Desapego.

Quando? Como? Por quê?

Clara Dantas
3 min readJun 19, 2017

Pessoas abertamente desapegadas e sua falácia sobre liberdade sempre me deram nos nervos. Isso porque julgo que não têm responsabilidade afetiva, que fazem o que for de sua vontade sem se importar com o impacto de suas decisões em terceiros.

Não gosto de coisas soltas demais. Se me disponho a me relacionar com alguém, preciso ter certeza que existe um compromisso. Que a relação é segura, sólida, concreta. Odeio o talvez. Não quero um amor que “não sabe se vai estar aqui amanhã” (imagem abaixo).

Fonte: Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente

Tal pensamento é resultado de anos e anos de idealização romântica, através de músicas, livros, filmes, séries, novelas... Querendo ou não, também é reflexo da ansiedade e de sua consequente necessidade por controle. [O fato de eu ser taurina pode ter alguma influência em minha perspectiva. Afinal de contas, Touro é o signo fixo do elemento Terra, encontra prazer em possuir. Mas se astrologia não for sua praia, apenas desconsidere essa informação.]

Nesse caso, o que deve ser feito? Praticar o desapego seria uma solução? Em que isso me ajudaria, especificamente? O fato de eu me sentir tão conectada a alguém é ruim?

À primeira vista, frases como “nessa vida, nada dura para sempre” ou “cedo ou tarde, as perdas acontecerão” me pareciam bastante egoístas. Carregadas de uma aceitação radical que beirava a apatia. Isso sem falar no velho clichê de “se o(a) ama de verdade, deixe-o(a) ir”. Então, uma amiga me explicou que o “deixar ir” não se refere a não fazer questão, mas sim a não impedir que a outra pessoa vá embora, se assim ela quiser.

Desapegar de indivíduos ou hábitos prejudiciais sempre fez muito sentido para mim. Não há nem o que contestar. O que ainda tenho dificuldade em assimilar é: por que fazer isso com coisas boas? Por que desapegar de alguém que você ama, que lhe faz bem?

O primeiro passo para a compreensão é admitir que apego não é bom. Estou acostumada à ideia (deturpada) de que me apegar é dar valor, assumir que aquilo é importante e necessário… Quando na verdade está muito mais relacionado à posse do que a qualquer outra coisa. Se você se agarra a algo, é porque tem medo de perder. Você quer tanto aquele objeto/sujeito que acaba se prendendo, e a simples possibilidade de que, um dia, isso não vá estar mais ao seu alcance, lhe causa sofrimento.

Algumas crenças orientam que devemos enxergar nossa existência como transitória; que deixar de lado o egoísmo e praticar a caridade é o caminho para a evolução; que o verdadeiro amor liberta e cuida; que o desapego é a mãe de todas as virtudes.

“Treine a si mesmo para deixar ir tudo aquilo que teme perder.”

Se você não se sente à vontade com religiões (entendo perfeitamente!), podemos encontrar noções simulares presentes na cultura pop. Em Fight Club, Tyler Durden fala que “as coisas que você possui, acabam possuindo você”. Em Star Wars, a filosofia Jedi nos ensina a viver o agora, sem materialismos ou apegos emocionais. Até em Adventure Time, Jake mostra diferentes lições sobre espiritualidade, dignas de um monge.

Não estou alegando que esta é uma tarefa fácil — com certeza não é! Mesmo pesquisando e pensando a respeito, encontro dificuldades em aplicar de forma prática esse conhecimento em minha vida. A busca pelo desligamento, seguido de uma maior harmonização com seu eu interior, é um processo gradual. Cada um tem seu ritmo.

De uma coisa, estou certa: este é o caminho. Há muito o que ser (des)feito. Como o próprio Mestre Yoda disse, é preciso desaprender o que aprendemos.

Dedico este texto a Kemmye Lima, que vez por outra “explode minha cabeça” com suas análises e inquietações pessoais, morais e intelectuais.

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