Economia Circular e seus princípios

Carla Tognato
3 min readOct 20, 2018

--

A Economia Circular descreve um sistema econômico amplo que substitui o conceito de ‘fim de vida’ por redução, reutilização alternativa, reciclagem e recuperação de materiais nos processos de produção/distribuição e consumo, operando nos níveis micro, meso e macro, com o objetivo de alcançar o desenvolvimento sustentável, o que implica na criação de qualidade ambiental, prosperidade econômica e equidade social, em benefício das gerações atuais e futuras (Kirchherr et al., 2017).

A Economia Circular tem como base 3 princípios:

1. Preservar e aumentar o capital natural controlando estoques finitos e equilibrando os fluxos de recursos renováveis.

A natureza sustenta toda a vida humana. O termo “capital natural” reforça a ideia de que a vida não-humana é responsável pela produção de recursos essenciais para a economia; não são apenas as atividades humanas que geram valor. Daqui decorrem duas ideias essenciais: quando a produção de bens e serviços tem como consequência a destruição dos ecossistemas, então é a própria vida humana que é destruída — sobretudo a das gerações futuras, às quais vai faltar esse capital natural. Para assegurar a preservação do capital natural, há que penalizar as atividades destruidoras da natureza e promover aquelas que interferem o menos possível com o equilíbrio dos ecossistemas. Por outro lado, uma vez que as atividades produtivas humanas dependem do capital natural, ao reforçarmos os recursos naturais estamos a reforçar o potencial do crescimento sustentável da nossa economia.

2. Otimizar a produção de recursos fazendo circular produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo, tanto no ciclo técnico quanto no biológico.

Isso é sinônimo de projetar para a remanufatura, reforma e reciclagem, de modo que componentes e materiais continuem circulando e contribuindo para a economia.

Sistemas circulares usam circuitos internos mais estreitos sempre que preservam mais energia e outros tipos de valor, como a mão de obra envolvida na produção. Esses sistemas também mantêm a velocidade dos circuitos dos produtos, prolongando sua vida útil e intensificando sua reutilização. Por sua vez, o compartilhamento amplia a utilização dos produtos.

A ideia de ciclo está no coração da economia circular. Em vez de exigir repetida extração de recursos naturais e de gerar resíduos, a produção e o consumo deveriam ser, tanto quanto possível, autosustentáveis. Por outras palavras, os ciclos econômicos deveriam ser, tanto quanto possível, fechados. Num ciclo econômico fechado, o desperdício não existe: os bens são reparados e reutilizados em vez de descartados, as matérias-primas provêm da reciclagem em vez da extração, e assim por diante.

3. Fomentar a eficácia do sistema revelando as externalidades negativas e excluindo-as dos projetos.

Isso inclui a redução de danos a produtos e serviços de que os seres humanos precisam, como alimentos, mobilidade, habitação, educação, saúde e entretenimento, e a gestão de externalidades, como uso da terra, ar, água e poluição sonora, liberação de substâncias tóxicas e mudança climática.

O diagrama sistêmico, conhecido como diagrama de borboleta, ilustra o fluxo contínuo de materiais técnicos e biológicos através do ‘círculo de valor’.

A economia circular, como a economia em geral, é menos uma questão de gestão e de cálculos do que de relações sociais, atitudes e desejos. A transição para a economia circular não se fará sem mudanças fundamentais de comportamento e de modos de pensar. Ser utilizador em vez de consumidor, partilhar em vez de acumular — estas novas (e velhas) formas de estar no mundo estão na base da construção de uma economia circular, e envolver a sociedade é fundamental.

--

--

Carla Tognato

Circular Economy Researcher. Circular Economy and Zero Waste specialist. LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/carlatogna/