Perspectivas de uma ghost writer.

Ou de, como eu gosto de nomear, uma mercadora de palavras.

Clara Dantas
2 min readNov 20, 2017

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Este ano [2017], comecei a assistir o seriado BoJack Horseman, na Netflix. Logo de cara, me identifiquei com a personagem Diane Nguyen, uma ghost writer contratada para escrever a biografia do BoJack.

Confesso que este foi o meu primeiro contato com a estranha expressão — que nada tem a ver com fantasmas ou psicografia, só para constar. Pesquisando a respeito, descobri que ghost writer é alguém que vende seus textos, abrindo mão de todo o crédito autoral.

É provável que algumas pessoas achem esta uma concepção ofensiva; afinal, fazer uso de uma habilidade tão subjetiva e pessoal como a escrita para ganho financeiro não deve ser uma atitude bem vista, certo? Errado.

Percebi que, anos antes de estar familiarizada ao termo, eu já havia atuado como tal. Por exemplo, muitas pessoas tinham o hábito de me pedir para produzir postagens para suas páginas e/ou eventos no Facebook — pagando pouco ou literalmente nada por isso.

Acredito que o ofício de ghost writer é uma forma de valorizar não só o meu próprio conhecimento, mas também a escrita em geral, enquanto competência profissional. De fato, qualquer pessoa alfabetizada pode escrever; no entanto, não é todo mundo que se sente confiante em relação às normas ortográficas e gramaticais, às regras de concordância verbal, à estrutura responsável pelo desenvolvimento do texto, etc etc. Escrever (e revisar, claro) demanda tempo, atenção, paciência e prática.

E digo mais: produzir textos a fim de negociar com clientes não me torna menos escritora. Significa apenas que eu posso continuar insistindo em pautas de interesse pessoal, publicando normalmente, ao mesmo passo em que crio outros projetos, voltados para fins comerciais.

Inclusive, se alguém aí quiser me contratar, estou à disposição.

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