Como Acabar com o Blockchain no Brasil

Carl Amorim
4 min readApr 15, 2018

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Disclaimer: esse artigo é minha opinião pessoal sobre a excrecência inaugurada neste dia 12 de abril conhecida como Associação Brasileira de Criptomoedas e Blockchain, não representando as empresas ou equipes em que participo, pois acredito que ninguém tem o poder de falar pelo outro e que o Blockchain empodera o cidadão que deve, por princípio, ser responsável por seus atos, investimentos, e representação política. O texto foi escrito em cima da minha experiência prévia com instituições do mesmo tipo, não tive acesso ao ato constitutivo, seus estatutos ou corpo diretivo. Enviei este texto à assessoria jurídica da ABCB e assim que receber qualquer manifestação e documentação que me faça reconsiderar este texto, isso será feito de forma pública.

O dia 12 de abril de 2018 pode ser considerado um dos dias negros do ecossistema do Blockchain no Brasil, pois sob o patrocínio de uma empresa com nenhuma representatividade, cujo modelo de negócio de especulação com Bitcoins é tão antigo que nada tem a ver com Blockchain, sendo apenas uma operação robotizada de criptomoedas, é anunciada à imprensa a criação da Associação Brasileira de Criptomoedas e Blockchain.

Esse grupo, como qualquer outro empreendimento oportunista, quer tomar à força a liderança na discussão de regulamentação do Blockchain e dos criptoativos, se autonomeando representante de todo um ecossistema que vai desde as transações financeira, ao rastreio da cadeia de suprimentos, da identidade do cidadão, até sistemas de saúde distribuídos.

Pior, para isso forma uma associação centralizada, contratando um executivo cujo maior mérito é ter uma agenda com nomes do governo e se propor, para defender o Blockchain, adotar os velhos métodos de conchavos nos gabinetes, de negociações toma lá da cá, negociando os interesses de pessoas físicas e empresas das quais nada sabe, não participa, não tem histórico, não empreendeu ou trabalhou com Blockchain e se arvora ser o porta voz.

Como disse no disclaimer, não tive acesso aos documentos de fundação dessa associação, mas conhecendo a mentalidade desse modelo, posso apostar que é formada por processos de governança com conselhos eleitos, às vezes com cargos vitalícios, onde as decisões são tomadas por maiorias simples em casos de interesse dos grupos dominantes e grandes composições impossíveis de construir se for para contrariá-los. Como posso apostar também que a representação será discriminatória, onde pessoas físicas relevantes para o ecossistema, que vem trabalhando e construindo um ambiente de inovação e experimentação, serão preteridas ou excluídas por “tarifas associativas” ou “tipos de associação”.

Também fica claro no próprio nome dessa excrecência, que fala em Criptomoedas e Blockchain, demonstrando o pensamento raso e limitado de seus fundadores, que não compreendem ou sabem que criptomoeda é só um papel que um CRIPTOATIVO pode ter, deixando de lado as CriptoCommodity (como o Ether) ou CriptoToken (como todos emitidos no ERC20 e base dos ICO’s). Se um grupo não tem o conhecimento básico mínimo e necessário para o que se propõe, como é que se mete a me representar?

Já passou da hora do ecossistema do Blockchain no Brasil se articular, mas não de forma centralizada, excludente, viciada no passado e replicadora dos processos que o Blockchain veio para eliminar. Já é passada a hora de uns poucos acreditarem que podem se imbuir de autoridade que não possuem, alegando representar pessoas que não só não representam, mas as usam como ativo para alavancar seus projetos pessoais.

Lamento pelo Sr Furlan se prestar a um papel desses, mas compreendo sua posição, emprego é emprego e se seu empregador acredita que uma pessoa que desconhece o tema tem seu valor, quem sou eu para julgá-lo?

Mas posso dizer que tudo isso é fruto de algo que o Brasil quer ver de costas, a falta de transparência, os grupinhos fechados, os processos hierárquicos, as regulamentações proibitivas e protetoras. Tudo que o Blockchain é contra.

É preciso sim uma representação do ecossistema de Blockchain, mas ela deve respeitar os princípios da tecnologia que defende, inclusão, transparência, poder distribuído, topologia não hierárquica. Capaz de atender quem especula, claro, mas também quem empreende, quem desenvolve, quem investe, dando voz a todos e não só para a maioria. Preocupando-se em primeiro lugar mobilizar os stakeholders numa estrutura auto organizada, com processos de dar voz a todos e articular volutariamente os grupos de trabalho. É preciso um rigor com o entendimento do Blockchain, seu potencial, sua aplicação e na massificação desse conhecimento para, assim, impedir seu mau uso, facilitar o trabalho dos reguladores e dos poderes legislativos, judiciário e executivo. Isso não se faz no gabinetes. Isso não se faz de portas fechadas.

Principalmente, isso não se faz decidindo tudo, antes de envolver a comunidade, escolhendo representantes que não representam ninguém, que não sentiram as dores do parto do Blockchain no Brasil, que são pagos para repetir um discurso que não acreditam e não aplicam.

Nessas horas, para conter a ansiedade de ser o mais esperto, o primeiro, o mais bonito, recomendo o ditado americano: “Talk the Talk…Walk the Walk”

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Carl Amorim

Executivo do Blockchain Research Institute no Brasil Coeditor do livro Blockchain Revolution, e coiniciador do Prosper token de invest. e poup. descentralizados