Série "O nosso lixo de cada dia" — #1

Carolina Selles
4 min readMay 27, 2020

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Lixo plástico: O descartável que sai caro

Estima-se que 91% do plástico produzido desde 1950 ainda esteja no meio ambiente, já que apenas 9% desse total foi reciclado.

Ou seja, são cerca de 6.300 milhões de toneladas de plástico sem destinação correta e, que muitas vezes, acabam nos rios e oceanos. [1]

Estudos revelam que em 2050, se continuarmos nesse trágico ritmo, haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. [2]

A história do plástico

Toda invenção humana passa por diversas fases e descobertas. Isso também aconteceu com o plástico:

  • 1839 — Vulcanização
    O americano Charles Goodyear criou o processo chamado de vulcanizacão da borracha, ou seja, tornava o material natural mais durável, resistente às variações de temperatura e também elástico, permitindo que ele fosse esticado, porém retornasse ao seu formato original.
  • 1862 Parkesina
    O inglês Alexander Parkes apresentou a parkesina, considerada antecessora ao material plástico, mas a resina era feita de celulose, flexível, impermeável à água e podia ser moldada quando aquecida mantendo seu formato quando resfriada. O material não prosperou devido o alto custo de produção.
  • 1870 — Celuloide
    Com o propósito de substituir o marfim das bolas de bilhar (o marfim vinha se tornando escasso, devido a popularidade do esporte, além de ser uma ameaça aos elefantes!), o americano John Wesley Hyatt inventou o celuloide, um material mais rígido do que as invenções anteriores.
  • 1905 — Celofane
    O engenheiro têxtil suíço, Jacques Brandenberger, inventou o celofane, material feito à partir da celulose, na tentativa de criar uma película protetora e impermeável para toalhas de mesa.
  • 1909 — Baquelite
    O químico belga, Leo Baekeland, iniciou a era dos plásticos modernos: criando o primeiro material totalmente sintético e com escala de produção comercial. Dando o nome de baquelite ou resina fenólica, possuía característica rígida e resistente ao calor após ser moldada.
  • 1930 a 1950 — Polimerização
    Durante esse período houve a polimerização (produção de plásticos em diversos polímeros): neoprene, EPS (Isopor®), PVC (vinil), poliuretano, PA (poliamida — “náilon”), PET, PTFE (teflon®), silicone, PP (polipropileno) e PE (polietileno).

Boa invenção X Desastre ambiental

Sem dúvida, o plástico foi uma grande descoberta humana que trouxe inúmeros benefícios sociais.

Na área da saúde, por exemplo, materiais que hoje entendemos ser de uso único, como a seringa, anteriormente era um item compartilhado, contribuindo com a proliferação de doenças infectocontagiosas. Além de setores como: construção civil, automotivo, eletroeletrônico, alimentício, têxtil e tantos outros, também se beneficiaram da invenção do plástico e o inseriram como matéria-prima em seus negócios.

Porém, essa substituição desenfreada feita pela indústria, devido ao seu “baixo custo”, não foi acompanhada de questionamentos éticos: Como será o descarte desse novo produto que estamos produzindo? Onde será feito o descarte? É possível usarmos mais vezes este mesmo material — uma vez que ele leva cerca de 200 a 400 anos para se decompor na natureza?

Por não levarmos em consideração tais questionamentos, 70 anos depois da industrialização massiva do plástico, enfrentamos um grave problema ambiental, social e econômico (sim, uma hora a conta chega!).

Poluição de mares, rios e oceanos. Animais marinhos e terrestres ingerindo plástico por engano, outros sendo mortos por tais dejetos, uma vez que tornaram-se armadilhas para estes em seu habitat natural. Plástico na cadeia alimentar humana, por meio da ingestão de peixes e outros animais marinhos. Bairros, cidades e países pobres sendo usados como grandes depósitos de lixo, propagando doenças entre a população local e deixando o solo infértil. Além da ingestão indireta de toxinas derivadas do plástico por meio da água consumida pela rede de esgoto, devido a falta de um tratamento eficaz. E a lista de problemas poderia continuar, infelizmente.

E se…

Em vez de perpetuarmos uma abordagem típica da economia linear tradicional: extrair, produzir e descartar, adotássemos uma abordagem diferente? Que pudéssemos usar recursos, ao invés de consumi-los? Eliminar resíduos ao longo do design do produto, sem apenas jogá-los fora? Ou, ainda, criar possibilidades de retorno do produto vendido, em vez de estimularmos o descarte deles?

Catherine Weetman, em seu livro Economia Circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa nos convida a repensar modelos pré-existentes e nos estimula a criar novas possibilidades de fazer negócios, por meio da economia circular:

A economia circular é muito mais ambiciosa do que a reciclagem de materiais, ou ‘zero lixo para os aterros sanitários’. Ela amplia a cadeia de valor para abranger todos os estágios de fornecimento, fabricação, distribuição e vendas. Pode envolver o redesign do produto, o uso de diferentes matérias-primas, a criação de novos subprodutos e coprodutos e a recuperação do valor das antigas sobras dos materiais usados no produto e no processo. Pode significar venda de serviços em vez de venda de produtos, ou novas maneiras de renovar, reparar ou remanufaturar o produto para revenda. (WEETMAN, 2019. p33)

E esse é o objetivo da série: falar sobre um grande problema, mas inspirar, por meio de ações já existentes e pela ótica do design de produto, que, sim, é possível desenvolver um novo jeito de fazer negócios. Por isso, viajaremos pelo mundo conhecendo algumas iniciativas que possuem algo em comum: o que era lixo, e poluía ambientes, tornou-se matéria-prima para novos produtos.

Vamos descobrir como empresas, mas também e, principalmente, indivíduos são corresponsáveis pelo cuidado do nosso Planeta Terra. Afinal, empresas são feitas de pessoas! :)

DADOS BIBLIOGRÁFICOS
WEETMAN, Catherine. Economia Circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. São Paulo. Autêntica Business, 2019.

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