O Silêncio da Liberdade

Ceila Santos
5 min readJul 19, 2023

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A Filosofia da Liberdade é uma obra escrita por Rudolf Steiner, no século XIX, cuja leitura lhe permite viver o enigma de ser humana.

Seja sincera consigo. Viveu a pergunta SE existe liberdade na sua vida? Talvez, essa seja sua agonia de juventude, mas pergunto para quem ultrapassou a barreira profissional. Ei, tu que fez a travessia, existe liberdade?

Pra quem refletiu o tema dentro da academia ou sentiu o mantra ideológico da escravidão do trabalho, eu imagino caminhos diferentes da crise existencial que cai pela descoberta do silêncio que a obra Filosofia da Liberdade me provocou desde 2018.

O escritor austríaco não tinha se tornado o pai da Antroposofia quando publicou a primeira edição, em 1894. Sua obra faz parte da linhagem alemã. Quantas mulheres em sua volta traduz alemão?

Li as três traduções mais recentes. Parece que existem quatro, no total. A tonalidade, que captei de Steiner, na leitura de todas traduções é de receber um fundamento. A pergunta que faço e repito (existe liberdade na sua vida?) vem do primeiro capítulo, onde Rudolf Steiner caracteriza os dois caminhos de resposta: sim e não!

Em determinado momento — o certo — Steiner traz a grande pérola: como essa pergunta surgiu na sua vida?

Eu descobri que ela surgiu na minha vida a partir da leitura da obra. Descobrir isso permitiu dar um marco para lidar com a crise existencial que me encontro como membro da Sociedade Antroposófica no Brasil, a qual faço parte há seis anos. Contei dessa crise no dia 1 de julho de 2023, quando reconheci um dos motivos, que me levou à dedicação a Filosofia da Liberdade, que considero um caminho meditativo.

Como surgiu essa pergunta da liberdade na sua vida? Na minha, surgiu pela ingenuidade de acreditar numa frase que se repete nas escolas waldorf: o mundo é bom, belo e verdadeiro.

Seguia esse mantra com o instinto materno de quem cuida e com o ideal materno de quem pensa. Cuidar e pensar no corpo de mãe tem muitos sentidos e significados diante do dilema exposto e refletido pelas mulheres feministas. Detalhe: os sentidos e seus significados mudam não só nos tempos e dentro com seus sistemas, também se expressa na individualidade.

No cada UMA, onde nossa história é única, a armadilha da simbiose me fez esquecer do lugar de mãe. Vivia o drama de ser adulta, mas acreditava que poderia ser abençoada como as crianças e os adolescentes que recebem o bom, o belo e o verdadeiro.

Citei este esquecimento no texto que me levou à crise existencial de sentir que a fé pode ser um ato de escolha. Naquele momento, eu ainda não sabia que o esquecimento também se referia à armadilha de ser mãe e viver misturada ao mantra da Fase da Vida das minhas filhas.

Por mais que eu conhecesse o drama social da mulher na pele - além do cabeção, cheio de leituras e práticas - não percebia que viver o senso da verdade: “o chamado” — era uma luta.

Seguia a luta, a perda e aprendia o mantra da comunidade: silencie és tu, não A gente! como se as vozes que mandavam eu me virar fossem saudáveis. Ou seja, esqueci que elas fazem parte da doença que carregamos como dilema social.

Explicitar o diálogo do que ouvi de vozes reais durante minha jornada materna é ouvir da comunidade o que ela pode dar diante da questão social que não vamos resolver juntas nem junto e muito menos juntes. Não existem grupos para acolher mães! Os problemas sociais são tão básicos e vivemos ainda a pobreza de priorizar o que se dá conta…e, na conta de quem mora ao lado, o aperto é tanto que o máximo que conseguimos, espremidas entre quem somos, é ficar ombro a ombro.

Aprendi que o asno do primeiro capítulo é real! Podemos atravessá-los, ou devemos…mas poder e dever são atos individuais, de plena liberdade…ou não. Afinal, podemos não crer na liberdade, certo? Pirou?

Vivi duas jornadas, que se entreteceram com aborto no meio do caminho, quando me tornei mãe. Essas jornadas trouxeram significados para o nascer e morrer que representam a razão da ingenuidade de acreditar que o mundo é bom, belo e verdadeiro. Quando ouvi o mantra no meu corpo de mãe senti a verdade tão profundamente que esqueci do drama. Inventei a aldeia de #tamujuntas para continuar em frente…sempre!

Enquanto tu teces essa bondade, beleza e verdade para a infância e juventude, “acreditando que é assim que a vida é…da cabeça aos pés”, existe música e muitos encontros. Você tem uma criança pra cuidar e tem gente do bem que quer cuidar das crianças pra elas brincarem e são muitas. Só que lugar de mãe não é na escola nem é onde ela quiser…Lugar de mãe é fora de casa. Essa é a verdade que ouvi, enfrentei, vivi e senti a punição pela luta travada da coragem de fazer o que precisava ser feito sem olhar para o limite!

A pandemia mudou a brincadeira, mas o dilema continua. É trazido à tona no palco. Cada vez mais gente conhece nas entranhas os sistemas, os vínculos, os processos e os arquétipos maternos. Ver, ouvir, compreender, abanar a cabeça, ok! Mas…resolver? Ahn! Ninguém quer cuidar do drama junto, até rola um círculo, uma partilha, um escuta cá e cuida de lá, mas se a criança cresceu, fala, anda e se vira, bora seguir cada uma no seu desafio cármico hereditário porque é punk demais olhar para mãe como sociedade diante das pautas que pulsam para nossa evolução. Podemos brincar de ter cuidado e dizer não…mas dar a mão pra quem pede socorro?

O drama é teu. Engole o veneno e siga! Não reclame, agradeça! Chega de mimi, busque dinheiro no lugar certo, você é adulta.

Para chegar na razão da minha ingenuidade, eu conheci todos os palcos — o da guerrilha, o da política, o dos rituais — andei nas trilhas onde havia outras mães e, por isso, o diálogo exposto. Não foi só o recorte dito no primeiro relato: todos homens! que criou a miragem, inflamou a ira e permitiu que eu resistisse no lugar de quem luta sempre em frente!

Leia texto na íntegra: Crises e Silêncio — https://medium.com/@ceilasantos/crises-e-sil%C3%AAncio-68f0fc5343cb

Tem o bolso e as gerações…
Enquanto luta e clama, tu olhas para o lado e vê a diferença: existe jaula para quem nasce no berço que ocupa o topo da pirâmide econômica? A pergunta sempre esteve ao lado, você reconhece que não é igual, mas continua.

Afinal, algo temos em comum. Vemos o mesmo sol, cantamos a mesma música e fazemos de tudo pra ritualizar as festas juntos, juntas e juntes. Em que direção? Na profundidade que os enigmas da alma convocam durante a simbiose da primeira e segunda infância ao seu senso de verdade e…

…para o fundo da burrice de classe? Existe uma teimosia no querer ser abençoada pelo que faz de “certo”, de querer realizar o fraterno onde a outra é quem tem o poder na mão. Não dá! Pode se esforçar, sustentar, manter, cuidar, transformar — senão tens o bolso cheio, não és tu!

Da jaula que eu pertenço, a obra esotérica abriu muitos ferros: ei, hello, não há mãos invisíveis. São humanas e poderosas.

Estar junto só se tu fores da tribo e souber exatamente o seu lugar na roda.

Cuidado com enigma que não consegue desvendar ele pode esconder a ira divina que te desnuda em pura impotência por não conseguir agir com as próprias mãos, coragem, mulher, há de existir o caminho além da contradição humana. Se existir és tu que terás de encontrá-lo, kkkk.
Boa jornada!

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