Cinco coisas que aprendi em uma rede sensacional de aprendizagem

Carolina Rodeghiero
5 min readApr 5, 2019

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Foto por FEBRACE no Festival de Invenção e Criatividade, 2019

Há pouco mais de dois anos faço parte da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa. A RBAC conecta pessoas que querem transformar a educação no Brasil, oportunizando a crianças e jovens, especialmente da rede pública, experiências de aprendizagem mão na massa, divertida, lúdica e significativa para todos.

Quando comecei a fazer parte da Rede, fui pisando no chão devagarinho, como quem vai aos poucos adentrando um novo ambiente, morrendo de curiosidade— me pergunto se é esta a sensação que os novos integrantes têm hoje. O fato é que em pouco tempo meu envolvimento passou a ser tão intenso, que quando vi já estava fazendo parte de diferentes projetos a nível nacional, e vestindo a camiseta (sim!) para apresentar a aprendizagem criativa para a minha região. Me tornei embaixadora do espírito do Jardim de Infância para a Vida Toda.

Iniciando uma série de posts sobre as aventuras que tenho vivido com aprendizagem criativa, hoje vou expor de forma bem simples cinco das tantas coisas que aprendi nesses meus dois anos de RBAC:

1 — Tem muita gente no Brasil fazendo educação de qualidade

e isso inclui a rede pública! Esta pode ficar tanto na lista de coisas que aprendi na RBAC quanto na lista do que aprendi no MIT. O que nós brasileiros realizamos com aprendizagem criativa na educação é valorizado demais pelas maiores instituições educacionais e de tecnologia do mundo, e deve ser ainda mais valorizado aqui. Tem muita professora heroína e muito professor herói no Brasil. Pessoas que apesar das condições de estrutura e políticas públicas fazem o que a Diva Guimarães tão sabiamente aconselha aos professores que vivem neste tempo difícil e ainda assim "não desistem dos alunos". Professores que envolvem os estudantes em uma escola onde faz todo o sentido aprender. Professores como a Débora Garofalo, que ficou bastante conhecida recentemente pelo trabalho que vem desenvolvendo há anos em uma escola pública de São Paulo, usando materiais catados na rua, no lixo, para ensinar robótica para as crianças; e professores como tantos outros que são anônimos perante os holofotes, mas que têm uma legião de fãs composta pelos alunos da própria escola. Além dos educadores, há gestores e tomadores de decisão que também estão arregaçando as mangas para transformar o Brasil. Exemplos como o trabalho incrível da Secretaria de Educação do Estado do Paraná nos últimos anos, e como o da Secretaria Municipal de Educação de São Bernardo do Campo, interior de São Paulo, que hoje está investindo forte em aprendizagem criativa, valorizando o trabalho que vem sendo feito por professoras da rede municipal em algumas escolas. Ainda podemos citar São Luis no Maranhão, Curitiba, e tantas outras cidades brasileiras que têm times fortes envolvidos com uma educação mais relevante para os jovens e as crianças.

2— É ok sair do plano,

por isso a exploração criativa é tão importante. Uma vez ouvi de um professor que ele sempre chamava os estudantes ao final da aula com a pergunta "Qual foi o erro favorito de vocês hoje?". Genial! A criança, o jovem, e nós adultos precisamos entender o erro como parte do processo criativo e de aprendizagem. E que é tudo bem errar. Tentar de novo. E de novo. No processo de livre exploração, de pensar durante a brincadeira, é que fazemos as conexões que podem nos levar a conquistar nossos objetivos. Isso serve para a criança quando está começando a programar em blocos no Scratch, serve nós adultos, familiares, acadêmicos, professores, estudantes, e serve para nós enquanto rede e gestora de uma iniciativa tão grande e tão significativa para o país. Que estejamos abertos para dizer que não sabemos tudo, que precisamos de ajuda. Enfim, uma das melhores formas de se conectar a pessoas, ideias novas e novas soluções é dizendo "Meu plano deu errado. Você pode me ajudar?"

3— A força da rede são os nós

tudo é conexão. Acho legal demais a função que tem meu colega Guilherme Sandler na RBAC: articulação social. A Rede é uma comunidade, e o papel do Guile de conectar pessoas faz toda a diferença para administrar o que temos hoje com 2.800 educadores participantes, 11 núcleos regionais espalhados pelo Brasil, festivais de invenção e criatividade em todas as regiões brasileiras, liderança mundial em número de Scratch Days, duas conferências nacionais, 82 instituições de ensino superior interessadas em usar aprendizagem criativa em seus projetos, grupos de trabalho e muito mais. Para quem passou boa parte da vida acadêmica estudando redes sociais como eu, fazer parte de uma rede de pessoas no modo "off-line" e presencial faz mais do que sentido. Tudo o que realizamos com a RBAC é conquistado por meio do engajamento de pessoas que vivem os valores que temos em comum e que recentemente traduzimos em um manifesto. Pessoas que dispõem de tempo em dias de semana a noite, finais de semana, feriados. Gente que leva a família quando vai trabalhar nos eventos, que chega com o pé quebrado mas um sorrisão no rosto. São os nós que formam esta rede como um tecido único dentro de um mesmo propósito.

4 — Ainda estamos aprendendo
e este processo é contínuo.
Para uma jornalista cujo foco de pesquisa passou de análise de redes sociais para a aprendizagem que permeia muito além das comunidades on-line, o universo da aprendizagem criativa são galáxias as quais sei que passarei a vida inteira explorando. Cada pessoa que conheço na RBAC, cada educador ou gestor que vem há anos trabalhando com construcionismo e aprendizagem criativa, cada novo projeto compartilhado no Media Lab, cada professor de escola que conheço no Brasil me apresenta um mundo totalmente novo e cheio de coisas interessantes para experimentar. Fico ainda mais ciente do quão pouco eu sei e o quanto quero aprender. E é isso o que vejo como característica de quem verdadeiramente se identifica com esta rede: entender cada pessoa que cruza nosso caminho como alguém que tem uma história muito legal para contar, e que pode nos ensinar muito.

5 — Apenas começamos

e temos muito pela frente. Desde a articulação inicial realizada pelo nosso diretor Leo Burd, MIT, há quatro anos, quando eu sequer sonhava em fazer parte de tudo isso, a RBAC cresceu demais, e ainda há muito a caminhar. A cada dia sabemos de mais necessidades, aumentamos uma ou 20 linhas no planejamento de programas para o Brasil, buscamos parcerias, fortalecemos as já criadas, engajamos pessoas, ouvimos professores, conversamos com pesquisadores, e tudo isso está alimentando este "monstrinho" que quer ver a aprendizagem criativa em escolas de todo o país.

Sei que chegaremos lá, todos juntos. ||

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Celebro hoje dois anos e dois meses de participação na RBAC. O último ano e oito meses como coordenadora regional em Pelotas-RS, os últimos nove meses como articuladora pedagógica da rede nacional, e há seis meses também como pesquisadora do Lifelong Kindergarten, grupo origem e referência global em aprendizagem criativa. Isso quer dizer que o trabalho anteriormente voluntário passou a ter um compromisso oficializado, e, já que isso significa muuuuuito mais trabalho e a mesma intensidade em histórias para contar, resolvi dar ouvidos a minha querida mentora e afilhada de casamento @Lisiane Lemos, e retornar esta energia boa para o universo. Segundo ela, está mais do que na hora de eu começar a compartilhar reflexões sobre tudo o que tenho vivido tão intensamente. Este post é a primeira tentativa. :)

Para saber mais e/ou participar da Rede, acesse: http://aprendizagemcriativa.org/.

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Carolina Rodeghiero

Jornalista, pesquisadora do grupo Lifelong Kindergarten no MIT Media Lab e articuladora pedagógica da Associação Brasileira de Aprendizagem Criativa.