Escrita.

Clara Dantas
2 min readApr 17, 2017

Sempre gostei de escrever.

Aos oito, minha criatividade me dominava. Eu escrevia de tudo. De poesias inocentes até contos de terror. Via a história em minha mente e a transportava para o papel. O lápis era minha ferramenta mágica.

Com onze, ganhei um violão. Passei a inventar não só letras, mas também melodias. Insisti por um tempo na ideia, mas nunca fui muito longe nesse caminho. Lamento por isso.

Na adolescência, as narrativas apresentadas por livros, filmes ou séries já não me satisfaziam. Então, passei a imaginar outros acontecimentos, encaixando-os em universos que já existiam. Entrei para o mundo das fanfics.

Com a popularização das redes sociais, outras oportunidades surgiram. Eu podia postar sobre qualquer assunto. De piadas a polêmicas. De desabafos pessoais a textos sobre política. O feedback — representado em forma de “curtidas” — era imediato.

Aos dezessete, eu era uma universitária dando os primeiros passos em direção à vida adulta. Nesse momento, eu percebi que precisava escrever. Não por diversão, nem porque a faculdade exigia. Mas por necessidade. A escrita deixou de ser um hobby para se tornar uma válvula de escape. Uma forma de lidar com a ansiedade. De autoconhecimento.

Ao longo do curso de Comunicação Social, fui me acostumando às normas científicas. Usei minha curiosidade para me tornar pesquisadora. Aí ficou nítido o quanto a academia nos poda. Somos instruídos a justificar, a defender a relevância de projetos. Não espalhamos ideias próprias. Em vez disso, nos baseamos em pensadores renomados. Tudo deve ser muito bem referenciado.

Sendo uma pessoa metódica, entendo a necessidade de padronização. De seguir modelos. De definir bem os objetivos. De escolher um método que combine com o propósito da pesquisa. De traçar um raciocínio lógico até as considerações finais. De ter meu trabalho avaliado com determinada nota. De verdade, eu entendo essa preocupação com a organização. Mas aquela criança que eu costumava ser, não.

Quantas vezes tive que moldar minha habilidade, condicionando-a ao que a vida acadêmica e profissional exige? Quantas vezes tentei escrever livremente e não consegui, porque nada ao meu redor de inspirava? Quantos capítulos permanecem inacabados? Quantos personagens ainda sem nome? Quando vou parar de pesquisar sobre coisas que outros fizeram? Quando será minha vez de fazer?

A improdutividade é o pior castigo para uma mente criativa.

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