Conselhos que eu gostaria de ter ouvido quando mudei para tecnologia

Carol Soares {divaloper}
5 min readOct 17, 2018

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Já fazem dois anos e meio que mudei de Relações Públicas para Desenvolvimento Front End, depois de muitas crises, dúvidas, angústias e muito aprendizado eu resolvi falar um pouco sobre as coisas que eu gostaria de saber antes de ter migrado de área.

1. Programar/Desenvolver não é fácil

Não caia no mito do Vale do Silício e das manchetes sensacionalistas de que você vai aprender a programar em um fim de semana, ou que existem crianças ganhando milhões com apps que fizeram em um mês. As coisas não funcionam bem assim.

Eu costumo dizer em todas as minhas palestras voltadas a carreira de que tudo é difícil. Imagina você passar o dia inteiro fazendo faxina, em pé, carregando coisas, não parece fácil, certo? Mais essa é a vida de mais de milhões de diaristas pelo mundo todo. E salvar a vida de alguém? Ser pesquisador? Cuidar de uma nação? Pois é, nada disso é fácil, não seria programação uma área diferente.

É importante ter isso em mente, porque assim, você entende que o processo para aprender as coisas, os erros que cometemos e ciclo para entender algo, pode ser demorado — ajuda muito a calar o impostor dentro de você que inferniza com pensamentos negativos.

2. Sem boas bases, hypes não se sustentam

As coisas em tecnologia mudam rápido demais. É linguagem, framework, metodologia, tudo acontecendo ao mesmo tempo e o tempo todo. Isso pode ser muito perigoso.

Claro que é importante se manter atualizado, mas se você não souber bem a base primeiro, acaba construindo prédio em base de areia. Aprenda coisas que não mudaram com o tempo, que são importantes ainda hoje e que se aplicam em qualquer projeto (ou na maioria deles) e depois, se atualize — isso torna até o processo de aprender coisas novas menos dolorido, porque o "grosso" você já sabe e só se apega no que modernizou mesmo.

3. Uma pessoa para te mentorar pode esclarecer muito

Mentoria é um processo onde outra pessoa que já atua na área te ajuda a entender alguns processos que vão de carreira à coisas técnicas. Isso alivia muito a ansiedade de saber se estamos fazendo certo e já entender como o mercado realmente funciona.

Você pode fazer mentoria gratuitamente com o Training Center e/ou se identifica como mulher, pelo Elas Programam (no facebook).

4. Nunca estamos prontos

Tendemos a acreditar que sempre falta algo. Uma linguagem, uma habilidade, um idioma, um curso etc. A realidade é que isso é pura sabotagem. Só vamos entender o que realmente falta (e aprimorar isso) colocando o que sabemos para jogo. Parece medonho, eu sei, mas precisamos vencer o primeiro medo para termos medos novos, e assim, conquistar coisas mais interessantes.

Não seja incoerente mas cuidado com esse impostor aí.

5. Faça a comunidade valer

Eu não seria hoje a profissional que sou se não fosse pela comunidade. Eu aprendi muito, conheci pessoas, fiz amizades, estabeleci contatos profissionais e cresci muito — de diversas formas. Mas acho importante lembrar que a comunidade é um lugar de troca e que precisa de mais gente que entenda isso.

Você não precisa necessariamente se tornar um organizador de meetups, mas faça o que puder para retribuir aquilo que ajuda você e tantas outras pessoas. Se marcou presença no evento, vá — e se não puder ir, avise antes, ceda esse espaço para outra pessoa. Ajude com o coffee, ao final do meetups se ofereça para ajudar organizar o local, leve novas pessoas, palestre, faça conteúdos etc. Só conseguiremos manter a cultura de comunidade, se todos fizerem um pouco.

6. Tudo é um grande ~depende~

Não existe sistema operacional/linguagem/programador melhor. Sério, não existe. Tudo depende das condições daquele momento. Não se sinta uma pessoa culpada por não dominar inglês, não ter o mac high tech do momento, não poder comparecer aos eventos mais caros.

Tecnologia ainda é um meio extremamente elitista-branco-heteronormativo e sabemos que nem todo mundo tem tantos privilégios. E está tudo bem. Faça o seu melhor com o que você tem disponível agora.

7. Viva além da tecnologia

Uma vez na comunidade, você vira a pessoa maluca dela. Está em todos os eventos, só tem amizades do meio, seu tempo livre é cheio de projetos paralelos, os conteúdos que você consome são todos técnicos e tomara que chegue logo a black friday para você tirar aquele gadget novo da lista de desejos.

Só de escrever isso eu lembro como eu fiquei insuportável nos primeiros meses na área

Imagina que ser humano sem graça a pessoa que só vive por um tema na vida. Pois é, tenha hobbies diferentes, saia com pessoas/amizades fora do circulo de trabalho. Tenha uma vida além da TI. Um profissional (de qualquer área) bom, é feito de experiências plurais, que farão conhecer novos pontos de vista, para assim, encontrar novas soluções — pense nisso.

8. Pensar no usuário não é só coisa de UX/UI

Eu poderia ficar horas neste tópico, mas acredito que a mensagem está bem clara. Se você programa sem pensar no usuário, você é um médico que precisa operar uma perna mas está pensando no estômago do paciente — isso é irresponsável, incoerente e não resolve problema nenhum.

Então bora estudar um pouquinho, trocar aquela ideia marota com a pessoa de UX/UI e tentar entender dessa parte importante do nosso trabalho, eu juro que não dói.

9. Pequenos passos, grandes conquistas

Me lembro até hoje do meu primeiro Hello World, eu parei a minha casa para mostrar como eu era foda por fazer aquilo. Mas também lembro que depois de uma semana eu estava super chateada porque avancei "pouco"nos estudos.

A verdade é que cada coisa nova que fazemos é uma conquista. Você não sabia isso antes, tem gente que ainda não sabe e porque não comemorar isso também? Tão importante quanto a chegada, é o caminho até ela — eu sei é piegas e motivacional, mas é real.

10. Queime seus ídolos

Pessoas vão te decepcionar. Somos a soma das nossas vivências, criações, conhecimentos e mais um enorme número de variáveis, o tempo as condições e situações fazem a gente ver as coisas de um jeito diferente. Então, baixe as expectativas, aquele gênio pode ser um babaca como ser humano, aquela pessoa foda dos artigos onde você aprendeu tudo pode ser um intolerante ou antipático. Então como sabiamente tweetou Miguel Soares, baixe as expectativas e queime seus ídolos.

Espero que esse texto tenha ajudado você de alguma maneira, se tem mais alguma dica que você gostaria de dar, coloque nos comentários, e se gostou por favor, não esqueça das palminhas, até a próxima!

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Carol Soares {divaloper}

Front End Developer, instructor, speaker, diversity and inclusion activist in tech. Podcaster. Information, security and privacy are powerful. Open Source fan.