#ILA19MED – dia 02: Design como instigador de novas perspectivas

Jeancarlo Cerasoli
4 min readNov 2, 2019

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Quais os caminhos futuros para a prática do Design que já se fazem presentes hoje?

Ainda na linha do relato sem muito tempo para reflexão e análise, sigo com minhas impressões sobre o segundo dia do ILA Medellín 2019. (Aliás, complementei o artigo sobre o dia 01 com breves resumos das principais apresentações que assisti — se ainda não leu, corre lá depois… e leia também o relato do dia 03, pra fechar esta série…).

No seu segundo dia o Interaction Latin America seguiu provocativo, trazendo diversos keynotes que buscaram tirar os profissionais de sua zona de conforto ao questionar alguns "dogmas" atuais do mercado de Design.

A carreira do Designer

Nick Finck colocou o dedo numa velha ferida: a progressão da carreira do UX Designer, desde seus níveis mais juniores à vice-presidência de uma organização. Finck ressaltou que, para a sustentabilidade e viabilidade do Design enquanto negócio, não são os anos de experiência que deveriam servir como critério de seleção para ocupar postos de trabalho da área, mas sim as habilidades ("skills") do profissional e a qualidade de seu trabalho.

Numa realidade em que se exige experiências irreais de profissionais juniores, os designers de níveis intermediários estão se esgotando em 2 anos gerando uma alta rotatividade de profissionais, "uma dança das cadeiras surreal em que só aumentam as cadeiras sem o correspondente aumento no número de participantes". Assim, os seniores, que deveriam mentorar profissionais menos experientes, acabam tendo que se dedicar a atividades repetitivas e operacionais.

No outro extremo, espera-se que os profissionais mais seniores que alcançam os níveis de gestão continuem colocando a mão da massa em jornadas de trabalho duplicadas que acabam afastando tais profissionais do papel mais estratégico de negócios que eles poderiam desempenhar.

O futuro do Design

Maritza Guaderrama fez uma das apresentações mais instigantes do dia ressaltando os 3 aspectos que considera fundamentais para a disciplina no futuro próximo: A. O Design deve ser transdisciplinar e profundamente colaborativo para fazer sentido; B. O Design precisa dominar a narrativa (que, para ela, é mais que apenas storytelling) para ser capaz de estabelecer uma conexão emocional com as pessoas (stakeholders, consumidores e usuários); C. O Design tem que ser orientado a impactar as vidas e os negócios através de um planejamento com simplificação radical e métricas que demonstrem seu potencial de transformação.

E como este Design conseguirá moldar o futuro? Só ele é capaz de combinar diversas perspectivas (ex.: abordagem focada no cliente mas ao mesmo tempo sustentável) com uma prática totalmente baseada em experimentação e construção do aprendizado. "Nem que o preço deste processo seja causar alguma fricção intencional em detrimento de experiências homogêneas".

Inteligência Artificial como novo campo do Design

Por falar em provocação, Josh Clark defendeu a convivência construtiva entre designers e machine learning. Para ele, se nos últimos anos o Design focou em interfaces móveis, nos próximos o campo de jogo será a inteligência artificial.

O foco não é a tecnologia que aumenta o ruído na vida das pessoas mas, sim, a tecnologia que acrescenta significado no dia a dia das pessoas, ampliando o nosso potencial humano.

Clark ressalta que as limitações da tecnologia são, em última instância, nossas próprias limitações humanas. Se a inteligência artificial é uma criança de 10 anos que mimetiza os comportamentos dos adultos, os designers podem e devem combinar seus esforços com estas novas possibilidades para reduzir atividades redundantes a fim de poder focar em atividades realmente estratégicas que entregam valor para as pessoas.

Resultados x Entregáveis

Outro Josh, desta vez o Josh Seiden trouxe uma discussão bastante quente dos últimos tempos: "outcomes over outputs".

Para ele, o principal objetivo do Design hoje deveria ser a geração de valor através da construção de comportamentos desejáveis na perspectivas dos negócios, dos nossos clientes e de seus usuários [aqui eu acrescentaria também a sustentabilidade da espécie humana como outra perspectiva, para fazer uma ligação com as apresentações do primeiro dia].

Assim, em última instância, objetivos de negócio claros ajudam a definir qual é o valor esperado pelo nosso cliente. Com base nisso passamos a construir uma série de experimentos (outputs) e aprendizados que melhor se combinem para produzir os resultados (outcomes) esperados – os quais se manifestam na forma de comportamentos que geram valor.

Ufa! Este é o meu resumo do dia 02 do ILA 2019 Medellín (leia também os relatos dos dias 01 e 03). Espero ter gás para trazer minhas impressões sobre o terceiro e último dia do evento. Quer dar uma força? Deixa seu comentário, compartilhe… Afinal, quem resiste a uma boa palavra de incentivo?

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