Sobre pássaros e lutas

Caroline Serafim
3 min readMay 9, 2018

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Às vezes a gente aprende algumas lições importantes quando menos esperamos, né?

Lembro de uma manhã de sábado em que eu estava batendo papo com a minha mãe na sala de jantar. Quando eu ainda morava com meus pais a gente sempre fazia isso. Mas, neste dia específico, decidimos procurar um filme na tv.

Sintonizamos em um desses canais que só transmitem filme o dia todo, provavelmente um Telecine da vida, e paramos pra assistir.

Sábia decisão.

Logo de cara vimos que o filme retratava um grande concurso de observação de pássaros, onde a pessoa que conseguisse ver o maior número de pássaros ganharia um prêmio. Se não estou enganada o prêmio era uma quantia em dinheiro.

O que deixa a história empolgante é que algumas espécies só podiam ser vistas a partir de lugares muito remotos, exigindo dos competidores disponibilidade para fazer viagens de avião por exemplo. Por isso, além de ser uma corrida contra o tempo, era preciso também ter dinheiro pra conseguir encontrar essas espécies.

Deu pra sentir a dificuldade dessa competição, né?

Bom, não vou me alongar muito. Mas, no fim, o vencedor foi um cara chamado Kenny.

Kenny tinha a grana e já fora vencedor algumas vezes nesse tipo de competição. A única coisa que importava pra ele era o prêmio.

Ele trapaceou, jogou sujo em alguns momentos e até sacrificou sua família (pois não tinha tempo para dar atenção a sua esposa, que estava grávida).

Kenny tinha muita certeza do que queria: lutar, a todo custo, pelo primeiro lugar. E foi, de fato, o que ele fez.

Só que eu e minha mãe estávamos torcendo para o Brad, o cara que se não me engano ficou em segundo lugar na competição.

Brad era um competidor que não esbanjava dinheiro, nem mesmo experiência, mas a garra e a força de vontade estavam a seu favor. Apesar de, no fim, isso não ter sido o suficiente para conquistar o primeiro lugar.

Durante a competição, Brad teve que superar alguns obstáculos bem difíceis. Seu pai adoeceu, seu dinheiro acabou e outros empecilhos o “forçaram” a diminuir o ritmo.

O que eu achei legal é que, apesar de ter entrado na competição para ganhar, em nenhum momento ele abandonou a família, trapaceou ou tentou prejudicar alguém.

Isso significa que ele não queria ganhar? De forma alguma. Isso só mostrou que Brad tinha muito claro na sua cabeça até que ponto a luta pelo prêmio valia a pena pra ele.

Para Brad, a família e os seus valores pessoais eram mais importantes do que conquistar o primeiro lugar. Por isso, quando as únicas opções que ele tinha eram vencer ou ser fiel consigo mesmo, ele não pensou duas vezes antes de diminuir o ritmo no jogo.

A lição que esse filme me ensinou pode ser resumida por um trechinho que retirei do livro que estou lendo, A Sutil Arte de Ligar o Foda-se:

“Qual é a dor que você quer na vida? Pelo que você está disposto a lutar?(…) Muitas pessoas querem o melhor sexo do mundo e um relacionamento incrível, mas nem todas estão dispostas a enfrentar as DRs, os silêncios constrangedores, a mágoa e o drama psicológico necessários para construir isso.”

Kenny estava disposto a pagar pelo preço que o primeiro lugar lhe custou — e quando digo preço, não tô falando só de dinheiro. Ele sacrificou uma família linda por exemplo.

No fim, Brad também saiu ganhando. Pois ele foi fiel aos seus valores e à sua luta. Abandonar a sua família e prejudicar outras pessoas não eram lutas que ele tinha escolhido enfrentar em busca do primeiro lugar.

Quem quer chegar no topo precisa estar ciente do caminho, às vezes tortuoso e nem sempre justo, mas necessário para chegar até lá. Por isso é muito importante não escolher os seus objetivos com base nos resultados e sim com base na batalha.

Muitas vezes no meio do caminho você pode descobrir que o seu objetivo talvez não seja aquilo que imaginou. E tá tudo bem. É só recalcular a rota e continuar seguindo.

É preciso se apaixonar pelo caminho, caso contrário vai ser muito difícil chegar em algum lugar.

E aí, já sabe qual é a luta que você está a fim de enfrentar?

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Caroline Serafim

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