as moraes superaram todas as outras: a vergasta, a lança, os cravos menos o suppliciaram do que a ingratidão, a perfidia d’aquelles que Elle beneficiou.

Não era, pois, insensivel á dor, ao inverso, possuia um organismo mais aprimorado que o humano, cujos tecidos eram mais delicados, possuiam uma sensibilidade superlativa, quintessenciada, indefinivel na linguagem terrena (*).
(*) Nota do medium. — Materialisando-se, pois, os espiritos podem padecer physicamente. O soffrimento de Katie King foi intenso quando, annuindo ao rogo de W. Crookes, sujeitou-se, materialmente, a receber uma projecção luminosa.

Eis, irmãos investigadores das verdades transcendentes, a solução ao problema que, ha muito, nos preocсuраvа.

Hoje podeis asseverar que, Jesus, o Arauto do Omnipotente, o ser mais perfeito que já transitou por este planeta para cumprir determinações divinas, não podia utilisar-se de um apparelho material exactamente egual ao humano. Seu radioso Espirito carecia de um envoltorio mais coadunado á sua perfeição, para que a materia não obscurecesse as suas faculdades animicas, não fosse um obstaculo ao exercicio de sua tarefa gloriosa e ardua.

Sem possuir todos os attributos da divindade (como o affirmam os sacerdotes catholicos, julgando-o o proprio Creador perlustrando pela Terra, abandonando, por conseguinte, ao acaso, o Universo, durante decennios), tinha um grau de superioridade moral e psychica que já o approximava do Eterno, sem comtudo o egualar, porque o progresso tem um limite.

Como Emissario de um Soberano magnanimo Elle baixou a este orbe com poderes excepcionaes, que, nunca foram outorgados a outrem. Era o lucido Delegado do Sempiterno e tinha disso a mais nitida comprehensão e o dizia lealmente a todos que o cercavam, e, em nome de Quem nol-o enviou poude operar os prodigios que talvez, jamais sejam aqui realisados, dentre os quaes avulta o do reparte de alguns pães para uma multidão de comensaes, conseguindo saciar todas as creaturas que o executavam — famintas do pão espiritual.

No emtanto, naquelles instantes memoraveis, ao mesmo tempo que Elle satisfez os famulentos ouvintes lançou-lhes uma semente de luz — que, no transcurso dos seculos germinaria a Fé mais inabalavel nos seus espiritos que ficaram, por todo o sempre, mitigados, seguiram a senda da Virtude, suppondo que seus corpos é que foram alimentados.

Jesus não derogou as leis naturaes, apenas patenteou as potencias psychicas de que já era dotado, as quaes são vedadas á humanidade emquanto imperfeita. A realidade, porém, é que, por algumas vezes, manifestou ser, effectivamente, o Emissario divino, mas sempre submisso a Quem o tinha enviado á Terra.

O Christo não poderia, se o quizesse, prevalecer-se dessa poderosa faculdade espiritual senão para o Bem, para encaminhar as almas á Perfeição. No momento em que desabrochasse um átomo de orgulho ou vaidade em seu intimo seria d’Elle retirada.

Por isso foi sempre humilde, o disseminador das verdades transcendentes, o saneador dos espiritos e dos corpos enfermos, sem abusar da faculdade que lhe foi concedida pelo Pae, para o desempenho de uma nobilissima incumbencia.

Parte IV

Se se julga prodigioso o nascimento de Jesus, não o é menos o instante em que foi consummada sua missão terrena.

Já me referi a esse magno assumpto nas — Revelações — e agora o faço de novo, externando mais amplamente os meus pensamentos.

Quando tracei, em minha ultima existencia, as paginas que constituem alguns dos livros por mim organizados, vacillei sobre se deveria, ou não, julgar o Rabbi um ser humano normal ou uma Entidade supra-terrena.

Depois de rotos os laços fluidicos que me prendiam á vida organica — quando nossas potencias psychicas, desannuviadas, attingem maior percepção — novamente me entreguei a pesquisas que se relacionam com as idéas já expostas e outras que serão patenteadas á luz da publicidade.

O Christo não era unicamente um philosopho — como o affirmam alguns grandes escriptores, — perfeitamente humano, tendo das existencias, material e psychica, uma comprehensão exacta; nem um desequilibrado — no julgar de outros, imbuidos de idéas erroneas e fantasistas a respeito de sua complexa individualidade, que se destaca da de todos os povos da Palestina, — mas sim o Emissario do Omnipotente, investido de poderes excepcionaes, uma Entidade fulgida que, por algumas dezenas de annos, ficou entre a humanidade corporificada.

Não é mister reiterar o que já esclareci em capitulos anteriores a este.

Apenas direi que, hoje, são innumeros os exemplos de assimilação e desassimilação de particulas materiaes, da solidificação de effluvios odicos, nas sessões de materialisação de flores, espiritos, etc., photographados em pleno estado de tangibilidade.

Assim o organismo de Jesus não foi um caso isolado neste planeta, um phenomeno ultra-terreno, mas perfeitamente normal, depois que se conhece o fluido universal, do qual são feitos todos os corpos, dependendo apenas de cohesão e repulsão de suas moleculas. As particulas que o constituiram, emquanto Jesus permaneceu visivel neste planeta, foram desassociadas e volatilisadas quando o levaram ao sepulchro, dando plena liberdade á sua alma resplandecente, que fora até então revestida como de uma neblina condensada intensamente, que, de novo ficou fazendo parte do reservatorio universal, do Cosmos, de que se formam todos os agentes e todas as cousas: a luz, o calor, as nuvens, os solidos, os liquidos, o aroma, etc.

Houve, pois, uma particularidade, digna de menção, relativa ao Mestre, ao findar sua missão terrena: quasi todos os despojos pereciveis (com excepção dos que são inhumados vivos, num caso de catalepsia, etc) são encerrados na sepultura já desligados do espirito, ao passo que os d’Elle só o foram depois de enclausurados no sepulchro, com sentinellas a fazer-lhes ronda. Só houve o desligar da Alma de Jesus — momentaneamente amortecida ou adormecida — do seu subtilissimo envolucro depois de sua permanencia no jazigo, cedido por Arimathéa, e, por isso, os centuriões de Pilatos constataram sua resurreição, pois viram-na, toda lucida, alar-se da petrea prisão, aberta por uma força indomita, attribuida a phalanges de Archanjos ou entidades superiores que o circulavam.

Esse e outros factos, relativos ao Rabbi, até hoje considerados anomalos, têm cabal demonstração na sua excelsitude espiritual.

Elle não era, pois, o proprio Creador mas possuia já attributos psychicos jamais egualados por outro ser que haja baixado á Terra em desempenho de uma tarefa divina.

Não manifestou mais claramente os seus pensamentos, concernentes á sua natureza; ora dizia ser o filho dos homens, ora, do Omnipotente, o Pae, celeste, — o mesmo succede a todos os seres humanos, — declarando estar cumprindo ordens sacras e irrevogaveis, porque não queria exasperar os intolerantes sacerdotes de antanho, afim de que pudesse legar á humanidade o Codigo de Luz que se chama — Evangelhos.

Foi, por isso, que, raras vezes, manifestou essas idéas, não affirmando peremptoriamente o que era, porque tambem sabia que, no futuro, na época do Consolador promettido, tudo seria elucidado.

Elle não ignorava, porém, que lhe foram outorgadas prerogativas excepcionaes; sabia, lucidamnete, Quem o havia enviado ao orbe terraqueo, e essa lembrança sem véus que possuia da tarefa que lhe fôra designada pelo Ser Absoluto é uma evidente manifestação de que a materia — que obscurece quasi todas as recordações retrospectivas dos entes planetarios, — n’Elle não era obstaculo ás idéas com que viera do Alto desempenho de sua nobre incumbencia.

Sabia desde infante — ou com apparencia de infante — que descera dos páramos sideraes para realisar uma obra estupenda: estabelecer as bases para a regeneração espiritual de toda a humanidade, tendo do passado longuissimo, do presente e do porvir, um conhecimento preciso, devassando-os, constantemente, com as suas fulgidas potencias animicas.

Ninguem — com raras excepções, podendo, alguem, por designio celestial, ter apenas um vislumbre de existencias transcorridas, ou do que veiu effectuar neste orbe — jamais teve tão nitidamente definida a sua missão terrena, as suas torturas porvindouras. A materia, pois, não era egual em Jesus á de todos os entes humanos, nunca obliterou as suas faculdades mentaes; sabia Elle, desde que chegara a este planeta, o que veiu executar e o quanto teria de soffrer futuramente. (*)
(*) Transcrevo ainda do livro de Sóror Maria de Jesus, de Agreda, do já alludido livro, á pag. 194:
“Completo o primeiro anno de infancia do Menino Jesus, estando um dia S. Joseph praticando com a Senhora sobre os Mysterios da Redempção, o Menino, que a Senhora tinha no collo, falou com S. Joseph, dizendo-lhe: — Padre meu, eu desci do céu á terra para ser luz do mundo, e resgatal-o das trevas do peccado; para buscar e conhecer, como bom Pastor, as minhas ovelhas, dar-lhes pasto, e alimento de vida eterna, e ensinar-lhes o caminho da Gloria, e para abrir as portas do Céu, que o peccado tinha aferrolhadas: quero que vós sejaes filhos da luz, pois a tendes em vossa casa, e companhia”.
Á pag. 196. Tanto que o Menino começou a andar, se retirava muitas vezes ao Oratorio da Senhora a fazer oração ao Eterno Padre, e tinha muito gosto de que a Senhora o acompanhasse neste santo exercicio, para apprender delle a fórma, e actos de honra á Divindade. Muitas vezes o Menino se prostrava em terra, e
outras se levantava no ar com os braços estendidos em fórma de cruz, e muitas outras chorava, e suava sangue, com a pena da rebeldia, ingratidão, e condemnação dos peccados; e como a Virgem via não só os actos exteriores, mas os interiores daquella bemditissima alma, o imitava, e acompanhava em todas essas orações, e supplicas, e com muito carinho lhe enxugava as lagrimas, e limpava o suor sanguineo, de que estava banhado; e porque estas penalidades se contemperavão com os favores do Céu, o viu tambem muitas vezes mais resplandecente que o Sol, e que os Anjos lhe cantavão mil louvores”.

Tinha pleno conhecimento de que era o Emissario do Altissimo e d’ahi provém a sua conducta que, ás vezes, parace extranha, porque não se alliava a seus parentes, que o eram perante todos os que desconheciam o prodigio de seu nascimento, sendo apenas consanguineos de José e Maria — que não julgavam fosse Elle o Messias, anciosamente esperado durante seculos, desde as prophecias dos mais preclaros conhecedores das verdades divinas, os mediums inspirados das éras prehistoricas.

Seus parentes, repito, não comprehenderam a sublimidade de seus ensinamentos, não deram credito ás suas palavras, considerando-o louco… Parece que, em todas as éras, o diploma de loucura, forjado pelos ignorantes, das grandes innovações mundiaes, é o que immortalisa os heroes e os triumphantes das nobres causas, salientando-os, por todo o sempre, do nucleo dos sensatos, que desapparecem na obscuridade do anonymato…

Resta-me, agora, dizer algo sobre a hora em que o Christo finalisou sua missão terrena para dar inicio á espiritual, isto é, continual-a, pois é sabido que Elle presidiu, já como Delegado divino, á formação deste planeta, do qual é dirigente, responsabilisando-se pela salvação de todas as ovelhas que lhe foram entregues.

Respondo á seguinte arguição feita por muitas creaturas desejosas de conhecerem as verdades transcendentes:

— Compartilhou, ou não, a Natureza, naquelles momentos memoraveis, do drama que teve o epilogo no Calvario?

Posso responder-lhes affirmativamente, e era necessario que assim fosse, por que se o Christo, o Parlamentario do Eterno, tivesse consummado sua dolorosa embaixada com o indifferentismo dos elementos naturaes como o das turbas impiedosas que o contemplavam, impassiveis, no topo de uma cruz; se o Céu se conservasse azul, alheio á tragedia do Golgotha; se cousa alguma revelasse o poder de que se achava investido o sublime Crucificado, todo o seu soffrimento seria desvalorisado pela humanidade, que ficaria vacillando se Elle seria, ou não, o Semeador do Verbo divino…

Foi a Natureza em crépe e o solo em convulsão, naquelles instantes de dor deifica pela imperfeição humana, a grande revelação do valor extra-terreno do celeste Enviado. Sómente então é que os crueis adversarios de Jesus rojavam-se pelo pó, reconhecendo toda a extensão da ignominia que praticaram.

Foi, pois, uma das provas mais evidentes da elevação hierarchica do Christo o que se passou no Golgotha, ao consummar sua missão terrena, revelando a propria Natureza enlutada e trepidante que era a Entidade da mais alta estirpe das que aqui têm vindo peregrinar. Ninguem, pois, d’aquella hora em diante poderia duvidar de que o proprio Omnipotente manifestou o seu pezar pela crueldade humana, fazendo com que o Céu e a Terra compartissem da grande magoa que o pungia, verificando quanto as creaturas são injustas e sem gratidão, e, se ainda houve e ha scepticos é que as almas são impuras e sempre existiram cegos voluntarios — os que têm olhos de lynce e não querem ver…

Reitero, portanto, o que já disse: se o desprendimento do Espirito radioso de Jesus fosse egual ao de todos os desditosos que, até então, tinham soffrido o supplicio infamante e crudelissimo da cruz, mostrando-se a Creação impassivel e impenetravel, ninguem quasi daria valor á sua vinda a este orbe. Era mister uma inolvidavel manifestação de sua pujança espiritual, e a Natureza foi digno scenario para ser finalisada a tragedia dolorosa que nenhum povo civilisado ignora.

De outra sorte Jesus já teria sido olvidado pela humanidade indifferente a tudo o que não tenha um cunho sobrenatural ou extra-terreno, descrendo de tudo o que não se patenteia á sua vista, impressionando os sentidos.

Eis, irmãos investigadores das verdades sideraes, o que vos relato, baseado em informes insuspeitos.

Possam as minhas palavras desvanecer duvidas e pôr termo ás dissenções havidas entre adeptos da doutrina vencedora que se abebera nas paginas dos Evangelhos!

É o que vos posso asseverar, convicto de que vos expuz uma lucida verdade, pela qual, em minhas ultimas existencias planetarias, sempre me bati com denodo.

Allan Kardec.

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"No Man, when he has lighted a candle, cover it with a vessel, or put it under a bed; but set it on a candlestick, that they which enter in may see the light."