Amando um dermatilomaníaco.

Clara Dantas
3 min readMay 22, 2019

Dessa vez, quero falar não sobre o transtorno em si, mas nas implicações que ele traz ao relacionamento amoroso. Antes de tudo, uma breve apresentação: meu nome é Clara, tenho 24 anos, sou lésbica e lido com a dermatilomania desde a adolescência.

Eu e minhas cicatrizes. Registro feito no dia 22/05/2019.

Eu já tive muita vergonha do meu corpo. Observando-me nua, sentia asco dos meus ferimentos abertos e das cicatrizes tão marcadas. Consequentemente, não me permitia fazer sexo com ninguém — pois considerava que, assim como eu, a pessoa iria reparar em minhas imperfeições e enojar-se.

A verdade é que ao ver minhas angústias tão explícitas em minha pele, eu não conseguia estar à vontade para compartilhar meu corpo com outra pessoa. Seria uma exposição muito grande, um estado de vulnerabilidade que podia ser evitado. Ao mesmo tempo, surgia a frustração por não manter relações físicas com alguém que eu de fato gostava.

É muito compreensível que nós, dermatilomaníacos, sintamos receio de explicar essa condição, principalmente para a pessoa que amamos. Temos medo de suas reações e do que irá pensar a nosso respeito. Por isso, é muito importante que o assunto seja abordado da maneira mais didática possível, para que seu/sua parceiro(a) compreenda as causas e efeitos desses impulsos e compulsões.

Um ponto que quero ressaltar é o seguinte: discussões podem levar um dermatilomaníaco à crise? Sim. Isso quer dizer que o cônjuge deve engolir sapos e simplesmente fugir de possíveis brigas? Não. Fatores externos podem ser gatilhos sim, mas a responsabilidade de lidar com as sensações que surgem em decorrência disso é unicamente de quem tem dermatilomania. E mais: usar o distúrbio como desculpa para evitar conflitos e/ou justificar ações problemáticas é chantagem emocional, que condiz com comportamento manipulativo. Por isso, fique atento(a).

Todas as namoradas que tive sabiam de minha condição. Para minha sorte, todas lidaram bem — algumas até mesmo me ajudavam a tratar dos ferimentos e a colocar os curativos. A única pessoa que ainda insistia em agir com completa aversão à minha pele era eu mesma.

Hoje, solteira, percebo que a autoaceitação é o primeiro passo para aprender a lidar com as marcas, abertas ou não. Por mais clichê que isso soe, o fato é que preciso me amar primeiro, antes de esperar que alguém me compreenda e me aceite como sou. Afinal de contas, a forma como essa pessoa me enxerga e me trata é reflexo do respeito e admiração que tenho por mim mesma.

Imagem meramente ilustrativa.

A você, que tem dermatilomania: saiba que essa sua forma de lidar com sentimentos não é errada. Aprenda com ela. Observe-se, identifique o que lhe faz bem e o que lhe deixa mal. Quando estiver em um relacionamento sólido, compartilhe essas impressões. Em vez de agir como vítima das circunstâncias, tome consciência de suas forças e fragilidades. Nunca, em hipótese alguma, coloque nas costas de outra pessoa o peso da responsabilidade de suas próprias feridas.

A você, que se relaciona com alguém que tem dermatilomania: faça essa pessoa se sentir amada e desejada. É provável que, em alguns momentos, ela evite contato físico, por não se sentir confiante o suficiente. Não insista, mas faça com que ela perceba que isso não é um empecilho; que o estado temporário de sua pele não a deixa menos atraente; que ela não precisa estar mentalmente equilibrada o tempo todo; e, o mais importante, que você se importa.

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