Vamos conversar sobre amor próprio

Carla
3 min readApr 9, 2016

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Sempre ouço falar que nós precisamos aprender a nos amar como somos, amar nossos corpos, nossos cabelos, nossas vozes, nosso jeito de ser. Principalmente no feminismo, isso é algo que nos é ensinado desde o início: “ame-se”.

Mas não é uma tarefa fácil. Nunca estamos completamente satisfeitas com o que somos. Sempre tem aquele dia que nosso cabelo amanhece esquisito e não estamos com a menor vontade de arrumar, aí pensamos “queria que meu cabelo fosse de outro jeito”. Ou aqueles dias que vemos roupas lindas na vitrine de uma loja, mas não podemos comprar porque só tem tamanho M ou P, e até mesmo o G ficaria pequeno, e aí pensamos “queria ser mais magra”. E quando estamos jantando com amigos e familiares, que nos amam e, teoricamente, nos querem bem, e um deles acaba dizendo “Você devia fazer uma dieta, ou vai acabar ficando doente”?

Não é fácil se amar. Não é mesmo. Especialmente com toda a pressão social em cima de nós, nos dizendo que só podemos ser felizes se nos encaixarmos em padrões: Pernas e axilas sem pelos, barriga sequinha, cabelo liso e sedoso, seios firmes, pele lisa e uniforme, unhas bem feitas, etc., etc., etc.. Mulheres passam a vida inteira tentando se encaixar nesses padrões, ou se manter neles. Deixam de comer comidas gostosas porque engordam; deixam de mexer com terra porque estraga as unhas; deixam de ir à praia numa manhã ensolarada porque as pernas estão peludas e a depilação está marcada para dali dois dias; deixam de sair com os amigos porque se acham gordas demais para vestirem roupas bonitas; deixam de passar um tempo relaxando com a família porque precisam ir à academia… No final das contas, deixam de fazer tanta coisa, que acabam se perguntando “O que restou?”. E é esse ponto que precisamos enxergar.

Todas as pessoas passam por um momento da vida em que param e pensam “O que eu fiz até aqui?”. Pode acontecer quando se é ainda muito jovem, mas normalmente acontece quando começamos a envelhecer, ou quando acontece algo na nossa vida que muda nossa perspectiva sobre nós e o tempo: um acidente ao qual sobrevivemos, uma doença grave, a morte inesperada de alguém muito jovem. É aquele momento em que percebemos que padrões não significam nada, e passamos a dar foco para as coisas que realmente importam.

Faça um exercício mental. Imagine que acabou de descobri que te restam apenas quinze dias de vida. Você vai passar essas últimas semanas comendo tudo o que gosta, ou fazendo dieta para morrer magrinha? Vai sair com os amigos sem se importar com a roupa que está usando, ou vai ficar em casa porque aquele vestido não lhe caiu bem? Vai passar mais tempo com as pessoas que ama, ou vai se matricular na academia? Vai à praia, à piscina e à cachoeira, ou vai ficar esperando o dia da depilação primeiro?

Essa é a chave para amar a si mesmo. Porque, acredite ou não, você não sabe quanto tempo lhe resta. Pode ser um dia, uma semana, ou vinte anos. Não perca esse precioso tempo tentando se encaixar em padrões e satisfazer o julgamento dos outros. Use esse tempo para fazer as coisas que gosta, lutar pelos ideais em que acredita, cuidar de si mesma. E eu não digo para fazer dietas e ficar obcecada com médicos e exames. Apenas conheça seu corpo e seus limites. Aprenda o que te faz bem, e descarte o que te faz mal.

Ainda assim, não é fácil. Mas se você conseguir dar os primeiros passos, vai aos poucos descobrir o melhor amor do mundo: o amor próprio.

E é por isso que eu já não me sinto culpada quando como um pratão de macarronada, ou quando passo a noite inteira assistindo filmes, ao invés de fazer algum exercício físico, ou quando a barriga fica saliente sobre o cós da bermuda. A comida estava ótima e me deixou feliz, o filme era bom e me divertiu, a minha barriga saliente não me incomoda. Porque amor próprio é aquilo que acontece quando você começa a valorizar mais a si mesmo, e menos o que os outros pensam sobre você. ;)

Claro… Não vou comer aquela barra de chocolate hoje. Mas porque lactose não está me fazendo bem, e não porque chocolate engorda! Vou comer algum docinho de fruta no lugar. ;D

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