Por que participar de um Startup Weekend Education?

Camila Petribú
9 min readJan 10, 2016

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Desde 2012, minha vida mudou bastante. Vivi experiências um pouco diferentes das que meus amigos estão acostumados a viver. Em um período que passei sem estudar (não se choque, por favor!), fiz cursos, conheci novas realidades e várias pessoas: gente de todas as áreas, gente jovem e com desejo de ver o mundo diferente, de realmente fazer a diferença e de se tornar influente no meio em que vive. Conheci pessoas que já se consolidaram na profissão e outras que ainda não haviam decidido que caminho seguir na vida.

Em 2014, em um curso de Storytelling, conheci um amigo que me apresentou ao mundo do empreendedorismo. Confesso que apenas tinha ouvido falar da palavra “empreendedorismo”, mas nunca havia me interessado pelo assunto, até que, um dia, este mesmo amigo me fez o convite de participar do Startup Weekend Education Recife 2015.

O convite surgiu em uma conversa informal no Facebook. Ele alegou que o evento era a minha cara, uma vez que, na época, eu iria começar a estudar Letras na UFPE. O Startup Weekend é um evento global que busca soluções para problemas de diversas áreas. O SW Education, como o próprio nome já diz, é um SW temático, voltado à educação.

Fiz a inscrição morrendo de medo, não sabia no que estava me metendo, era um mundo completamente diferente do que estava acostumada, era, também, a primeira vez que me aventurava em algo do tipo e que saía da minha zona de conforto. Como sou uma pessoa ansiosa e que sofre por antecipação, entrei em um leve pânico dias antes do evento. O medo realmente tomou conta de mim e eu achava que não iria conseguir, tanto que pensei em desistir um dia antes. Não sabia se aguentaria a pressão e o famoso medo do “desconhecido”. Mas meu amigo continuou a me incentivar e não me fez desistir. Minha mãe também ficou no meu pé e disse que eu só saberia se valeria a pena se tentasse. Então, criei coragem e participei do primeiro Startup Weekend da minha vida. E não foi qualquer um: foi o Education.

Há duas áreas que me encantam: comunicação e educação, então, o SW Edu era, como disse o meu amigo, a minha cara. Sempre quis trabalhar com as duas coisas e tinha um projeto muito íntimo, uma ideia bem “minha”, que nunca havia compartilhado com alguém. Resolvi contar a ideia ao meu amigo e perguntei a opinião dele. Sabe qual foi a resposta? “Camilinha, você só vai saber se sua ideia é boa ou não se você tentar colocá-la em prática. Faça o pitch sobre esta ideia e veja no que vai dar. Você não tem nada a perder”.

A proposta do Startup Weekend é fazer com que as pessoas lancem ideias em um pitch (uma apresentação) de apenas 1 minuto. No pitch, você tem que falar o objetivo do seu projeto e as pessoas que você precisa na sua equipe. Resumindo: você tem que fazer com que sua ideia seja aceita pelos demais participantes e fique entre as mais bem votadas. As ideias com um maior número de votos formam times e o time tem um final de semana inteiro (54 horas) para desenvolver um modelo de negócio que seja capaz de solucionar um problema na educação.

Cheguei ao local do evento muito antes da hora do início do SW, porque sou agoniada com horários e odeio chegar atrasada aos lugares. Os organizadores ainda arrumavam as mesas, a comida e o material. Aos poucos, os participantes foram chegando e iniciou-se, assim, o credenciamento. Como ainda não havia iniciado o curso de Letras, porque era segunda entrada, fiquei com o perfil de empreendedora (ainda sem saber muito bem o que isto significava). No Education, qualquer pessoa é bem-vinda, mas precisa ser enquadrada em um perfil: empreendedor, designer, desenvolvedor ou educador.

Um Startup Weekend, por ser um evento sem fins lucrativos, é formado por uma equipe de voluntários que acreditam na ideia do projeto e querem, de alguma forma, impactar o mundo, conquistando novos empreendedores. O SW conta com mentores extremamente competentes das mais diversas áreas de atuação, uma banca de jurados excepcional, organizadores comprometidos, um facilitador (que comanda o evento) e voluntários (que sempre quebram um galho para que tudo saia perfeito).

O evento começa com um “quebra-gelo” para fazer com que os participantes se conheçam e se sintam em casa. Não vou contar tudo para não perder a graça, tá? Porque minha meta, com este texto é que, se você ainda não participou de um Startup Weekend, fique de agonia para participar do próximo! Depois de algumas atividades, chega a hora do pitch! A regra é: saiba vender seu peixe!

Fiquei nervosa, muito nervosa! Enquanto formava-se a fila, eu falava com meu amigo: “Não consigo levantar da cadeira, todos vão achar minha ideia uma porcaria”. Ele, mais uma vez, depois de muita conversa, convenceu-me a ir à fila ao dizer que era super normal um participante achar que a sua ideia era muito ruim e que ninguém iria gostar, mas salientou que eu só saberia se realmente era uma boa ideia ou não se criasse coragem, enfrentasse a fila, pegasse o microfone e “despejasse” tudo o que tinha em mente. Vai que o resultado me surpreendia? E surpreendeu. E como, hein?!

Fiquei entre as mais bem votadas e formei um time. Minha ideia era buscar solucionar um problema que enxerguei, primeiramente, em mim mesma e, aos poucos, fui percebendo que era um problema da maioria dos meus amigos também. Havia acabado de sair do Ensino Médio e, embora tenha tido um excelente professor de Literatura, que fez com que eu me interessasse pela matéria, e também tenha optado por estudar Letras na faculdade, nunca tive muito interesse pelas grandes obras literárias. Achava-as um tanto cansativas, a linguagem era um pouco mais complicada e não conseguia me convencer de que poderia fazer da leitura de clássicos literários, um hábito em minha vida. Queria encontrar um meio de tornar um pouco mais atrativa a leitura dos livros que, além de serem exigidos nos vestibulares, são responsáveis também pela criação de toda uma identidade cultural de uma época. Criei, então, o Shot Literário, um aplicativo que, por meio de doses diárias de literatura, ou seja, pequenos trechos de grandes obras publicados diariamente, tinha o objetivo de atrair o aluno, deixando-o curioso para ler a obra inteira! O grande problema agora era fazer, desta ideia, um modelo de negócio. E como se faz isto? Validando! SW é validar! Os mentores “pegam no pé” de todos, pedindo para que tudo seja validado!

Nesta foto, estava tentando formar a equipe do Shot Literário.

Só para vocês terem uma noção do meu nível de conhecimento sobre empreendedorismo quando participei do SW Edu: para a apresentação final, você tem que fazer um pitch de 5 minutos, explicando todo o trabalho feito durante as 54 horas de evento. Como estou habituada a escrever crônicas, coloquei todas as minhas ideias em um papel e escrevi um texto que deveria ser o meu pitch. Pedi, então, que um dos mentores ouvisse o meu pitch para me dar um feedback. Li o texto para ele e sabe o que ele me disse? “Camila, o texto está massa, mas para ser publicado em um blog, uma revista ou um jornal. Isto definitivamente não é um modelo de negócio.” Eu havia escrito o meu primeiro pitch em forma de crônica! Dá para acreditar? Morri de vergonha! Mas meu objetivo ali era aprender, então, pedi ajuda e vários mentores vieram me ensinar a fazer um pitch digno de um Startup Weekend. Eles (os mentores) são tão competentes que conseguiram “enfiar” na minha cabeça tudo o que eu precisava fazer para ter um bom pitch em pouquíssimos minutos.

Tenho que agradecer pela equipe maravilhosa que, desde o início, acreditou na minha ideia e fez com que conseguíssemos montar a nossa startup. Para validar a proposta do Shot, fomos ao shopping e entrevistamos inúmeras pessoas. Leitores e não-leitores. Alunos e pais de alunos. Professores, curiosos, adultos, crianças e adolescentes. Validamos a nossa ideia e montamos um pitch (agora com “cara” de SW e de modelo de negócio). Ensaiei, fiquei nervosa, ensaiei de novo, bebi muita água para acalmar os nervos. Não tenho medo de falar em público, pelo contrário, amo! Fico nervosa, mas amo a sensação de estar em um palco, tentando prender a atenção do público. Pedimos para ser a primeira equipe a apresentar. Gosto de ser a primeira, porque, como disse, sou ansiosa e tenho medo de que a apresentação dos outros me deixe ainda mais nervosa.

Enfim, chegara a hora de apresentar o Shot Literário aos jurados, mentores e participantes. Respirei fundo, subi no palco e, tremendo (não nego), comecei a falar. Esperava não gaguejar tanto e queria um pitch mais impactante, mas, mesmo assim, fiquei extremamente satisfeita com o resultado. Minha equipe deu duro para que tudo saísse quase que perfeito. Startup Weekend tem como lema “No talk more action”. E é pura ação. Quando digo que saí da minha zona de conforto, não estou brincando. Aprendi sobre um assunto que mal tinha ouvido falar na vida, aprendi várias palavras novas, conheci gente de todos os cantos do Brasil, fiz networking (e muito!), conheci gente importante e agi. Não parei de agir. Startup Weekend é ação e eu sempre fui a “menina das teorias”. Estranhei um bocado, mas, em contrapartida, nunca aprendi tanto na vida! Aprendi a arriscar, a liderar e a reconhecer a importância de um trabalho em equipe. Um projeto só tem sucesso se possuir uma equipe comprometida, engajada e que acredite na ideia.

Felipe Alves, da Artemísia e mentor do SW Edu, falando da importância do trabalho em equipe: “ Não existe herói solitário. Ninguém consegue trabalhar sozinho.”

Quando todas as equipes terminaram de apresentar, eu deixei meu lado “criança” (acho que era a mais nova entre os participantes) fluir e caí no choro. Sou bastante emotiva e choro por tudo. Chorei, chorei e chorei. Mas meu choro teve um motivo: realização. As pessoas vieram me abraçar, ofereceram-me um ombro amigo e eu chorei. Chorei porque estava feliz em ter aprendido tanto em tão pouco tempo. Chorei porque conheci pessoas incríveis, que realmente mudaram a minha vida. Chorei porque, depois de uma fase tão tumultuada na minha vida (o período em que fiquei sem estudar), eu, finalmente, voltei a acreditar em mim. Agradeci a cada um: aos organizadores, voluntários, mentores e, principalmente, a minha equipe, que foi responsável por “concretizar” um sonho tão íntimo meu. Eu disse a todos que sabia que não ganharia a competição, mas que só a experiência e o aprendizado do final de semana já tinham valido a pena e eram o melhor prêmio que um participante poderia conquistar em um Startup Weekend.

Chamaram-nos ao auditório para que fossem anunciados os vencedores. Sentei-me junto à equipe do Shot e respirei fundo. Um dos jurados começou a falar. Foi, então, que veio a surpresa: o Shot Literário havia conseguido o terceiro lugar da competição! Fiquei radiante! Não acredito que, além de toda a experiência e aprendizado, a minha equipe havia ficado em terceiro lugar. Fiquei feliz por ter tido a coragem de enfrentar meus medos e a minha insegurança e ter lançado a ideia no SW Edu. Fiquei mais feliz ainda por terem acreditado na minha ideia. Fiquei radiante por ter uma equipe sensacional. Fiquei enlouquecida pelo tanto de gente nova que tinha conhecido e por todo o aprendizado daquele final de semana.

Equipe do Shot Literário após o anúncio da terceira colocação do SWEdu Recife 2015, junto a Hiro (facilitador do evento) e Fred Vasconcelos, da Joy Street e jurado da competição.

Fui participante de um Startup Weekend sem ter noção do que era empreendedorismo e saí de lá com uma mente empreendedora. Se vale a pena? Muito! Vale cada segundo! E as amizades que surgem pós-SW são incríveis, assim como as oportunidades. Gostei tanto do evento que irei organizar o SW Edu 2016! Quero ver você lá, viu? Venha fazer a diferença na educação! Participe de um Startup Weekend você também!

A turma completa do Startup Weekend Education Recife 2015.

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Camila Petribú

Estudante de Jornalismo, ansiosa, escritora no blog Chá das Quatro, apaixonada pela arte de lidar com pessoas e com palavras! www.chadasquatro.com.br