Dermatilomania.

Clara Dantas
2 min readApr 17, 2017

Eu tenho dermatilomania (ou skin picking disorder, em inglês). Isso significa que sinto uma necessidade extrema de tocar, arranhar e coçar a minha pele, por repetidas vezes, de modo intensivo. Pode parecer algo simples, mas não é.

Passar horas examinando o próprio corpo, procurando por alguma imperfeição. Ao encontrar, coçar agressivamente, causando uma ferida que, inevitavelmente, vai demorar a cicatrizar, devido a repetição da escoriação. Sentir vergonha, a ponto de usar roupas maiores e mais largas, e até mesmo evitar relacionamentos físicos. Acordar com as unhas sujas de sangue, resquícios dos ataques feitos durante o sono. Estas, por um bom tempo, foram situações cotidianas em minha vida. Ocasionalmente, reaparecem, mas não com a mesma frequência de antes.

As lesões só chamaram a atenção das pessoas em meados de 2010, quando eu estava no Ensino Médio, mas acredito que essa “mania” violenta tornou-se um costume muito antes disso. Fruto da ansiedade e de um déficit de demonstração de sentimentos. Por vezes, senti como se eu estivesse aprisionada em minha própria pele.

Demorei anos para descobrir que se tratava de um transtorno compulsivo, que não sou a única com esse problema e que sim, eu posso exercer certo controle sobre ele. Entrei em contato com outras mulheres — de diferentes países, inclusive — que sofrem com as mesmas insatisfações que eu. Trocamos dicas de como cuidar dos ferimentos, como evitar crises e, juntas, passamos a lidar com os momentos de fracasso.

Minha luta contra essa desordem é diária. Contra o instinto de autodestruição. Contra o descontrole. Contra o desequilíbrio emocional. Contra a culpa.

Se hoje eu consigo exibir meu corpo para outra pessoa, é porque passei muito tempo convivendo (e aprendendo) com esse distúrbio. É porque parei de me sentir mal por ter desenvolvido uma série de hábitos que prejudicam unicamente a mim.

Passou-se o tempo em que eu ficava insegura por causa das cicatrizes. Tenho certeza de que a maioria das pessoas nem consegue enxergá-las, mas eu as vejo. São as marcas de meus conflitos internos. Representam fases ruins da minha vida. Exatamente por isso, lembram os obstáculos pelos quais passei. Aprendi a vê-las como sinal de minha força, ao invés de fraqueza. Cada uma delas tem uma história.

Para mais informações a respeito da dermatilomania, consulte OSPA (Obsessive Skin Pickers Anonymous).

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