Entre e sinta-se em casa

Cartas Para Mim Mesmo
2 min readDec 11, 2018

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Era meio dia em ponto quando eu toquei o interfone do Edifício San Martin. Estava um calor de matar.

— Boa tarde, tudo bem? Eu vim olhar um apartamento, pediram pra pegar as chaves na portaria.

O portão foi destravado e o porteiro já foi logo avisando que a maçaneta da porta estava quebrada, mas que naquela mesma semana seria trocada caso eu decidisse alugar.

— Apartamento 54, quinto andar. Não repare o cheiro de tinta, o elevador acabou de ser pintado.

Alguns segundos de espera até o elevador descer. Já fazia quase um mês de procura e tudo o que eu esperava era a sensação de estar entrando em casa quando abrisse a porta.

Um chaveiro com três chaves. Tentativa e erro. Na minha segunda chance eu acertei. Empurro a porta devagarzinho e aos poucos vou sentindo o cheiro do local. Estava fechado há algumas semanas, mas eu ainda podia imaginar as histórias de quem havia passado por ali.

Parede, janela, piso. Observo cada detalhe de um ambiente vazio. Caminhei a passos lentos pela sala sem divisória com o quarto. Empurrei uma segunda porta e vi a sacada. Tinha espaço de sobra para duas pessoas - talvez três - beberem uma cerveja.

Olhei pro céu e vi que o pôr do sol poderia dar as caras no fim da tarde sorrindo entre um espaço e outro dos prédios ao redor. Eu não precisava de mais do que isso.

Já passava de meio dia e estava um calor de matar, quando finalmente eu me senti em casa num apartamento com a maçaneta da porta quebrada. O meu primeiro apartamento, a minha primeira sacada.

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Cartas Para Mim Mesmo

Um redator publicitário escrevendo para espantar a insônia. Portfólio: mathiasandretta.com.br