Ansiedade.

Até que ponto a culpa é dela?

Clara Dantas
3 min readOct 1, 2017

Frequentemente, pelas redes sociais, eu vejo posts como “Coisas que todo ansioso gostaria que você soubesse” ou “10 maneiras de ajudar quem tem ansiedade” e realmente acho legal que, aos poucos, as pessoas estejam se conscientizando a respeito de enfermidades psicológicas.

Mas e nós, que sofremos deste mal? O que devemos fazer? Somos meras vítimas, ou será que temos alguma escolha? Pergunto porque, com o tempo (e com muitos puxões de orelha, claro), comecei a perceber a complexidade de tudo aquilo que me cerca: pessoas, situações e, principalmente, posicionamentos. Dessa forma, aprendi a não confiar em determinismos e a evitar certezas. Acho importante questionar, refutar, mesmo quando a resposta obtida é aparentemente boa.

Depois de levar umas boas palmadas da vida, compreendi que, da mesma forma que as ações dos outros afetam minha cabeça, as minhas também têm esse poder. Foi doloroso. Para chegar a esta lição, algumas relações foram sacrificadas. Então, na esperança de que você, ansioso(a) que está lendo, não precise passar por isso, escrevo esta reflexão.

“Minhas ansiedades têm ansiedades.” (Charlie Brown)

Parto do princípio de que todos nós temos responsabilidades perante nossas ações. Independente de sermos depressivos, ansiosos ou mentalmente saudáveis.

Lido com a ansiedade desde minha adolescência e reconheço que, algumas (talvez muitas) vezes, me vi impossibilitada de agir racionalmente por causa dela. Tomei atitudes carregadas de emoção, “no calor do momento”. Falei e fiz o que não devia e me vi arrependida logo depois, sem sequer entender o porquê daquilo — e me sentindo culpada, pra variar.

Hoje, após anos de terapia, consigo exercer um certo controle sobre esses impulsos. E por mais que seja clichê dizer isso, vale lembrar que se eu posso, você também pode. Considerando que já tenha desenvolvido a empatia — pois a capacidade de colocar-se no lugar do outro é parte fundamental do processo — , o segredo está em seguir os seguintes passos:

01. Parar de ver a si mesmo como vítima das circunstâncias. Como se as coisas ao seu redor simplesmente acontecessem sem sua influência, e você fosse sempre o(a) mocinho(a). Agir de maneira irresponsável para depois culpabilizar sua ansiedade é muito cômodo e, ainda por cima, joga toda uma carga negativa em cima de um transtorno mental que já é bastante estigmatizado.

02. Não esperar que as pessoas lhe tratem de maneira especial. No momento em que você exige atenção, com frases do tipo “Fale comigo, tenho ansiedade”, “Responda rápido, preciso me distrair” ou “Estou em crise, quero conversar AGORA”, significa que está atribuindo a terceiros uma responsabilidade que é unicamente sua. É claro que não há problema em pedir ajuda a um ente querido; o erro está em se tornar dependente, em necessitar que alguém lhe traga algum sopro de tranquilidade, quando o ideal é que você aprenda a vencer obstáculos por conta própria.

03. Admitir que você não comanda o mundo, e sim suas reações diante dele. À primeira vista, parece contraditório que para que você descubra como se controlar, tenha que aceitar que não controla todos os eventos em sua vida — mas se pensarmos bem, faz todo sentido. Quando uma coisa não sai conforme o planejado (ou mesmo quando sai EXATAMENTE como você queria), a tendência da cabeça ansiosa é surtar, diante de tantas expectativas mal administradas. Então, para evitar esse surto (que, querendo ou não, uma hora ou outra vai acontecer), o melhor é reconhecer que nem tudo depende de você.

Através dessas três dicas, você se torna ciente de suas fragilidades, mas sem se vitimizar, ao mesmo tempo em que assume uma postura mais lúcida. Talvez você torça o nariz e as ache inviáveis ou rudes demais para alguém com a mentalidade tão sensível; mas, ao colocá-las em prática, vai notar que sua vida (pessoal e social) irá melhorar.

Vale lembrar que esses são conselhos básicos, isto é, os pontos-chave para que você encontre o equilíbrio. Aprenda, mas não se prenda a elas. Não existe uma “receita” para a estabilidade; cada um deve descobrir sua própria fórmula de lidar com a consciência ansiosa e extremamente particular.

Texto inteiramente dedicado a Kemmye Lima, cuja mente instiga a maioria de minhas palavras.

--

--