Mulheres na Tecnologia

Catarina Barbosa
6 min readJan 10, 2023

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Não poderia iniciar esse texto de uma maneira diferente do que me apresentando.

Sou Catarina Barbosa, nasci em Fortaleza — CE onde morei por 22 anos e após me formar em Odontologia me mudei para São Paulo — SP para atuar como dentista em uma clínica particular e posteriormente ir para USP de Ribeirão Preto tentar mestrado em reabilitação oral. Até perceber que não gostava do que fazia, desenvolver síndrome de pânico e fazer transição de carreira para a área de tecnologia. O assunto te interessa? Comenta comigo, quem sabe isso gera um novo artigo!

Uma colagem com quatro fotos minhas uma mulher preta de pele clara, vestida com oculos transparente com a borda superior preta, gorro, mascara e jaleco branco, atendendo em uma clinica odontologica

‘Muito bom ver as mulheres chegando em tecnologia’ , uma frase comum de escutar quando falo que atuo como desenvolvedora de software ou quando estamos entrevistando alguns homens. Mas será que essa afirmativa é verdade? E a resposta é não! Não estamos chegando agora na área de computação.

A primeira turma de ciência da computação da USP teve em sua maioria mulheres! O curso fazia parte do Instituto de Matemática, predominantemente feminino, porque a matemática e a computação era vista como uma área de professoras e secretariado, respectivamente. Para ingressar na computação era necessário fazer 1 ano de matemática e em seguida entrar ou não, se mantendo assim até meados de 1980, quando o ingresso no curso passou a ser por vestibular e como a área já estava famosa, mais homens começaram a optar por computação.

Porém esse não é o único legado das mulheres em computação, assim como mostra no filme Estrelas Além do Tempo, contando a história de três mulheres negras e suas colegas negras, ajudaram a Nasa na corrida espacial. Mesmo com toda a segregação racial e todos os preconceitos elas fizeram história na área de tecnologia dos EUA e do mundo, imagine o que elas poderiam ter feito com incentivo.
Faço o convite para lerem o livro ou assistirem o filme para conhecerem mais a história de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe)!

Montagem com Katherine Johnson na vida real e ao lado a atriz Taraji P. Henson trajada do personagem que interpreta Katherine Johnson no filme estrelas além do tempo; Dorothy Vaughn na vida real e ao lado a atriz Taraji P. Henson trajada do personagem que interpreta Octavia Spencer no filme estrelas além do tempo ); Mary Jackson na vida real e ao lado a atriz Taraji P. Henson trajada do personagem que interpreta Janelle Monáe no filme estrelas além do tempo;

Além de Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson há muitas outras mulheres que fizeram a diferença como:

  • Ada Lovelace: Referenciada como a primeira programadora do mundo.
  • Grace Hopper: Seu trabalho levou o desenvolvimento do Cobol (Linguagem de programação).
  • Hedy Lamarr: Propagação de salto de frequência (FHSS), inicialmente idealizado para guiar torpedos e posteriormente utilizados para o desenvolvimento do WI-FI, GPS e Bluetooth. Homenageada com uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, pois também era atriz.
  • Annie Easley: Importante nas pesquisas de fontes de energia eólica, solar, além de baterias elétricas, hoje base de veículos híbridos, além de desenvolver software para medir ventos solares.
  • Mary Allen Wilkes: Advogada e fez parte do desenvolvimento do sistema operacional de LINC. Construiu o seu próprio PC e torna-se a primeira pessoa a ter um computador doméstico da história.
  • Radia Perlman: “Mãe da Internet”, inventora do protocolo Spanning Tree (STP).
  • Karen Sparck-Jones: Responsável pela criação do conceito da frequência inversa de documentos, uma tecnologia que sustenta os mecanismos de buscas mais modernos.
  • Além de Adele Goldberg e Elizabeth J. Feinler;

Hoje as mulheres não são maioria na computação, somos 30.7% de acordo com a pesquisa da Thoughtworks e a PretaLab na pesquisa Quem Coda Br de 2019. Mas nós podemos fazer ações que modifiquem esse cenário a curto e longo prazo.
Conversando com mulheres que já atuam na área e as que ainda estão nas faculdades, percebi que situações do dia-a-dia as afastam da profissão pois não querem ir trabalhar ou estudar e se sentirem menosprezadas. Nesses relatos alguns pontos aparecem com certa frequência, sendo eles:

  • Situações machistas: — Você está aqui para embelezar o time; — Ser interrompida ao falar; — Receber explicações óbvias; — Ter ideias ‘roubadas’; — Está sempre relacionado com situações de ‘cuidado’ do time; — Você está louca!; — Menosprezarem nossas falas; — Diminuirem as dores do machismo sofrido, por acharem que é besteira; — Desmerecer o trabalho feito; — Falar dos nossos corpos sem autorização; — Referenciar as demais mulheres por características de seus corpos (Ex: A peituda do financeiro. A gostosona de tech.); — Parar de falar algo porque a mulher chegou, como se ela tivesse interrompendo o clube do bolinha; — Mudar o tom de voz ao falar com uma mulher, seja para trata-la diferente ou taxa-la como exaltada.
    (Aqui eu poderia enumerar diversas formas sutis de machismo, você gostaria de ler sobre isso? Conta aqui nos comentários.)
  • “Piadas” desagradáveis: — Não tem louça para lavar?; — Deve estar de TPM; — Só podia ser mulher fazendo isso!; — Ah, isso é coisa de mulher; — Mulher é tudo assim mesmo.
  • Falta de sororidade: Outras mulheres com falas e atitudes machistas, menosprezando outras mulheres pois acham que devem ‘agir como homens’ para que sejam respeitadas.
  • Querer realizar nossos trabalhos: Não aceitar que não queremos ajudas para realizar nosso trabalho; — Falar que não somos capazes de realizar tais tarefas; — Explicar nosso próprio código a nós mesma; — Não confiar no trabalho desenvolvido.
  • Assédio moral e sexual.

E se você não acreditou que algo desses tópicos não aconteceu, você está cometendo um dos tópicos acima! Porque o que está escrito foi relatado por mulheres da área.

Perceber essas ações e tentar modifica-las, além da mudança de cultura por parte das empresas, universidade, faculdades e professores, permitirá dar grandes passos em direção a mudança do cenário a curto prazo.
Outra ação a curto prazo é incentivar que mais mulheres ingressem na área de tecnologia. Uma forma de contribuir com esse incentivo é falar e explicar sobre nossa profissão, e se ela gostar indicar cursos, bootcamps, bem como vídeos no youtube e outros… Assuntos para um próximo artigo.

A longo prazo a mudança começa estimulando as meninas com brinquedos e brincadeiras que estimulem o raciocínio lógico.
Hoje ao entrarmos em uma loja de brinquedos pode-se perceber que na ala dita como feminina está repleta de brinquedos rosas, bonecas que simulam a maternidade, ou representação de profissões que cuidam de outras pessoas como médicas, dentistas e enfermeiras; Além de utensílios de casa como vassoura, ferro de passar, panelas e afins.
Na ala dita como masculina há brinquedos de diferentes cores, com representações de diferentes profissões, brinquedos mais tecnológicos e que estimulam o raciocínio lógico.

Mas e o que isso tem a ver com a computação? Tudo! Pois o desenvolvimento infantil está diretamente relacionado aos brinquedos e brincadeiras. Sendo assim quando crescem as mulheres se sentem menos capazes a exercer profissões de exatas.

E para ensinar código para crianças e até mesmo adultos há alguns jogos online para aprenderem a programar: Flex Froggy; Grid Garden; CodeCombat; CodeMonkey. Brincando podemos fazer a diferença no agora e no futuro!

E aqui deixo também o meu agradecimento a todas as mulheres que estiveram antes de mim e as que virão depois, vocês fizeram e fazem muita diferença em minha vida e na vida de milhares de mulheres ao redor do mundo! Muito obrigada!

Bora galera, mulheres!

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Catarina Barbosa

Uma dentistas que virou Dev, buscando qual o sentido de tudo isso, tentando sobreviver a turbulência que é a vida.