Feliz Dia da Mulher? Pra quem?

Chocolate, flores, mensagem clichê. Todo ano a mesma coisa.

Clara Dantas
QG Feminista

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Homens se comportam de forma previsível no Dia da Mulher: enquanto uma parte desmerece a data, questionando o porquê dela ou fazendo piadas, outra tende a seguir o mesmo roteiro banal ao dar os parabéns, “homenageando” suas mães, esposas/namoradas, irmãs, filhas ou colegas de trabalho.

Aí é que está: não quero ser parabenizada por ter nascido mulher. O que eu quero é deixar de pertencer a uma classe oprimida, subjugada pela supremacia masculina.

Fazendo um resgate histórico, percebemos que o dia 08 de Março nada tem a ver com o glamour ou com a feminilidade típica das publicidades modernas. Em vez disso, esta data nos remete a lutas, greves e reivindicações feitas por mulheres que clamavam por melhores condições de trabalho.

Flora Tristan foi uma escritora e ativista francesa.

De fato, nós, mulheres, obtivemos certas conquistas (direitos civis e políticos, por exemplo); mas ainda temos muito pelo que batalhar. Nesse sentido, o Dia da Mulher deve ser visto menos como motivo de comemoração, e mais como um lembrete de que precisamos perseverar em nossa luta.

“O dia 8 de Março é importante pelo simples motivo de que a mulher ainda é oprimida. No dia em que formos realmente tratadas como iguais poderemos transformar o dia em uma comemoração, mas, por enquanto, ainda é um dia para abrir os olhos da galera que prefere não saber, por exemplo, que sete de cada dez mulheres serão agredidas ao longo da vida — este é um dado da ONU — e que essas mulheres não estão longe.”

(Clara Averbuck, em texto para Carta Capital, disponível aqui).

Sou uma feminista que trabalha com marketing. Vejo com frequência (e sempre tomo consciência disso) o capitalismo se apropriando de acontecimentos importantes para os movimentos sociais, a fim de gerar lucro. Promoções, descontos, sorteios… São inúmeras as estratégias de marketing (muitas vezes ofensivas) que surgem em meio ao real significado dessa e de outras datas.

Print retirado do site oficial da Saraiva, que todo ano, no Dia da Mulher, dá desconto às mulheres na compra de livros (menos daqueles com linguagem muito técnica/exata/científica, claro).

Infelizmente, algumas empresas ainda caem no clichê de, tanto no Dia da Mulher quanto no Dia das Mães, manter o foco especialmente em eletrodomésticos ou em quaisquer produtos que fortaleçam a noção patriarcal de que a mulher deve ser a dona-de-casa perfeita, que cozinha e limpa ao mesmo tempo em que cuida dos filhos e do marido (sem reclamar, de preferência!). São ações como essas que nos mostram o quanto o caminho a percorrer ainda é longo.

Continuamos ganhando menos que os homens; odiando nossos corpos graças à “ditadura da beleza”; sofrendo assédio sexual (muitas vezes na infância); sendo vítimas de violência doméstica; dentre outras inúmeras formas de opressão. Vale lembrar também que o feminicídio é uma realidade próxima e assustadora.

Ora, se um simples texto como este é capaz de incomodar, por ser uma “problematização desnecessária” ou “mimimi”, que tipo de liberdade é essa que tanto celebramos?

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