Duplo disfarce.
À primeira vista, seus olhos pareciam ferozes. O andar desconfiado, pronto para dar o bote. Presas afiadas o suficiente para rasgar um pescoço com uma só dentada.
Esta era a imagem que todos viam: um lobo.
Uma vez distante da agitação típica da vida em comunidade, permitia-se mostrar certa vulnerabilidade — mas apenas aos mais íntimos.
Despia-se de seu disfarce e revelava a face de um cordeiro. O pelo branco, ora escondido, dava lugar ao cinzento, assim como a expressão inocente substituía a postura predadora. Um ser tão frágil que aqueles que estavam ao seu redor, automaticamente, sentiam-se responsáveis, como se devessem defendê-lo.
Quando o círculo se fechava ainda mais, tinha a oportunidade de ficar a sós com um suposto protetor. Seduzia-o, deixando-o inebriado por sua candura e honestidade.
Por fim, em um momento de entrega mútua, expunha seu segredo mais sórdido: derrubava sua segunda máscara — a de cordeiro —, refletindo seu verdadeiro eu.
De fato, sempre fora um lobo, mas não como o que todos viam. Não era selvagem, ou bestial. Em vez disso, exibia um comportamento ardiloso, quase calculista. Tão eficaz que chegava a enganar a si mesmo.
Sua vítima percebera tarde demais.